Derruição (ainda que relativa) do pensamento crítico na recente hegemonia político-cultural capitalista

AutorMauricio Godinho Delgado
Páginas30-34

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Conforme já exposto, a presente hegemonia político-cultural capitalista, que tem dado curso a modelos de gestão socioeconômica extremamente excludentes no mundo ocidental, passa pela relativa derruição do pensamento crítico ao capitalismo, processo que se evidencia a partir de fins da década de 1970.

É claro que o aprofundamento e a generalização desse processo desconstrutivo tende a comprometer, de modo significativo, o eficaz contraponto político, social e cultural à matriz antissocial liberalizante que prepondera no presente momento da História.

No que diz respeito ao mundo do trabalho, importa reconhecer que semelhante derruição tem vínculo direto com a recorrente tentativa de desconstrução do primado do trabalho e do emprego na sociedade capitalista contemporânea.

1. Núcleo Social e Ético do Pensamento Crítico: Primado do Trabalho e do Emprego no Capitalismo

O capitalismo, logo após seu nascimento, já no início do século xIx, começou a sofrer críticas quanto à sua estrutura e dinâmica de operação, em face da enorme desigualdade social que propiciava. Embora parte importante de tais críticas tivesse conteúdo e objeti vos revolucionários - propondo a superação do próprio sistema (vide pensamento socialista) -, outras tinham natureza meramente reformista da sociedade e economia então vigentes.

Não obstante, todas essas críticas tendiam a convergir em torno de um núcleo fundamental de reflexão, situado na essencialidade do valor-trabalho.

Tal convergência encontraria no século xx seu momento ideal de realização.

De fato, o pensamento crítico radical do capitalismo, formulado a partir do século xIx, tendo, em Marx e Engels, seu principal fulcro teórico, iria encontrar-se, já no século xx, com vertentes reformistas desse sistema socioeconômico, que angariaram forte prestígio após a brutal crise de 1929; o fulcro teórico mais importante dessas vertentes reformistas situava-se, ao menos no plano da economia, em John Maynard Keynes.

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Estabelece-se, desde então, uma conjugação teórica crítica ao sistema capitalista, porém de caráter essencialmente democrático e reformador, que teria grande importância no processo sociopolítico seguinte de adequação desse sistema às demandas socioeconômicas e culturais da maior parte das populações dos países ocidentais desenvolvidos. Ou seja, uma síntese teórica crítica, mas não revolu cionária, estrutura-se desde então, com grande capacidade analíti ca acerca das regras de funcionamento do capitalismo e dos meios de adaptá-lo às necessidades sociais.

A partir desse pensamento crítico e de uma experiência política diferenciada, porém bastante pragmática, nas décadas seguintes, arquitetou-se o chamado Estado de Bem-Estar Social, que iria se constituir no ponto máximo de distribuição de renda e poder já vivenciado pelo capitalismo desde suas origens.

A matriz cultural então consolidada - com o correlato...

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