Cooperativismo nos debates e práticas socialistas: as utopias encontram o socialismo científico?

AutorAntonio Julio De Menezes Neto
CargoAntonio Julio de Menezes Neto é sociólogo, mestre em Extensão Rural, doutor em Educação, pós-doutorando no Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Do mesmo Autor, ver 'A visão política de alunos...
Páginas35-46
COOPERATIVISMO NOS DEBATES E PRÁTICAS SOCIALISTAS:
AS UTOPIAS ENCONTRAM O SOCIALISMO CIENTÍFICO?
ANTONIO JULIO DE MENEZES NETO *
1. INTRODUÇÃO
“O capital pressupõe o trabalho assalariado e o
trabalho assalariado pressupõe o capital” (Karl Marx)
O trabalho humano é uma relação social que vai muito além do emprego ou da
ocupação, envolvendo as dimensões educativas, culturais, sociais, políticas
econômicas e artísticas. Mas, como o capitalismo tudo transforma em
mercadoria, o próprio trabalho humano adquire um formato negativo de
exploração e alienação, pois se converte em mercadoria produtora de
mais-valia. Ao longo da nossa história social, conhecemos uma alocação de
forma diferenciada entre o saber e o poder, o fazer e o pensar, a teoria e a
prática, a produção social e a educação. O trabalho, como a relação
fundamental entre o ser humano e a natureza, identifica-se com a essência
humana, pois o ser humano diferencia-se dos animais por produzir
conscientemente seus meios de vida.
Desde o início da modernidade capitalista cada operação do trabalho tornou-se
mais e mais subdividida, formando e deformando um trabalhador fragmentado.
Os conhecimentos dos diversos trabalhadores foram transferidos e controlados
pelo capital e o trabalhador passou a executar tarefas exigidas pela gerência,
enfatizando a submissão do trabalhador. No entanto, os trabalhadores sempre
buscaram alternativas para sua emancipação social. E as diversas
experiências de cooperativismo que procuraram romper com a clássica divisão
social do trabalho aparecem nos movimentos de trabalhadores e nos
movimentos sociais das classes populares. Neste sentido, este artigo busca
apresentar os debates teóricos socialistas acerca da possibilidade de
superação da divisão capitalista do trabalho pelo cooperativismo
emancipatório, considerando que nos últimos 150 anos a opção cooperativista
esteve presente tanto na gestão do capital como nas alternativas socialistas.
A opção cooperativista habitou programas partidários conservadores e
revolucionários. Na prática, existe o cooperativismo de produção, de consumo
e de crédito. As cooperativas de produção indicam uma produção em comum,
sendo menos presente nas relações sociais de produção capitalistas, e as
cooperativas de comercialização, mais difundidas, seriam decorrentes desta.
Isto porque as cooperativas de comercialização não colocam em questão a
propriedade privada, ao passo que as cooperativas de produção podem
assumir-se como uma alternativa ao sistema assalariado e patronal.
Assim, o cooperativismo é usado para definir diferentes projetos sociais,
políticos e econômicos. Aparece como a possibilidade de ser a “Terceira Via
dos políticos reformistas e incrementar a produção capitalista. Ou, por outro
lado, como uma das possibilidades do autogoverno dos trabalhadores, dentro

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