Ensaiando uma conversa em um bar ao sul: felizes Juntos em La Doce, comunidades em Wong Kar-Wai e no Boca Juniors

AutorAlexandre Manoel Nascimento
CargoMestrando no Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina
Páginas87-103
|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 20, n. 32, 2020|
doi:10.5007/1984-784X.2020.e82994 87
ENSAIANDO UMA CONVERSA EM UM BAR AO SUL:
FELIZES JUNTOS EM LA DOCE, COMUNIDADES
EM WONG KAR-WAI E NO BOCA JUNIORS
Alexandre Manoel Nascimento
UFSC - CAPES
RESUMO: A diferença radical entre comunidade e sociedade aparece em Nancy evidenciando que
a comunidade necessita da partilha entre os diversos. O presente ensaio trata sobre questões da
comunidade a partir do filme Felizes juntos, dirigido por Wong Kar-Wai, e do envolvimento da
torcida organizada la doce com o Club Atletico Boca Juniors. Nessas relações, a comunidade parece
estar sempre ainda a vir, e a lemos assim: sem a fixação de um projeto a ser operado e sim como
o próximo passo de uma dança de tango, contando ainda com a entrega incondicional sobre a qual
escrevia Esposito em seu Communitas.
PALAVRAS-CHAVE: Comunidade; Wong Kar-Wai; Boca Juniors ; Buenos Aires.
A DIALOGUE IN A BAR IN THE SOUTH: HAPPY
TOGETHER IN LA DOCE, COMMUNITIES
IN WONG KAR-WAI AND BOCA JUNIOR
ABSTRACT: The radical difference between community and society appears in Nancy showing that
community needs sharing among the different. This essay deals with community issues based on the
film Happy Together, directed by Wong Kar-Wai, and the involvement of the organized fans la doce
with Club Atletico Boca Juniors. In these relationships, the community seems to be always coming,
and we read it like this: without the fixation of a project to be operated, but as the next step in a
tango dance, with the unconditional delivery about which Esposito wrote in his Communitas.
KEYWORDS: Community ; Wong Kar-Wai ; Boca Juniors; Buenos Aires.
Alexandre Manoel Nascimento é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade
Federal de Santa Catarina.
|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 20, n. 32, 2020|
doi:10.5007/1984-784X.2020.e82994 88
ENSAIANDO UMA CONVERSA EM UM BAR AO SUL:
FELIZES JUNTOS EM LA DOCE, COMUNIDADES EM
WONG KAR-WAI E NO BOCA JUNIORS
Alexandre Manoel Nascimento
Tenho mais ou menos vinte dias até a entrega desse texto. Já comecei
mais de três vezes e sempre acabo retornando para o começo, e essa nova
tentativa, pela forma com que me coloco escrevendo agora, em primeira pes-
soa, parece ser a mais desesperada delas. Nunca gostei de escrever em pri-
meira pessoa, acho que a impessoalidade acaba, invariavelmente, passando
mais credibilidade do que as frases que se iniciam em “eu”, ainda que o sujeito
esteja oculto. Gosto menos ainda dessa metalinguagem safada, de falar do
processo enquanto o processo está acontecendo — sou graduado em cinema
e lembro muito bem que era exatamente essa a estratégia (minha e dos cole-
gas) quando tínhamos algum filme para fazer e não tínhamos a menor ideia
de como gravá-lo. Chamávamos isso de “bancar o Coutinho”, fazendo alusão
a Eduardo Coutinho, famoso justamente por isso, por ser um “documentarista
do processo”, como no caso do filme Cabra marcado pra morrer. De toda for-
ma, esses dias no curso de cinema são passado, agora a história é outra, a luta
é com a escrita.
Enfim, cito isso apenas para começar o texto de fato, juro que não é uma
tentativa barata de ganhar um parágrafo a mais. Como ia dizendo, tenho mais
ou menos vinte dias para a entrega do ensaio e já falhei miseravelmente mais
de uma vez em torná-lo interessante. Na tentativa antes dessa, acabei de-
sistindo de tudo que tinha escrito. Fui aliviar a cabeça, pensar em outra coi-
sa. Não tão em outra coisa assim: fui ver um filme de Wong Kar-Wai, diretor
cujos filmes são a parte mais importante da minha dissertação em andamento.
Mas tentei vê-los sem nenhuma pretensão, apenas como alguém que gosta de
acompanhar histórias em uma tela por duas horas para esquecer do mundo,
ainda que saiba bem que isso é impossível.
O filme que escolhi foi Felizes juntos1, não sei bem o porquê, talvez por
ele não ser tão central na minha pesquisa. É um dos dois únicos filmes que
Wong Kar-Wai produziu fora de Hong Kong; neste caso, a história se passa em

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT