O enfoque histórico-estrutural e a crítica relegada

AutorFábio Pádua dos Santos
CargoMestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas
Páginas51-81
O ENFOQUE HISTÓRICO-ESTRUTURAL E A CRÍTICA
RELEGADA1
Fábio Pádua dos Santos2
Resumo
O presente texto procura: por um lado, realizar uma revisão do pensamento
originário da Cepal, privilegiando os aspectos constitutivos do modo de pen-
samento cepalino e de suas implicações para a formulação de narrativas his-
tóricas sobre a formação e desenvolvimento das economias latino-americanas;
por outro, argumenta que a Perspectiva dos Sistemas-Mundo pode contribuir,
a partir de sua critica epistemológica, para a revisão crítica dos modelos ex-
plicativos da formação e desenvolvimento das economias latino-americanas.
Palavras-chave: Cepal, Sistema-Mundo, América Latina.
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Daniel Arão Reis Filho
 INTRODUÇÃO
O presente texto procura realizar um estudo do pensamento originário
da Cepal, privilegiando os aspectos constitutivos do modo de pensamento3
1 Versão modificada do ensaio Estruturalismo latino-americano e a Perspectiva dos Sistemas-Mundo: notas sobre o modo
e pensamento da Cepal escrito pela ocasião do IV Colóquio Brasileiro em Economia Política dos Sistemas-Mundo
realizado na cidade de Florianópolis em agosto de 2010. O autor agradece aos professores Pedro Antonio Vieira e
Eduardo Barros Mariutti, bem como à Fernando Correa Prado, Eduardo Martins Ráo, Leonardo Dias Nunes e à Maíra
Machado Bichir pelas críticas e sugestões. As opiniões aqui defendidas são de responsabilidade exclusiva do autor.
2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da
Universidade Estadual de Campinas. Área de concentração: história econômica. Bolsista do Centro Internacional
Celso Furtado. E-mail: fpadua@gmail.com
3 Por modo de pensamento entende-se a maneira como os homens realmente pensam. Nestes termos, entretanto não
exclusivamente, parte-se da problemática tal como proposta por Karl Mannheim para quem o pensamento deve ser
DOI: 10.5007/2175-8085.2011v14n1p51
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Fábio Pádua dos Santos
Textos de Economia, Florianópolis, v.14, n.1, p.51-81, jan./jun.2011
cepalino e suas implicações para a formulação de narrativas históricas sobre
a formação e desenvolvimento das economias latino-americanas.
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da maneira como vem se delineado o debate sobre o desenvolvimento na
última década. As tentativas de interpretação de nosso próprio tempo, ao
que parece, têm resgatado problemáticas e expectativas do passado sem
antes repensarem profundamente os modelos explicativos em conseqüência
das mudanças sociais em curso. Precisamente, os esforços correntes não
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desenvolvimento é estudado. Entendemos que a época histórica pelo qual
passamos, a Crise da Modernidade4, exige, por um momento, centrar atenção
no modo como foram elaborados os modelos explicativos da formação e do
desenvolvimento das economias latino-americana nos diferentes momentos
do capitalismo histórico. A necessidade deste tipo de revisão se coloca em
razão das transformações de longa duração que se vêm processando no
sistema-mundo moderno5 e que têm colocado em dúvida, no debate recente
sobre o desenvolvimento, a validade de modelos explicativos outrora for-
jados e que continuam sendo a base do debate mais recente.
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um meio para o exercício crítico de nossa contemporaneidade. O trabalho
de revisar as diferentes interpretações da formação e desenvolvimento das
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das principais visões que se constituíram em torno do debate sobre o de-
senvolvimento ao longo da segunda metade do século XX. Este trabalho
compreendido “... dentro da moldura concreta de uma situação histórico-social, de que o pensamento individualmente
diferenciado emerge mui gradualmente. Assim não são os homens em geral que pensam, nem mesmo os indivíduos
isolados, mas os homens dentro de certos grupos que elaboram um estilo peculiar de pensamento graças a uma série
interminável de reações a certa situações típicas, características de sua posição comum”. MANNHEIM, Karl. Ideologia
e Utopia: introdução a sociologia do conhecimento. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1954, p.3.
4 Por Crise da Modernidade se está entendendo as diferentes dimensões da crise estrutural. Ela é, ao mesmo tempo:
econômica, pelo fato de estarmos chegando muito próximo da mercantilização de tudo; política, pelo fato dos próprios
movimentos anti-sistêmicos estarem em crise; e cultura, pelo fato dos estudos da complexidade estarem colocando
em dúvida as premissas da ideologia universalista. Para mais detalhes ver WALLERSTEIN (1985, pp.77-80).
5 Vide: WALLERSTEIN, Immanuel. “La crisis como transición” In: AMIM, Samir et.al. Dinámica de la Crisis Global., pp.
14-60. Ver também “Structural Crises” In: New Left Review, 62, mar-apr, 2010, pp.133-142. De modo análogo,
porém com discordâncias, vide: MÉSZÁROS, István. A crise estrutural do capital. São Paulo: Boitempo, 2009. Ou
ainda, para uma introdução ao do debate, ver: CHESNAIS, François. “Um momento histórico crítico”; FIORI, José
Luís. “A esquerda e a crise; BRENNER, Robert. “A crise que se aprodunda”; e GOWAN, Peter. “Crises na capital”.
In: Margem Esquerda – ensaios marxistas. Nº. 13. São Paulo: Boitempo Editorial, maio de 2009.

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