A busca de uma nova agenda de pesquisa sobre os movimentos sociais e o confronto político: diálogos com Sidney Tarrow [Comentários ao artigo de Sidney Tarrow]

AutorBreno Bringel
CargoPesquisador honorífico do Departamento de Ciência Política III da Universidade Complutense de Madri
Páginas51-74
Dossiê
A busca de uma nova agenda de
pesquisa sobre os movimentos
sociais e o confronto político:
diálogos com Sidney Tarrow
[Comentários ao artigo de Sidney Tarrow]
Breno Bringel*
1. A recepção das teorias norte-americanas sobre a
ação coletiva e os movimentos sociais no Brasil
Como introdução aos meus comentários sobre a conferência de
Sidney Tarrow gostaria de fazer uma apreciação inicial sobre a
recepção das teorias norte-americanas sobre a ação coletiva e os
movimentos sociais no Brasil. A publicação recente em português
de O Poder em Movimento (TARROW, 2009a) e o interesse despertado
por esta primeira visita de Tarrow ao Brasil são mostras de uma
crescente influência tanto da sua obra como do projeto coletivo
“contentious politics” no país. No entanto, trata-se de um fenômeno
relativamente novo, já que até recentemente a discussão sobre as
teorias norte-americanas, neste campo de estudo, no Brasil esteve
caracterizada por ser: a) indireta; b) tardia; c) parcial/limitada11.
Indireta por que a discussão, até recentemente, foi realizada
principalmente a través do esforço analítico de alguns colegas bra-
* Pesquisador honorífico do Departamento de Ciência Política III da Universidade
Complutense de Madri. Endereço eletrônico: brenobringel@hotmail.com.
1 Este texto está baseado na minha intervenção como comentarista da conferên-
cia Global, Conventional and Warring Movements and the Suppression of Contention:
themes in contentious politics research de Sidney Tarrow, pronunciada no dia
12 de Agosto de 2010 no I Seminário Internacional (III Seminário Nacional)
“Movimentos Sociais, Participação e Democracia”, realizado na Universidade
Federal de Santa Catarina. Agradeço a Comissão Organizadora do evento e,
em particular a Ilse Scherer-Warren, Ligia Helena Hahn Lüchmann, Julian Bor-
ba e Carlos Sell pelo convite. Sou especialmente grato a Sidney Tarrow pelo
diálogo, referências e vários comentários, virtuais e presenciais, sobre várias
questões que aparecem no presente texto.
doi:10.5007/2175-7984.2011v10n18p51
52 p. 51 – 73
Volume 10 – Nº 18 – abril de 2011
sileiros, onde se destaca o já clássico trabalho de sistematização de
Gohn (1997) que vêm servindo como um verdadeiro mapa teórico
para os estudiosos dos movimentos sociais no Brasil, principalmente
os mais jovens. Deste modo, a teoria da mobilização dos recursos, a
noção de frames ou as estruturas de oportunidades políticas nunca
foram totalmente desconhecidas, mas não chegaram ao Brasil via
Doug McAdam, John McCarthy, David Snow ou o próprio Tarrow,
entre muitos outros, mas sim via trabalhos como o de Maria da Glória
Gohn. Por outro lado, outros autores que estudaram nos Estados
Unidos ou mantiveram uma relação mais próxima com a academia
daquele país trouxeram contribuições interessantes ao estudo da
realidade brasileira a partir de um enfoque que dialoga com autores
e correntes teóricas norte-americanas. Um bom exemplo na década
de 1990 é o estudo de Sandoval (1994) que, muito influenciado por
Charles Tilly, analisa as atividades grevistas no Brasil de 1945 a 1990
combinando uma descrição quantitativa com a análise histórica.
Tardia por que a recepção de obras como O Poder em Movi-
mento, originalmente publicada em 1994, demorou quinze anos
em chegar ao Brasil. Contudo, ainda que segue sendo um referente
iniludível, chega num momento onde a discussão nacional, norte-
americana e internacional vêm tomando novos rumos, o que ex-
plica que a terceira edição inglesa deste livro2, que será publicada
durante o ano 2011, esteja sendo revisada ao ponto de encontrar
discussões completamente novas sobre os processos e mecanismos
de contestação. Isto deve ser problematizado no sentido de que a
leitura de “O Poder em movimento” pelo público brasileiro deve
ser realizada de forma paralela com textos mais recentes vinculados
ao debate internacional atual, com o objetivo de que não ocorra
uma “defasagem espaço-temporal” que impeça um engajamento e
inserção sincrônica do debate brasileiro com a literatura produzida
e discutida em outros lugares3. Neste sentido, são mais que bem-
vindas as traduções que vem aparecendo nos últimos anos em várias
2 A versão brasileira é uma tradução da segunda edição publicada em inglês
em 1998.
3 Vide nesta direção o texto de Alonso (2009) que propõe uma atualização do
debate teórico sobre os movimentos sociais incorporando elementos recentes
da discussão norte-americana.

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