A dinâmica social do desrespeito: para a situação de uma teoria crítica da sociedade

AutorAxel Honneth
CargoProfessor Jack C. Weinstein de Humanidades no Departmento de Filosofia na Columbia University
Páginas21-42
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2018v17n40p21/
2121 – 42
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A dinâmica social do desrespeito:
para a situação de uma teoria
crítica da sociedade1-2
Axel Honneth3
Resumo
Neste artigo, que é originalmente um discurso de posse no Instituto Otto Suhr na Universidade
Livre de Berlin, Axel Honneth esboça o programa de uma teoria intersubjetiva do reconhecimento,
utilizando esta última categoria como o núcleo conceitual de uma Teoria Crítica da sociedade na
qual a experiência pré-cientica de desrespeito às expectativas sociais se conecta à formação de
demandas emancipatórias.
Palavras-chave: Teoria Crítica; Reconhecimento; Desrespeito; Experiência pré-cientíca.
Abstract
In this article, which originally is the text of Axel Honneth’s inaugural speech at the the Otto-
Suhr-Institut at the Free University of Berlin, the author delineates the program of an intersubjective
theory of recognition, taking that category as the conceptual core of a Critical Theory of society in
which pre-theoretical experiences of disrespect of one’s social expectations are connected to the
emergence of emancipatory claims.
Keywords: Critical Theory; Recognition; Disrespect; Pre-theoretical experience.
1 Trata-se do texto de minha palestra inaugural no Otto-Suhr-Institut na Freie Universität Berlin em novembro de
1993. Uma versão inicial apareceu em Leviathan 1/1994.
2 Originalmente publicado como "Die soziale Dynamik von Missachtung. Zur Ortbestimmung einer Kritischen
Gesellschaftstheorie", em HONNETH, Axel. Das Andere der Gerechtigkeit. Aufsätze zur praktischen Philoso-
phie. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2000. p. 88-109. Traduzido do original alemão com permissão da Editora
Suhrkamp por Luiz Gustavo da Cunha de Souza.
3 Axel Honneth é o Professor Jack C. Weinstein de Humanidades no Departmento de Filosofia na Columbia
University; foi diretor do Instituto para Pesquisa Social (Institut für Sozialforschung) na Goethe-Universität em
Frankfurt am Main entre 2001 e 2018 e Professor de Filosofia Social na mesma universidade entre 1996 e 2016.
A dinâmica social do desrespeito: para a situação de uma teoria crítica da sociedade| Axel Honneth
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Quem hoje empreende a tentativa de situar a “Teoria Crítica” se expõe
facilmente à suspeita de um mal-entendido nostálgico da situação atual do
pensamento losóco, pois em seu sentido original – isto é, como o empre-
endimento interdisciplinarmente arranjado de um diagnóstico da realidade
social – essa tradição já não existe há muito tempo. Quando, todavia, em-
preendo a seguir uma tal tentativa, com isso então não pode estar associada
a intenção de explorar as condições para uma revitalização da antiga tradição
frankfurtiana: nem acredito que o programa de pesquisa original sequer me-
reça ainda um desenvolvimento que tenha sido interrompido, e nem estou
convencido de que a realidade social complexicada e rapidamente mutável
se deixe pesquisar sem mais no quadro de uma única teoria – que seja ela
interdisciplinarmente arranjada. “Teoria Crítica da sociedade”, então, não
deve ser entendida a seguir no sentido do programa original da Escola de
Frankfurt. Entretanto, com isso se deve entender mais do que uma referên-
cia a qualquer forma de teoria social que submeta simplesmente seu objeto
a uma investigação ou diagnóstico críticos, já que isso vale de modo quase
autoevidente para toda forma de teoria sociológica da sociedade que verda-
deiramente mereça esse nome – para Weber não menos do que para Marx,
para Durkheim não menos do que para Tönnies. Com “Teoria Crítica da
sociedade” aqui se quer entender antes o tipo de pensamento socioteórico
que compartilha com o programa original da Escola de Frankfurt, talvez mes-
mo com a tradição do hegelianismo de esquerda como um todo, uma forma
determinada de crítica normativa: uma tal, a saber, que também esteja apta a
prover informação sobre a instância pré-cientíca em que seu próprio aspecto
crítico esteja ancorado fora da teoria como interesse empírico ou experiência
moral. No primeiro passo, quero apenas brevemente lembrar dessa herança
hegeliana de esquerda da Teoria Crítica, pois considero que ela seja o único
elemento teórico que ainda possa agir como uma premissa incontornável da
antiga tradição no sentido de uma marca de identidade. Por meio de sua for-
ma especíca de crítica, a teoria social de tradição frankfurtiana se diferencia
de todas as outras correntes ou direções da critica social. Somente depois dessa
lembrança metodológica posso começar, então, a delinear a situação em que
a Teoria Crítica da sociedade se encontra hoje. Quero empreender isso de
modo que – em cuidadosa delimitação frente à teoria comunicativa de Ha-
bermas – esboce passo a passo as premissas fundamentais de uma perspectiva
que possa satisfazer as exigências metodológicas da velha teoria. O núcleo des-
sa perspectiva consiste em um desdobramento do problema social anunciado
no título de meu texto: a “dinâmica social do desrespeito”.

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