A Dualidade Entre Ação e Estrutura: esboços de um programa de pesquisa weberiano

AutorWolfgang Schluchter
CargoDoutor em Sociologia pela Universidade Livre de Berlim
Páginas18-42
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2016v15n34p18
18 18 – 42
A Dualidade entre Ação e Estrutura:
esboços de um programa
de pesquisa weberiano1
Wolfgang Schluchter2
Resumo
Neste artigo quero explicitar o esboço de um programa de pesquisa weberiano. Ele pode ser con-
siderado como uma terceira sociologia, superando a oposição entre individualismo metodológico
e holismo. Baseia-se em relacionismo metodológico e em um modelo de dois lados e multinível
explicativo, empregando a noção da dualidade de estrutura e ação. O seu poder de análise é
ilustrado com referência ao estudo de Weber sobre o protestantismo ascético e sobre a ética
econômica das religiões mundiais.
Palavras-chave: Max Weber. Macro e micro. Holismo metodológico. Individualismo metodoló-
gico. Ação social. Estrutura.
No livro Fundamentações da Sociologia (SCHLUCHTER, 2015) termino
meu estudo com uma referência às semelhanças de família existentes entre um
programa de pesquisa weberiano e outras perspectivas teóricas. Neste artigo
irei ampliar esta comparação, pois no escrito anterior utilizei esses autores
apenas para demarcar posições opostas a minha. Com este m, apoiei-me em
James Coleman (1990) e Pierre Bourdieu (1987). O primeiro é um defensor
do individualismo metodológico e da teoria da escolha racional, enquanto
Bourdieu, com seu estruturalismo genético e sua teoria do habitus, defende
um holismo sociológico. A teoria da práxis de Bourdieu rejeita tanto o méto-
do compreensivo quanto a teoria da ação de Weber. Intencionalidade e com-
preensão-explicativa são conceitos estranhos a sua teoria. Embora em Cole-
man a teoria da ação seja central, ele também não se enquadra no programa
1 Tradução de Carlos Eduardo Sell.
2 Doutor em Sociologia pela Universidade Livre de Berlim, com livre docência na Universidade de Mannheim.
É professor emérito do Instituto Max Weber de Sociologia da Universidade de Heidelberg e um dos editores da
coleção Max Weber Gesamtausgabe (MWG). Foi titular da Cátedra Max Weber em Erfurt (1997 a 2002) e
Codiretor do Marsilius Kolleg da Universidade de Heidelberg (2007 a 2014).
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 15 - Nº 34 - Set./Dez. de 2016
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weberiano, pois ele radicaliza o individualismo metodológico e através de seu
modelo de maximização de preferências reduz a teoria weberiana da ação à ra-
cionalidade de meios e ns. O programa de pesquisa weberiano requer tanto a
modicação do individualismo metodológico radical quanto do seu conceito
de ator social, pois em Weber ele é muito mais do que mero maximizador de
preferências.
Posições muito mais próximas ao programa de pesquisa weberiano podem
ser encontradas em Anthony Giddens (1984) e Margareth Archer (1988).
Giddens fala a respeito da dualidade da estrutura ou da estruturação e Archer
a respeito da dualidade entre cultura (estrutura) e “Agency” ou da morfogê-
nese. O que há de comum entre os dois é busca por superar o dualismo entre
agência e estrutura. Ambos defendem uma teoria da dualidade da estrutura,
ainda que em Archer essa busca seja acompanhada por um dualismo analítico.
Uma teoria da dualidade da estrutura e da ação que que esteja além de qual-
quer dualismo ontológico também é uma característica fundamental do pro-
grama de pesquisa weberiano. No entanto, em suas análises Giddens (1984,
p. 139-144) e Archer (1988, capítulo 8) não seguem a tradicional distinção
entre micro e macro3, empregando em seu lugar a dicotomia entre integração
social e integração sistêmica, de David Lockwood. Através dela Lockwood
buscou ir além da oposição entre o marxismo histórico e o funcionalismo
normativo. No meu trabalho não sigo essa proposta, pois entendo que ela
dissolve a distinção entre macro e micro (SCHLUCHTER, 2007, p. 102 ss).
Neste ponto, prero guiar-me pela modelo que, entre outros (ESSER,
1993; MAURER e SCHMID, 2010), foi desenvolvido por James Coleman e
que é conhecido como modelo “Micro-Macro-Micro”. Esse modelo nos per-
mite fazer a crítica das posições que trabalham com leis macrossociológicas.
3 Veja-se o que diz Giddens (Constitution, p. 139-144, “Against micro ‘and macro’: Social and System Integra-
tion”) texto no qual ele iguala integração social com copresença e integração sistêmica com integração social
que, por sua vez, repercute na copresença: “All social life occurs in, and is constituted by, intersections of
presence and absence in the fading away of time and the shading off ‘of space. The physical properties of the
body and the milieux in which it moves inevitably give social life a serial character, and limit modes of access
to absent’ others across space.” (1984, p. 132). Archer ocupa-se principalmente da cultura e, também baseada
em Lockwood, defende um dualismo analítico que desemboca na pesquisa da dualidade da cultura (Archer,
Culture, em especial seu Prefácio, p. 14 e ss. e o capítulo 8).

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