A doxa da segurança: análise da influência da mídia na percepção da violência

AutorSonia do carmo Groberio, Adriano Sant'Ana Pedra
CargoSonia do Carmo Grobério: sonia.groberio@gmail.com. Integrante do Grupo de Pesquisa 'Estado, Democracia Constitucional e Direitos Fundamentais' do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Faculdade de Direito de Vitória.(FDV), Espírito San- to, Brasil. Doutora em Direitos e Garantias Fundamentais(FDV).Mestre em Direitos e Garantias ...
Páginas127-142
Revista da Faculdade de Direito da FMP, Porto Alegre, v. 17, n. 1, p. 127-142, 2022. 127
A doxa da segurança: análise da inuência da mídia na percepção da violência
A DOXA DA SEGURANÇA: ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA MÍDIA
NA PERCEPÇÃO DA VIOLÊNCIA
e security dox: Analysis of midia’s inuence in the perception of violence
Sonia do Carmo Grobério
sonia.groberio@gmail.com.
Integrante do Grupo de Pesquisa “Estado, Democracia Constitucional e Direitos Fundamentais” do
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Faculdade de Direito de Vitória.(FDV), Espírito San-
to, Brasil. Doutora em Direitos e Garantias Fundamentais(FDV).Mestre em Direitos e Garantias
Fundamentais(FDV).
Adriano Sant’Ana Pedra
adrianopedra@fdv.br.
Professor do PPGD da Faculdade de Direito de Vitória, Espírito Santo, Brasil. Professor do Programa de
Pós-Graduação Stricto SensuMestrado e Doutorado – em Direitos e Garantias Fundamentais da FDV,
Vitória, Espírito Santo, Brasil. Procurador Federal Doutor em Direito Constitucional (PUC/SP). Mestre
em Direitos e Garantias Fundamentais (FDV).
RESUMO
Trata da análise da inuência da mídia por meio das divulgações exaustivas de notícias que envolvem
a violência e o imaginário da sociedade em relação a divulgação de acontecimentos violentos, surgindo
o medo do crime e o aumento da sensação de insegurança. Como metodologia foi utilizada pesquisa
bibliográca como procedimento técnico, tendo como fonte, livros, artigos e publicações em mídias ele-
trônicas, além das matérias apresentadas nos programas de televisão e jornais impressos. Vericou-se a
repercussão que a divulgação de notícias de crimes e violência causa nas pessoas, a ponto de interferir na
percepção sobre a violência no cotidiano e consequentemente, na sensação de segurança delas. Sugere-
-se que a violência praticada não reete elmente a sensação de segurança ou insegurança da população
e que a mídia inuencia na formação da doxa da segurança e leva as pessoas que têm acesso às notícias
de crime e violência, a acreditarem que estão vivendo em uma sociedade vulnerável e insegura. Conclui-
-se que essas divulgações carecem da utilização da episteme ou conhecimento e, se este fosse utilizado,
a mídia poderia contribuir para a discussão da temática violência, auxiliando na proteção das pessoas,
scalizando as políticas públicas, com comprometimento e soluções para o problema.
Palavras-Chave: Segurança Pública. Mídia. Opinião. Doxa. Episteme.
ABSTRACT
It deals with the analysis of the inuence of the media through exhaustive news releases that involve
violence and the imaginary of society in relation to the dissemination of violent events, arising the fear
of crime and the increased feeling of insecurity. As a methodology, bibliographic research was used as a
Revista da Faculdade de Direito da FMP, Porto Alegre, v. 17, n. 1, p. 127-142, 2022. 128
Sonia do Carmo Grobério e Adriano Sant’Ana Pedra
technical procedure, having as source, books, articles and publications in electronic media, in addition
to the materials presented in television programs and printed newspapers. ere was a repercussion
that the dissemination of news of crimes and violence causes in people, to the point of interfering in
the perception of violence in daily life and, consequently, in their sense of security. It is suggested that
the violence practiced does not faithfully reect the feeling of security or insecurity of the population
and that the media inuences the formation of the security doxa and leads people who have access to
the news of crime and violence, to believe that they are living in a vulnerable and insecure society. It is
concluded that these disclosures lack the use of episteme or knowledge and, if it were used, the media
could contribute to the discussion of the theme of violence, helping to protect people, inspecting public
policies, with commitment and solutions to the problem.
Keywords: Public Security. Media. Opinion. Doxa. Episteme.
1 INTRODUÇÃO
“[...] a evocação jornalística do mundo não é feita para mobilizar e politizar; ao contrário, apenas
pode contribuir para intensicar os receios xenófobos, assim como a ilusão de que o crime e a vio-
lência não cessam de crescer favorece as ansiedades e as fobias da visão securitária”(BOURDIEU,
1997, p.141-142).
A temática da segurança tem envolvido muitos pesquisadores e gestores na busca de uma solução
tendo como consequência permanente tentativa de redução da criminalidade, o que se traduz em um
enorme desao para a sociedade. A questão relaciona-se com diversos fatores, como o sistema de segu-
rança previsto constitucionalmente, a falta de recursos humanos, materiais, tecnológicos e a inuência
dos segmentos externos ao sistema, principalmente a mídia.
Nessa discussão, para compreender os níveis do sentimento ou sensação de segurança são apontadas
como condicionantes o crescimento da criminalidade, o fenômeno da urbanização, fatores culturais, o
gênero, a renda, a idade e a inuência da mídia com a forma de divulgações sobre violência, que será o
foco de nossa abordagem.
Ressalta-se que parcela signicativa da população, quando toma conhecimento das divulgações pela
mídia, reete sobre esses acontecimentos e tem uma percepção muitas vezes equivocada sobre o que é
divulgado, criando um senso comum, ou opinião (doxa), notadamente em relação às notícias de crimes
violentos.
Não se pode negar a existência de inúmeros crimes, mas com o avanço da tecnologia e a forma de
comunicação da mídia, que não utiliza apenas a informação por meio de um discurso descritivo e, sim,
o discurso prescritivo que se dirige a modicar ou inuenciar a conduta das pessoas (Adeodato, 2011, p.
25), com notícias divulgadas quase que em tempo real, inuenciam a sensação de segurança da popula-
ção, o que pode banalizar a violência.
Assim, as pessoas passam a construir inimigos e fantasmas, deixando-se levar por todo tipo de in-
formação que é imposta sem questionar a verdade (aletheia) dos fatos divulgados sem conhecimento
cientíco (episteme). Vivemos em uma sociedade violenta, com altos índices de criminalidade, mas não
se pode considerar que tudo e todos podem oferecer ameaça e viver num alerta constante.
Observa-se que cada vez mais os cidadãos são colocados diante de notícias violentas sobre crimes,

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