Cooperação chinesa para o desenvolvimento: o caso de moçambique

AutorTomé Fernando Bambo - Adriana Schor
CargoDoutor e Mestre em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo - Professora Associada do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo
Páginas159-185
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 159-185, jan./abr. 2022 | ISSN 2447-861X
COOPERAÇÃO CHINESA PARA O DESENVOLVIMENTO: O CASO DE
MOÇAMBIQUE
Chinese development cooperation: the case of Mozambique
Tomé Fernando Bambo
Universidade São Tomás de Moçambique, Moçambique
Adriana Schor
Universidade de São Paulo (USP), Brasil
Informações do artigo
Recebido em 14/04/2022
Aceito em 20/05/2022
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n255.p159-185
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Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
BAMBO, Tomé Fernando; SCHOR, Adriana. Cooperação
chinesa para o desenvolvimento: o caso de
Moçambique. Cadernos do CEAS: Revista Crítica de
Humanidades. Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 159-185,
jan./abr. 2022. DOI: https://doi.org/10.25247/2447-
861X.2022.n255.p159-185
Resumo
Este artigo discute a cooperação internacional para o
desenvolvimento da China em Moçambique nas primeiras duas
décadas do século XXI. No contexto desta orientação, a
literatura e os dados mostram não só a existência de um número
crescente de iniciativas chinesas em Moçambique na seara
agrícola, de infraestrutura, saúde e educação, mas a emergência
de um novo padrão de cooperação. A cooperação chinesa se
consubstancia numa agenda borrada entre projetos de
cooperação para o desenvolvimento e investimentos, fato que
abre espaço para crítica.
Palavras-Chave: China. Moçambique. Investimentos. Projetos.
Cooperação para o desenvolvimento.
Abstract
This paper discusses China's international development
cooperation in Mozambique over the first two decades of the
21st century. The collection in the literature and primary data
shows not only the existence of a growing number of Chinese
initiatives in Mozambique in the areas of agriculture,
infrastructure, health, and education, but also the emergence of
a new pattern of cooperation. Chinese cooperation takes the
form of a blurred agenda between development cooperation
projects and investments.
Keywords: China. Mozambique. Investments. Projects.
Development cooperation.
INTRODUÇÃO
As duas primeiras décadas do século XXI (2000-2020) serão, indubitavelmente,
marcadas na história das Relações Internacionais e da Economia Política Internacional como
período de grandes mudanças no sistema internacional, particularmente na esfera de
Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (CID) enquanto campo idealizado no
decurso da Guerra Fria para promover o progresso econômico e social entre nações. China,
ao lado de Brasil, Índia, Arábia Saudita, Turquia e África do Sul, beneficiando-se das reformas
políticas e econômicas internas, do crescimento econômico, da sua experiência de
desenvolvimento como recept or de ajuda no passado recente e da melhoria dos seus
programas de cooperação, procurou alterar o status quo da CID desenhada no período bipolar
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 159-185, jan./abr. 2022.
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Cooperação chinesa para o desenvolvimento: o caso de Moçambique | Tomé Fernando Bambo e Adriana Schor
do sistema internacional. Também tiveram papel importante, a conjuntura externa favorável
decorrente do vazio deixado na África pelas grandes potências mundiais no pós-Guerr a Fria,
a perturbação do sistema internacional em consequênc ia do atentado de 11 de setembro de
2001 aos Estados Unidos e a estab ilidade macroeconômica mundial até a crise financeira de
2008.
China e demais países passam a se apresentar frente a outros países em
desenvolvimento, dentre os quais os africanos, como parceiros com modalidades distintas da
cooperação Norte-Sul (CNS), propondo possíveis soluções para os problemas de pobreza,
saúde, educação, infraestrutura, deficiência institucional, dívida externa, deterioração dos
termos de troca no comércio internacional, baixo índice de investimento externo direto (IDE)
e de carência alimentar, que há anos o ocidente falhou em dar resposta através da tradicional
cooperação Norte-Sul (STOLTE, 2015; ALDEN, 2013; ABDENUR; FONSECA, 2013).
Nota-se, nesse novo período, um aumento expressivo de número de missões
diplomáticas chinesas na África, maior intercâmbio de visitas oficiais da China para África e
vice-versa. Também incrementam o volume de comércio, de IDE e de projetos de cooperação
para o desenvolvimento. Para simbolizar “ a nova era de cooperação” com a África, são
arquitetados novos arranjos diplomáticos, alguns dos quais válidos até hoje, como é o caso
do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) e o Fórum de Macau (HON et al., 2010).
Moçambique despontou no novo século com uma imagem contraditória. Por um lado,
pode ser caracterizado por baixo perfil nos indicadores socioeconômicos, altas taxas de
pobreza, altos níveis de mortalidade infantil, elevados índices de prevalência do HIV-AIDS,
altos índices de analfabetismo, fortemente dependente da ajuda externa e assolado pela
crise da dívida. Por outro lado, Moçambique viveu um período de crescimento econômico
acelerado e passou a ocupar lugar de fornecedor global de matérias-primas. O país se tornou
um dos destinos preferenciais da China na busca por parcerias para novas oportunidades e
influência na África (CUNGUARA; HANLON, 2010; HOFMANN, 2015).
Em concomitância, o engajamento da China em Moçambique ganha receptividade no
meio acadêmico, causando entusiasmos e debates que giram em torno de dois eixos
antagônicos. Um primeiro eixo, constituído por uma literatura cética, acusa a China, assim
como outros países do Sul Global, de serem “novos colonizadores” ou imperialistas
(HOFMANN, 2015). No entender dessa literatura, a China estaria em M oçambique apenas
para minar o progresso do país por meio de grilagem da terra, baseada em programas de

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