A dispersão e as resistências na (da) américa latina: a mimese caliban

AutorGey Espinheira - Álvaro Gomes
Páginas40-54
A DISPERSÃO E AS RESISTÊNCIAS
NA (DA) AMÉRICA LATINA: A MIMESE CALIBAN
GEY ESPINHEIRA *
ÁLVARO GOMES **
“Não necessitamos da promessa de um final feliz
para justificar a nossa rejeição a um mundo
que sentimos estar equivocado”
(John Holloway)
1. INTRODUÇÃO
Nesses últimos anos temos trazido as reflexões do Instituto de Estudo e Ação
pela Paz com Justiça Social (Iapaz) ao Fórum Social Mundial (FSM) e aos
encontros locais e regionais que o preparam a cada ano, sob o nosso lema
“Paz só com Justiça Social”. A ênfase na paz não é só um desejo e uma
esperança, é a busca de um antídoto para a violência do mundo
contemporâneo – já que é somente neste que podemos intervir – em estado de
guerra, sobretudo depois da implementação da estratégia de guerra
permanente proposta pelos Estados Unidos (que, aliás, não é de agora!) em
nome do “choque de civilizações” (Huntington, 1997), da tirania do Ocidente
sobre o mundo, particularmente o Oriente islâmico, em que o estrategista de
Washington declara abertamente em relação aos muçulmanos:
Parece-me altamente prioritário que europeus e americanos
reconheçam o que têm em comum e tentem elaborar uma estratégia
para lidar de forma compartilhada com a ameaça que o islamismo
militante representa para suas sociedade e para sua segurança
A ideologia do Ocidente há muito foi elaborada e pôs suas estratégias em
prática, das Cruzadas à expansão marítima dos impérios europeus, e sob a
bandeira do cristianismo, pretexto extraordinário para justificar relações de
comércio e exploração, como foram os casos dos impérios português e
espanhol (cf. Lima, 2003). Mas é importante ver a observação de Weber (1983:
1) no início da “Introdução” ao seu estudo sobre a ética protestante,
destacando a combinação de fatores “a que se pode atribuir o fato de, na
Civilização Ocidental, e somente na Civilização Ocidental, haverem aparecido
fenômenos culturais dotados (como queremos crer) de um desenvolvimento
universal em seu valor e significado”. O Ocidente se quis universal e, como tal,
submeter o resto do mundo. Na versão contemporânea, a situação é posta
como “choque de civilizações”, e isso justificaria a “guerra justa” e o “estado de
guerra permanente” em nome do combate ao terrorismo.
Internamente ao Brasil, nossa preocupação se volta para a violência, urbana e
rural, configurando uma realidade mortal que faz do país o mais violento do
mundo sem estar em guerra ideológica declarada, no embate da criminalidade
com as forças de segurança; da criminalidade da segurança institucional
contra a sociedade; nas disputas de territórios do tráfico de drogas e do jogo
de azar; da exploração sexual, enfim, de tudo o que decorre da corrupção que

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