Das crises à biosfera: em busca de uma sensibilidade epistêmica

AutorLarissa Leda F. Rocha, Patrícia Azambuja, Ramon Bezerra Costa
CargoProfessora do Departamento de Comunicação Social e da Pós-Graduação em Artes Cênicas (UFMA). Doutora em Comunicação (PUC-RS). Pós-doutora no Centro de Estudos de Telenovela (ECA/USP). Coordenadora do Observatório de Experiências Expandidas em Comunicação (ObECC/CNPq/UFMA) e do Grupo de Pesquisa de Ficção Televisiva Seriada (Intercom). Editora...
Páginas355-374
DAS CRISES À BIOSFERA: em busca de uma sensibilidade epistêmica
Larissa Leda F. Rocha
1
Patrícia Azambuja
2
Ramon Bezerra Costa
3
Resumo
Este trabalho reflete sobre limitações cognitivas e sensíveis para lidar com nossas experiênc ias atuais ao nos apoiarmos em
valores morais canônicos e desconectados das circunstância s de vida coletiva. Ficções úteis preenchem as lacunas e
justificam alternativas escolhidas como substitutas para nossos medos. Curiosamente, também aponta uma sedução
culposa pelo horror, pelo monstruoso, ao lançarmos os olhos à história das sensibilidades do ver. Refletir sobre essas
mudanças sensíveis e a forma como são articuladas pelo sistema midiático talvez ofereça soluções para crises causadas
pelas instabilidades de um tempo confuso. Busca saídas epistê micas para lidar com estes cenários e aponta a ecosofia
como uma trilha para imaginarmos outra narrativa capaz de reor ientar nossos relacionamentos conosco, com os outros e
com os ecossistemas do entorno, a biosfera. Este trabalho realiza, ainda, uma reflexão teórica apoiada em pesquisa
bibliográfica e observação empírica.
Palavras-chave: Epistemologia; crise; sensibilidade.
FROM CRISES TO BIOSPHERE: in search of an epistemic sensitivity
Abstract
This work reflects on cognitive and sensitive limitations to deal with our current experiences by relying on canonical moral
values disconnected fr om collective life circumstances. Useful fictions fill in the gaps and justify alternatives chosen as
substitutes for our fears. Curiously, we also point to a guilty seduction by the horror, by the monstrous, as we cast our eye s
to the history of the sensibilities of seeing. Reflecting on these sensitive changes and the way they are articulated by the
media system may off er solutions to crises caused by the instabilities of a confused time. We seek epistemic outlets to deal
with these scenarios and point to ecosophy as a path to imagine another narrative capable of reorienting our relationships
with ourselves, with others and with the surrounding ecosystems, the biosphere. This work carries out a theoretical reflection
supported by bibliographic research and empirical observation.
Keywords: Epistemology;crisis; sensitivity.
Artigo recebido em: 14/02/2022 Aprovado em: 24/05/2022
1
Professora do Departamento de Comunicação Social e da Pó s-Graduação em Artes Cênica s (UFMA). Doutora em
Comunicação (PUC-RS). Pós-doutora no Centro de Estudos de Telenovela (ECA/ USP). Coordenadora do Observatório de
Experiências Expandidas em Comunicação (ObECC/CNPq/UFMA) e do Grupo de Pesquisa de Ficção T elevisiva Seriada
(Intercom). Editora da revista Cambiassu (UFMA). E-mail: larissa.leda@ufma.br .
2
Professora Associada do DCS-UFMA. Doutora em Psicologia Social pela UERJ, mestre em Artes Visuais pela UNESP e
pesquisadora vinculada ao Obse rvatório de Experiências Expandidas em Comunicação - ObEEC/ UFMA. Coordenadora do
projeto de pesquisa [Gênero] Audiovisual Distribuído: políticas do ver, do imaginar e regime híbrido de imagens. E-mail:
patricia.azambuja@ufma.br.
3
Professor do Departamento e do Programa de Pós-Gr aduação (Mestrado Profissional), ambos em Comunicação, da
UFMA. Doutor em Comunicação pela UERJ. Coordenador do Grupo de Pesquisa ETC (Comunicação, Tecnologia e
Economia), financiado pela FAPEMA. E-mail: ramon.bezerra@ufma.br
Larissa Leda F. Rocha, Patrícia Azambuja e Ramon Bezerra Costa
356
1 INTRODUÇÃO
Um ambiente de instabilidade particulariza nossa existência contemporânea: mutações
ambientais, precarização do trabalho, imagens de horror, desregulamentações, perda de direitos,
escassez de recursos, desgastes institucionais. São desafios agudos em diversas áreas. Experimentar
crises não é novidade na experiência humana, assim como não é inédita a forma como reagimos aos
conflitos. A desesperança e o imaginário alimentados pelo caos, pela violência e pela intolerância
passam a justificar escolhas destrutivas e a construção de muros, físicos e simbólicos.
Diante disso, este artigo busca refletir sobre nossas próprias limitações cognitivas e
sensíveis para lidar com as experiências humanas atuais, quando abrimos mão da imaginação criativa
em troca de valores morais canônicos, inflexíveis e desconectados das circunstâncias de vida coletiva.
Ficções úteis preenchem as lacunas, esclarecem as dúvidas, e justificam as incoerências que
definimos como alternativas para os nossos próprios medos. Curiosamente, também observa-se ao
longo da história das sensibilidades e dos modos de ver certa sedução pelo horror, pelo grotesco e
pela dor. Refletir sobre essas mudanças sensíveis e a forma como são articuladas pelo sistema
midiático talvez possa oferecer soluções para as crises internas e externas causadas pelas
instabilidades de um tempo confuso. Buscamos saídas epistêmicas para lidar com cenários adversos
e apontamos a ecosofia como uma trilha para imaginarmos outra narrativa capaz de reorientar os
modos de nos relacionarmos conosco, com os outros e com os ecossistemas do entorno, ou seja, a
biosfera. É urgente redefinir a ideia de coletividade e nossas articulações ético-políticas.
2 IMAGINÁRIO DO CAOS: o medo e a desesperança como estratégias
A falta de esperança e o pessimismo tomam posse da imaginação sobre a
contemporaneidade. Em que ponto surge a pergunta: por que algumas imagens que reforçam a
violência, o rancor, a construção de muros, a intolerância e o caos passam a povoar nossas mentes e
nossas almas? Alguns autores do campo da filosofia, das teorias do imaginário e até mesmo ligados
às estratégias militares propõem reflexões para compreensão de nossas próprias limitações cognitivas
ao lidarmos com as experiências humanas atuais; onde se encontram aspectos relacionados à
ficcionalização da vida e ao afeto, ou seja, ferramentas mediadoras de nossas escolhas diárias.
Curiosamente, a desesperança parece saltar das histórias de ficção para nossas experiências mais
reais. O horror em múltiplas dimensões. A ideia que Deus simplesmente não existe ou, ao contrário, é
o único capaz de salvar o planeta de nossas próprias degradações, sugere quimeras - combinações
que de tão heterogêneas mais parecem produtos absurdos da fantasia -, sem a possibilidade de

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