Efeito de sentido
Autor | Carlos Augusto Monguilhott Remor/Greici Weinzierl |
Cargo | Universidade Federal de Santa Catarina |
Páginas | 217-226 |
Carlos Augusto Monguilhott Remor1
- Sense effect
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Desde Freud, a questão relativa ao sentido é central na psicanálise, e assim continua no ensino de Lacan. Ela nos interessa enquanto é baliza na direção da cura analítica. O mestre francês refere que a partir do sentido se goza (LACAN, 2000a). A interpretação, segundo Harari (1993, p. 153),
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mostra o laço da fala com o gozo. É nessa procura de prazer e evitação de desprazer que se situa a possibilidade de equilíbrio. Daí surge a idéia de harmonia e homeostase, que são noções fundamentais de toda posição médica. Isso é comentado por Lacan, na aula chamada A harmonia médica , como ideal grego, desde o discurso de Erixímaco, na busca por uma idéia de acordo (LACAN, 1992, p. 73). Assim, podemos pensar que há um equilíbrio que procura adaptar o neurótico a seu sintoma, ao contrário de o que se pensa, por meio de atribuições de sentidos que tentam conectar seu eu com seu sintoma.
O sintoma é uma das quatro formações do inconsciente, junto com os atos falhos, sonhos e chistes, ou seja, é uma formação mais ou menos intermediária, entre pulsão e defesa. O sintoma satisfaz a ambos, pulsão e defesa, parcialmente e, em sua cristalização, ambos também fracassam, parcialmente. Freud (1976a, p.189-190), em Três Ensaios sobre a teoria da sexualidade , define-o como substituto de uma satisfação pulsional sexual, como conseqüência da repressão. A formação dos sintomas consegue combinar a proibição com a satisfação, de modo que o que era originalmente uma ordem defensiva ou proibição adquire também o sentido de uma satisfação.
Na psicanálise, quebra-se esse equilíbrio mediante recursos linguageiros. O termo "explicar", que envolve diretamente a questão do sentido, deu lugar à famosa frase, atribuída a certa maneira de se referir ao mestre vienense: "Freud explica". A maneira de oferecer escuta psicanalítica àqueles que nos procuram como destinatários de certo saber, certamente, não é explicativa, mas sim implicativa, à medida que possamos nos implicar no que nos é demandado. Essa é a responsabilidade ética, à medida que a ética da psicanálise se constitui pelo modo como o psicanalista não cede ao desejo do analista.
O sentido é o que permite ao eu esse casamento com o sintoma. Assim, para promover a possibilidade de separação, é necessário o uso de recursos que, embora linguageiros, alcancem, em certa medida, algo de distanciamento entre o som e o sentido. Lacan, no Seminário R.S.I. 2, coloca o sentido na intersecção entre imaginário e simbólico.
O efeito que o sentido faz não é o próprio sentido. Perguntamonos, então: A interpretação tem sentido ou procura sua quebra? Como,
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pela atividade do eu, qualquer palavra gera sentidos, poderíamos pensar que a intervenção pode ser qualquer coisa, contudo, falar do sem-sentido não é o mesmo que falar sem sentido, ou seja, não devemos confundir "o tratamento do sem-sentido" com "o tratamento sem sentido".
Conforme dito, equilíbrio, harmonia e homeostase são noções fundamentais de toda posição médica, como comentado por Lacan, na classe chamada A harmonia médica , como ideal grego, desde o discurso de Erixímaco, na busca por uma idéia de acordo (LACAN, 1992, p. 73). Meio-termo, moderação, comedimento, psiquiatria moderna da compensação e do ataque ao estresse baseiam-se na premissa, quase universalmente aceita, de que todo estresse deve ser rebaixado, mantendo-se equilíbrio nos meios-termos.
Sobre isso, podemos pensar também a partir de outra ótica. Freud cita um comentário de Erb, de 1893, sobre o assunto, referindo os temas tomados como fatores do estresse relacionados com o que ele chama de "alta incidência da doença nervosa moderna", nos seguintes termos aproximados:
As extraordinárias realizações dos tempos modernos, as descobertas e as investigações em todos os setores e a manutenção do progresso só foram alcançadas e só podem ser conservados por meio de um grande esforço mental. Cresceram as exigências impostas à eficiência do indivíduo; em todas as classes aumentam as necessidades individuais e a ânsia de prazeres materiais; um luxo sem precedentes atingiu camadas da população a que até então era totalmente estranho; a irreligiosidade, o descontentamento e a cobiça intensificam-se em amplas esferas sociais. O incremento das comunicações que envolvem o mundo alterou completamente as...
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