Crise do capital: a contemporaneidade brasileira nos percursos do ajuste dependente ao capitalismo financeirizado

AutorAlba Maria Pinho de Carvalho, Carlos Américo Leite Moreira, Eliana Costa Guerra, Leila Maria Passos de Souza Bezerra
Cargo- / Doutor em Economia pela Universidade de Paris XIII. Professor Titular do Departamento de Teoria Econômica e do Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará. E-mail: americo@ufc.br / Doutora em Sociologia (Universidade de Paris 8). Professora do Departamento de Saúde Coletiva (DSC) e do Programa de Pós-Graduaç...
Páginas296-314
CRISE DO CAPITAL: a contemporaneidade brasileira nos percursos do ajuste dependente ao
capitalismo financeirizado
Alba Maria Pinho de Carvalho
1
Carlos Américo Leite Moreira
2
Eliana Costa Guerra
3
Leila Maria Passos de Souza Bezerra
4
Resumo
Este artigo discute o capitalismo do século XXI, tomando por referência a crise estr utural do capital, suas configur ações
específicas no Brasil e de sdobramentos no mundo do trabalho. Inicia com reflexões sobre a crise estrutural do capital, para
adentrar nas especificidades da inserção dependente e subordina da do Brasil no capitalismo sob o domínio das finanças,
via modelo de ajuste rentista neoextrativista, a partir de 1990. Estabelece configurações do mundo do trabalho sob a égide
da crise, com foco na superexploração do trabalho, em meio a políticas ultraliberais. Enfatiza o momento-limite vivido pela
sociedade brasileira, nos seis últimos anos (2016-2022), na confluência do bolsonarismo e pandemia da covid19. Assume a
perspectiva de que a História do Brasil contemp orâneo está em aberto, com diferentes possibilidades de desfecho,
apostando na capacidade política das resistências.
Palavras-chave: crise estrutural; contemporaneidade brasileira; dependência; superexploração do trabalho.
CAPITAL CRISIS: Brazilian contemporaneity in the paths of dependent adjustment to financialized capitalism
Abstract
This article discusses 21st century capitalism, taking as a reference the structural crisis of capital, its specific configurations
in Brazil and developments in the world of work. It begins with reflections on the structural crisis of capital, to delve into the
specificities of Brazil's dependent and subordinated insertion in capitalism under the dominion of finance, via a neo -
extractivist rentier adjustment model, from 1990 onwards. It establishes configurations of the world of work under the aegis of
the crisis, with a focus on the super-exploitation of work, amidst ultra-liberal policies. It emphasizes the limit mom ent
experienced by Brazilian society, in the last six years (2016-2022), at the confluence of bolsonarismo and the covid19
pandemic. It assumes the perspective that the History of contempor ary Brazil is open, with different possibilities of outcome,
betting on the political capacity of the resistances.
Keywords: structural crisis; brazilian contemporaneity; dependence; over exploitation of work.
Artigo recebido em: 14/02/2022 Aprovado em: 21/06/2022
1
Assistente social. Douto rado em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará UFC. Mestrado em Serviço Social pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC. Univer sidade Federal do Ceará. Doutora em Sociologia. E -mail:
albapcarvalho@gmail.com.
2
Doutor em Economia pela Universidade de Paris XIII. Professor Titular do Departamento de Teoria Econômica e do
Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará. E-m ail: americo@ufc.br.
3
Doutora em Sociologia (Universidade de Paris 8). Professora do Departamento de Saúde Coletiva (DSC) e do Programa
de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSCol) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Mestrado
em Avaliação de Políticas Públicas (MAPP) da Universidade Federal do Ceará (UFC). E-
mail: elianacostaguerra@gmail.com.
4
Doutora em Sociologia (Universidade Feder al do Ceará - UFC). Professora do Curso de Serviço Social, do Programa de
Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Estadual
do Ceará (UECE). E-mail: leila.passos@uece.br.
Alba Maria Pinho de Carvalho, Carlos Américo Leite Moreira, Eliana Costa Guerra e Leila Maria Passos de Souza Bezerra
297
1 INTRODUÇÃO
O presente texto consubstancia um esforço analítico para discutir o capitalismo no Brasil
do século XXI. Para tanto, toma como referência central a crise estrutural do capital e suas
configurações específicas no cenário brasileiro, enfocando seus desdobramentos no mundo do
trabalho, em particular, as expressões da superexploração. Neste contexto, analisa as reconfigurações
do Estado brasileiro contemporâneo, nos diferentes ciclos de ajuste ao capitalismo financeirizado,
privilegiando o modelo rentista neoextrativista, em suas expressões peculiares no país, em meio à
regressão de direitos e ao crescimento do autoritarismo, a partir de 2016.
O desafio maior consistiu em articular, em um texto único, abordagens distintas
apresentadas na mesa coordenada temática da X JOINPP, a garantia, a coerência interna na dinâmica
expositiva. Ademais, o texto esboça avanços analíticos de pesquisa, em curso, sobre a crise capitalista
na contemporaneidade e suas manifestações no Brasil do século XXI.
2 APONTAMENTOS PARA PENSAR A CRISE DO CAPITAL: vias para circunscrever as
especificidades brasileiras
Desde a primeira década do século XXI, marcada pela crise financeira global, de 2007-
2008, Istvan Meszaros (2009, 2015) proclama que a crise do capital é estrutural. Posteriormente, ao
longo de suas reflexões, o autor reafirma esta tese. Em publicação póstuma, “Para além do Leviatã:
crítica do Estado”, Meszaros afirma peremptoriamente que se está diante de uma “crise estrutural cada
vez mais profunda do capital”, que não encontra saídas no âmbito do próprio capitalismo, a exigir
mudança estrutural para além da ordem capitalista e de seu sistema sociometabólico (MESZAROS,
2021).
Em análise de 2017, François Chesnais adentra nos elementos constitutivos da crise,
afirmando que a crise econômica do nosso tempo é uma crise de superprodução e de sobre
acumulação, agravada pela queda da taxa de lucros.
Ademais, o autor pontua que a crise resulta de um problema de realização, uma vez que
as condições macroeconômicas, que determinam a correlação de forças entre o capital e o trabalho,
impedem a realização da totalidade da mais -valia produzida em escala mundial. Em sua avaliação,
Chesnais (2017a) destaca que esta crise já estava em gestação desde a segunda metade dos anos
1990, porém seu aprofundamento foi adiado em função da forte expansão do crédito e da plena
incorporação da China à economia mundial.

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