Cuidado informal de pessoas velhas: o gênero feminino nesta provisão e nas políticas públicas

AutorMarly de Jesus Sá Dias, Jacira do Nascimento Serra, Luísa Maria Desmet
CargoGraduação em Serviço Social pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Pós-doutorado pelo Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais-CEMRI/UAB com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão /FAPEMA. Doutora em Políticas Públicas pelo Programa de Pós- Graduaç...
Páginas335-354
CUIDADO INFORMAL DE PESSOAS VELHAS: o gênero feminino nesta provisão e nas políticas
públicas
Marly de Jesus Sá Dias
1
Jacira do Nascimento Serra
2
Luísa Maria Desmet
3
Resumo
O artigo tece considerações sobre o cuidado informal prestado a pessoas velhas com dependências na atenção domiciliar
realizado por mulheres. Ancorado em aportes teóricos e documentais, discute o envelhecimento populacional no mundo e a
importância do cuidado informal com o objetivo de apreender os elementos que contribuem para ratificar a determinação do
gênero feminino para o exercício de cuidadora no Brasil e, exemplos de políticas públicas dirigidas a cuidadores informais,
como as de Portugal. Conclui que, não por acaso, o público femin ino aí se destaca, dada sua íntima relação com os papéis
sociais que imputam às mulheres a responsabilidade com ações de cu idados da casa e seus integrantes, ou seja, o cuidado
essencial à existência humana, complexificado com a rápida evolução demográfica, variação de depen dência demandadas
por pessoas velhas, mas, que segue ignorado e desvalorizado na maior parte do mundo.
Palavras-chave: Envelhecimento; cuidado; mulheres; políticas públicas.
INFORMAL CARE OF OLD PEOPLE: the place of the female gender in this provision and in public polic ies
Abstract
Considerations on informal care provided to elderly people with dependencies in home care performed by women. Anchored
in theoretical and documentary contributions, it discusses the aging population in the world and the importance of informal
care with the objective of apprehending the elements that contribute to ratify the determination of the female gender for the
exercise of caregiver in Brazil and, examples of public policies aimed at informal caregivers, such as those in Portugal. It is
concluded that, not by chance, the female audience stands out there, given their close relationship with the social roles that
attribute to women the responsibility for taking care of the ho me and its member s. Essential care for human existence,
compounded by the rapid demographic evolution, variation of depende ncy demanded by old people, but which remains
ignored and undervalued in most parts of the world.
Keywords: Aging; caution; women; public policy.
Artigo recebido em: 14/02/2022 Aprovado em: 29/04/2022
1
Graduação em Serviço Social pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Pós-doutorado pelo Centro de Estudos
das Migrações e das Relações InterculturaisCEMRI/UAB com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão /FAPEMA. Doutora em Políticas Públicas pelo Programa de Pós-
Graduação em Políticas Públicas da UFMA. Mestre em Educação pela UFMA. Professora Associada da Universidade
Federal do Maranhão. E-mail: marly.dias@ufma.br.
2
Graduação em Medicina pela Universidade do Rio de Janeiro UNIRIO. Pós-Grad uação em Geriatria e Gerontologia pela
PUC/RS. Mestre e Doutora em Políticas Públicas pelo Programa de Pós-Graduação em Polít icas Públicas da UFMA
Professora Adjunta da Universidade Federal do Maranhão. E-mail: jacira.serra@ufma.br.
3
Graduação e, Serviço Social pelo Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa. Mestre em Relações Interculturais pela.
Universidade Aberta. Professora da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. E-mail:
luisadesmet@gmail.com.
Marly de Jesus Sá Dias, Jacira do Nascimento Serra e Luísa Maria Desmet
336
1 INTRODUÇÃO
Durante muitos séculos, a população mundial aumentou muito lentamente. Porém, após a
Segunda Guerra Mundial, registrou-se um exponencial aumento populacional. Consoante Osório (2007,
p.11):
Uma das transformações sociais mais importantes que ocorreram nos últimos 50 anos está
relacionada com o aumento demográfico das pessoas de idade. Assistimos, portanto, ao
fenómeno crescente e novo do envelhecimento da população em todas as sociedades
economicamente desenvolvidas. Este acontecimento converteu os chamados idosos num
grupo social que atrai o interesse individual e coletivo de forma crescente, devido às suas
implicações a nível familiar, social, econômico, político, etc.
Para a Organização das Nações Unidas (ONU), o número de idosos, com 60 anos ou
mais, duplicará até 2050, e mais do que triplicará até 2100, passando de 962 milhões em 2017 para 2,1
bilhões em 2050 e 3,1 bilhões em 2100. Desse modo, até 2050 todas as regiões do mundo, exceto a
África, terão quase um quarto ou mais das respetivas populações com mais de 60 anos. Ou seja: nas
próximas décadas, muitos países irão enfrentar severos desafios, ao lado de pressões fiscais e
políticas na esfera dos sistemas públicos de saúde, providência e proteção social para a população
com a faixa etária mais avançada (ONU NEWS, 2022).
Outro dado relevante refere-se à população “muito idosa”, posto que é a que tem
apresentado as maiores taxas de crescimento. Nos últimos dez anos, o segmento populaciona l das
pessoas acima de 100 anos passou de 14 mil para 17 mil, o que leva a uma maior heterogeneidade do
grupo de pessoas idosas (IBGE 2010).
Essa conjugação de fatos, fez com que no século XXI emergissem com mais vigor os
debates e ações com vistas ao reconhecimento do papel social das pessoas velhas como cidadãos e
cidadãs detentores(as) de direitos. Circunstância que favorece o alargamento do entendimento de que
essa etapa da vida não é resultante apenas do processo fisiológico meramente natural. Continuum que
se inicia com a concepção e se encerra com a morte, mas que decorre de um processo
multidimensional, heterogêneo, dinâmico, progressivo, que pode ser constituído por um contingente de
velhos (as) saudáveis, detentores de infraestrutura econômica, familiar e boa habilidade funcional, bem
como por pessoas frágeis, com vários graus de deficiências, dependências e incapacidades, situação
financeira e familiar precárias.
Trata-se de envelhecimentos, pois nem todos envelhecem nas mesmas condições em
termos de dignidade, saúde, autonomia, independência, segurança e contextos, o que faz com que
políticas públicas de longo prazo (de saúde, assistência social, previdenciária, dentre outras), sejam
ampliadas e efetivadas, de modo a atender às demandas, não apenas desse público, mas do que dele
cuida, geralmente as mulheres.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT