Sobre corpo, reflexidade e poder: um diálogo entre Anthony Giddens e Michel Foucault

AutorIvan Marcelo Gomes, Felipe Quintão de Almeida, Alexandre Fernandez Vaz
CargoDoutor em Ciências Humanas pela UFSC; professor da UNIOESTE, campus Cascavel - Doutorando em Educação na Universidade Federal de Santa Catarina - Doutor pela Universidade de Hannover
Páginas299-320
Artigo
Sobre corpo, reflexidade e poder:
um diálogo entre Anthony Giddens e
Michel Foucault*
Ivan Marcelo Gomes**
Felipe Quintão de Almeida***
Alexandre Fernandez Vaz****
Resumo
Este artigo trata das críticas do sociólogo inglês Anthony Giddens ao
filósofo francês Michel Foucault. Vamos discutir se as críticas de Giddens
são adequadas tendo em vista as reordenações operadas por Foucault
ao longo de sua obra, especialmente em seus escritos mais tardios. Para
atingir esse objetivo, assumimos como eixo norteador da reflexão a (in)
capacidade da ação individual em relação aos processos (des)subjetivos
que tiveram na sociedade moderna seu acontecimento, tomando as noções
de sujeito, poder e, por meio deles, a posição que o corpo ocupa nesses
discursos. Concluímos com a análise de algumas afinidades eletivas entre
a perspectiva teórica de ambos, malgrado as nuanças epistemológicas e
políticas existentes entre elas.
Palavras-chave: sujeito, corpo, poder, política.
* O texto é resultado parcial do projeto Teoria Crítica, Racionalidades e Educação
II, financiado pelo CNPq (bolsas de produtividade em pesquisa, apoio técnico,
iniciação científica, mestrado e doutorado; apoio pesquisa).
** Doutor em Ciências Humanas p ela UFSC; professor da UNIOESTE, campus
Cascavel; membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade
Contemporânea (CED/UFSC/CNPq) e do Grupo de Pesquisas em Educ ação,
Cultura, Linguagem e Arte (UNIOESTE).
*** Doutorando em Educação na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista
CNPq; membro do Laboratório de Estudos em Educação Física (CEFD/UFES) e
do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea (CED/
UFSC/CNPq). Endereço eletrônico: fqalmeida@hotmail.com.
**** Doutor pela Universidade de Hannover; professor dos Programas de Pós-Gradu-
ação em Educação, Interdisciplinar em Ciências Humanas e em Educação Física
da Universidade Federal de Santa Catarina; coordenador do Núcleo de Estudos
e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea; pesquisador CNPq.
300 p. 299 – 319
Volume 8 – Nº 15 – outubro de 2009
1. Introdução
O
sujeito, suas condições de possibilidade, bem como sua dig-
nidade e seu lugar social na história, constitui uma temática
privilegiada nos debates das Humanidades. Não é para menos, uma
vez que a condição de ser sujeito (da história, à história) domina
parte do debate intelectual desde que a Modernidade é um tempo
que pensa a si mesmo como transitoriedade, como experiência limí-
trofe entre o eterno e o efêmero, como um tempo que é capaz de
falar de si mesmo desde um ponto de vista histórico. Nesse quadro,
a interpretação sobre a experiência moderna ganha peso na teoria
social contemporânea, seja como afirmação de suas possibilidades
como projeto inacabado, ou como crítica que conduz à observação
de que estaria esse tempo em seus estertores.
Não é diferente em autores como Antony Giddens e Michel
Foucault, que desde distintas tradições se ocuparam do tema,
tomando justamente o sujeito como ponto de afirmação e in-
terrogação dessa experiência. Ao ocuparem-se de temáticas que
foram comuns, autorizam que se faça algum tipo de cotejamento
entre suas assertivas, em especial porque, como será visto logo
adiante, o primeiro ocupou-se de criticar o segundo. É aí que se
insere o presente trabalho, cujo objetivo é examinar aspectos
da crítica de Giddens a Foucault, em especial no que se refere às
noções de sujeito e poder e, por meio deles, a posição que o cor-
po ocupa nesses discursos. Para tanto, apresentamos o percurso
que, segundo Giddens, vai da disciplina aos seus impasses, para
logo após, ao encontrarmos o tema do sujeito, verificar como
este aparece no aparato foucaultiano. Obser vamos, assim, como
a reflexividade, categoria central na obra de Giddens, pode ou
não alcançar as lacunas que este supõe haverem sido legadas
por Foucault para uma teoria positiva da modernidade e de uma
de suas expressões mais próprias, a liberdade. Reservamos as
considerações finais para a análise de algumas afinidades eleti-
vas entre a perspectiva teórica de ambos, malgrado as nuanças
epistemológicas e políticas existentes entre elas.

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