Decoupling e integração entre os mercados acionários dos Brics

AutorAnderson de Souza Carvalho - Luiz Paulo Lopes Fávero - Renata Turola Takamatsu
CargoMestre em Controladoria e Contabilidade pela FEA-USP - Doutor e Mestre pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - Doutora em Controladoria e Contabilidade (USP)
Páginas152-167
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
Resumo
O crescimento do comércio entre os países emergentes e
um consequente aumento do fluxo de capitais resultou na
hipótese de integração financeira crescente entre essas nações
e seus respectivos mercados acionários. Ao mesmo tempo,
passou-se a observar diferenças significativas de desempenho
econômico entre esse grupo de países emergentes e os
desenvolvidos, sendo esse deslocamento conhecido como
decoupling. A presente pesquisa pretende investigar se existe
o fenômeno de decoupling entre os mercados acionários dos
BRICS e dos EUA e se este fenômeno pode ser explicado
pela integração entre os mercados dos BRICS de 2003 a
outubro de 2012. Os modelos foram analisados antes e
depois da crise financeira de 2008. Entre os resultados,
foram encontradas evidências de: (i) um possível decoupling
entre os desempenhos dos mercados dos BRICS e dos
EUA, principalmente de 2003 a 2006; (ii) uma influência
significativa da integração dos mercados acionários dos BRICS
no decoupling identificado; e (iii) mudanças importantes nos
resultados antes e depois da crise financeira de 2008. Estes
resultados suportam a hipótese de que a recente integração
entre os mercados emergentes tem produzido um fator grupo
que tem gerado desempenhos significativamente diferentes
dos mercados desenvolvidos.
Palavras-chave: Decoupling; Mercados Acionários;
Integração Financeira; BRICS; Finanças Internacionais.
Abstract
The growth of trade among emerging countries and a
consequent increase in the flow of capital has resulted in
the hypothesis of the increasement of financial integration
between these nations and their respective stock markets.
At the same time, it was observed a significant difference of
economic performance between emerging and developed
countries, known as decoupling. This research aims to
investigate if there is a decoupling phenomenon between
the BRICS stock market and the US market and if this
phenomenon can be explained by the integration among
the BRICS market from 2003 until october 2012. Among
the results, there were found evidences of: (i) a possible
decoupling among the performances of BRICS and US
market, mainly from 2003 to 2006; (ii) a significant influence
of the integration between BRICS market on the identified
decoupling; and (iii) important changes on the results before
and after the financial crisis of 2008. These results support the
hypothesis that the recent interaction between the emerging
markets has produced a group factor that has generated
significantly different performances from developed countries.
Keywords: Decoupling; Stock Market; Financial Integration;
BRICS; International Finance.
DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8077.2017v19n49p152
Recebido em: 08/11/2016
Revisado em: 25/09/2017
Aceito em: 28/02/2018
Decoupling e integração entre os
MercaDos acionários Dos Brics
Decoupling and Integration Among the BRICS Stock Market
Anderson de Souza Carvalho
Mestre em Controladoria e Contabilidade pela FEA-USP. Universidade de São Paulo. São Paulo, SP. Brasil. E-mail:ascarvalho@usp.br
Luiz Paulo Lopes Fávero
Doutor e Mestre pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Professor Associado da
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. São Paulo, SP. Brasil. E-mail: lpfavero@usp.br
Renata Turola Takamatsu
Doutora em Controladoria e Contabilidade (USP). Professora Adjunta da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG.
Brasil. E-mail: rettakamatsu@gmail.com
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Revista de Ciências da Administração • v. 19, n. 49, p. 152-1 67, dez. 2017
Decoupling e Integração entre os Mercados Acionários dos BRICS
Revista de Ciências da Administração • v. 19, n. 49, p. 152-167, dez. 2017 153
1 Introdução
A partir da ascensão de economias emergentes,
destacou-se um grupo específico de países composto
por Brasil, Rússia, Índia e China, cujo acrônimo BRIC
passou a ser frequentemente utilizado para identificá-
-los. Mais tarde, com a inclusão da África do Sul, o
acrônimo foi modificado para BRICS. O aceite oficial
da África do Sul no grupo ocorreu em dezembro de
2010, e pode ser justificado principalmente dada a sua
representatividade e importância estratégica no conti-
nente africano, além de seus fortes laços comerciais já
existentes com a China (O’NEIL, 2010).
