O debate sobre meio ambiente no jornal Folha de São Paulo entre 1992 e 2008

AutorEmerson Urizzi Cervi - Michele Goulart Massuchin
CargoProfessor do Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR ? Curitiba) e coordenador do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Atores Sociais (UEPG/UFPR - Mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (U...
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Resumo
O tema “meio ambiente” entrou no debate público a partir do momento
em que os problemas causados pelas ações do homem na natureza
passaram a ser objeto de eventos e conferências. É quando surgem
movimentos ambientalistas com o objetivo de defender a causa. Com
isso, o assunto também passou a ser recorrente na mídia, principalmente
a partir do final do século XX, e ser de interesse público na medida em
que se percebeu sua importância na sociedade. Este artigo tem como
objetivo analisar de que forma o assunto meio ambiente é abordado pelo
jornal Folha de São Paulo entre 1992 e 2008, na tentativa de observar a
posição da mídia no debate público a respeito do tema.
Palavras-chave: debate público, meio ambiente, Folha de São Paulo.
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Não é de hoje que se questiona qual é, de fato, o papel da mídia
na sociedade. Aruguete (2005) afirma que grande parte das
relações dos cidadãos com o mundo é por meio da mídia. Além de
que os meios de comunicação possibilitam a criação de uma ima-
* Professor do Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Ponta Grossa
(UEPG), professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do
Paraná (UFPR – Curitiba) e coordenador do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política
e Atores Sociais (UEPG/UFPR). Endereço eletrônico: eucervi@ufpr.br.
** Mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR – Curitiba),
membro do Grupo de Pesquisa em Comunicação e Política da UFPR e bolsista do
Programa REUNI. Endereço eletrônico: mimassuchin@hotmail.com.
DOI:10.5007/2175-7984.2011v10n19p239
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gem a respeito daquilo que publicam por parte dos leitores, ouvin-
tes e telespectadores. Neste artigo pretende-se mostrar, a partir
de alguns autores, como a mídia pode ser importante no debate
público. Desde os estudos de McCombs e Shaw, na década de 70, o
papel dos meios de comunicação na sociedade tem sido discutido
em diversas ocasiões na tentativa de entender como a mídia pode
influenciar as discussões na sociedade. Partimos do princípio de
que o meio ambiente é um tema de interesse público e alcançou
esse espaço na medida em que a mídia, a partir das últimas dé-
cadas do século XX passou a dar mais visibilidade para o assunto
(SCHMIDT, 2005). Como defenderam os dois autores, McCombs
e Shaw, ainda em 1971, a mídia pode não ter o poder de dizer o
que pensar, mas é bem sucedida em dizer sobre o que pensar. É a
partir do agendamento de temas em coberturas especiais, como
as de eleições, por exemplo, que o público escolherá os assuntos
que vai debater (McCOMBS & SHAW, 1972). No entanto, é preciso
considerar que os estudos originais dos autores referiam-se a co-
berturas de temas especiais e não ao agendamento cotidiano. E os
autores continuaram nessa mesma linha de estudos, quando nas
eleições presidenciais de 1996 nos Estados Unidos constataram
que o agendamento conseguia influenciar nas atitudes dos eleito-
res em relação aos candidatos (KIOUSIS & McCOMBS, 2004). Além
disso, Aruguete (2005) propõe a idéia de que os meios de comu-
nicação possuem o poder de filtrar, midiatizar e enfatizar aquilo
que acham importante e também de não dar visibilidade a outros
assuntos. A mesma idéia exposta por Habermas (2006) quando fala
da mídia como um dos poderes da esfera pública.
O fato do meio ambiente estar presente ou não na mídia
significa que passa por esse processo de escolha realizada pelos
jornalistas. E na medida em que o tema começou a ganhar espaço
nos meios de comunicação no final do século XX, tornou-se as-
sunto importante de debate na sociedade. Obviamente, a mídia
também é pautada sobre o que divulgar, escrever e colocar nas
páginas de um jornal, por exemplo, pois recebe as informações de
grupos de pessoas, os quais também tem interesses na divulgação
de determinados assuntos. Porém, ressalta-se que numa espécie
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do jogo de poderes, entre os jornalistas e esses grupos de inte-
resse (políticos, assessorias, empresas, ONGs etc.) é que surgem
os assuntos a serem abordados pelo jornal, com objetivo de al-
cançarem um número maior de pessoas. Isso significa que a mí-
dia faz um papel de mediadora entre esses pequenos grupos e a
sociedade para a divulgação das informações, ou seja, é por meio
dela que os assuntos, antes restritos a um pequeno grupo, passam
a ganhar espaço na sociedade, nos cafés, nas rodas de conversa,
entre outros locais.
É o caso do meio ambiente, que antes dos meios de comu-
nicação fazerem o papel de mediadores e divulgadores dos assun-
tos relacionados a esse tema, era restrito a pequenos grupos. Na
medida em que esses grupos conseguem dar visibilidade ao tema
nos veículos de comunicação, ele passa a ser assunto de interesse
público e debate na sociedade. Assim como política, economia,
saúde e educação, o tema meio ambiente também passou a ganhar
mais destaque na mídia a partir de um determinado momento,
que como colocam Tosi e Villar (2001), pode ser considerado o
ano de 1992, devido a realização da Eco-92, no Brasil. Os eventos
também são responsáveis em aumentar o agendamento dos meios
de comunicação, pois fazem parte da cobertura midiática e contri-
buem para aumentar a visibilidade e consequentemente o debate
na sociedade. O texto pretende mostrar como o meio ambiente
apareceu no jornal Folha de São Paulo a partir de 1992 até 2008, na
tentativa de apresentar a sua evolução durante o período, partin-
do do princípio que essa visibilidade que o tema recebe na mídia,
reflete no debate que vai gerar na sociedade, já que é pelos meios
de comunicação que a sociedade recebe grande parte das informa-
ções que consome no dia-a-dia (ARUGUETE, 2005).
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Para que um assunto seja considerado apto para tornar-se
notícia ele precisa conter algumas características, definida na li-
teratura em jornalismo por valores-notícias. Seriam esses valores-

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