Mesmo que a aliança oficial seja recente; o co-
mércio entre os BRICS cresceu consideravelmente na
última década (SANTOS, 2010). Pode-se observar, em
especial, uma forte ligação entre a China e os outros
quatro países, tanto em termos de importação como
de exportação, denotando uma maior integração
econômica entre os países BRICS na última década.
Em paralelo, a Índia e a China também observaram, na
última década, altas taxas de crescimento econômico,
principalmente em comparação com as baixas taxas
dos países desenvolvidos. Brasil e Rússia, ainda que
com menores taxas de crescimento, também observa-
ram relativa estabilidade econômica, mesmo diante da
crise financeira de 2008.
Para o fenômeno no qual os ciclos de negócios de
países emergentes, como os do grupo BRICS, parecem
estar independentes dos ciclos dos países desenvolvi-
dos, é dado o nome de decoupling. Essencialmente, o
parâmetro para estudo dessa relação tem sido o desem-
penho da economia dos Estados Unidos. Em especial,
no comportamento dos BRICS durante a crise de 2008,
que apresentaram, em média, um desempenho supe-
rior ao dos mercados dos países desenvolvidos, pode-se
observar um indício de decoupling financeiro, pelo
menos desde o início da crise até a falência do banco
Lehman Brothers. Ademais, a relativa recuperação de
seus mercados depois da crise foi anterior à recupera-
ção de muitos dos mercados dos países desenvolvidos
(DOOLEY; HUTCHINSON, 2009).
O estudo parte de uma conjectura onde se propõe
que o aumento do comércio entre os países do BRICS
induz uma integração entre os mercados acionários
desses países. Paralelamente, é proposta a hipótese
de que a intensificação desse comércio diminui a
dependência desses países em relação aos países de-
senvolvidos, aumentando a magnitude do decoupling
entre o BRICS e os Estados Unidos, e de que esse
decoupling se reflete nos mercados acionários. Assim,
a integração financeira entre os países do BRICS acaba
representando a materialização de um “fator BRICS”,
que impacta os mercados acionários e gera uma rela-
ção de decoupling nesses mercados. Com base nesta
hipótese, é desenvolvido um modelo que se aplica à
representação da evolução dos mercados acionários
dos países em questão, de 2003 a outubro de 2012, e
que, ao serem testados, buscam verificar a validade da
conjectura desenvolvida. Adicionalmente, a realização
deste estudo busca atingir os seguintes objetivos: i)
contribuir para a explicação das causas das diferenças
de desempenho entre mercados acionários de países
emergentes e de países desenvolvidos e, por conseguin-
te, contribuir para a implementação de ferramentas de
gestão de risco mais efetivas; ii) investigar as origens
das oportunidades de diversificação internacional de
portfólios; iii) contribuir para a análise e previsão dos
possíveis impactos da crescente cooperação entre países
emergentes.
O grupo denominado BRICS corresponde a uma
aliança que abrange quatro continentes e é formada
somente por países emergentes. Ademais, as ações
empreendidas em virtude dessa aliança já ultrapassam
a pura diplomacia. Além do acordo de cooperação de
suas bolsas de valores, foi fechado um acordo para a
criação de um fundo comum, no valor de US$ 100
bilhões (TRAVAGLINI, 2013; TRAVAGLINI; DANTAS,
2013). Essas ações, conjugadas com o crescimento
do comércio entre os países do grupo, tornam mais
evidente a necessidade de avaliação dos fluxos de
capital entre eles, ou seja, da integração financeira
entre o grupo e suas consequências para esses países.
Da mesma forma, é nítida a necessidade de se estudar
os fatores geradores dos desempenhos diferenciados
desses países, principalmente em se tratando da China
e da Índia, nos anos mais recentes.

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