Ensaio para uma universidade popular

AutorDaniel Caribé
CargoDaniel Caribé é mestre em Administração (Universidade Federal da Bahia) e trabalha com educação popular assessorando cooperativas e movimentos sociais. [dancaribe@gmail.com]
Páginas50-63
ENSAIO PARA UMA UNIVERSIDADE POPULAR
DANIEL CARIBÉ *
Um processo eleitoral, por mais expressivo que seja o seu resultado, não pode
por si determinar toda a história da luta de classes de certo país. Em uma
classe totalmente fragmentada como se apresenta hoje a dos trabalhadores,
uma fração dela também não pode representar todo o conjunto. Para cada
momento, para cada fração, não se deve perder a capacidade de enxergar o
movimento e suas contradições.
Quando o Partido dos Trabalhadores (PT) chega ao poder, através da vitória
de Lula, um processo de ruptura que vinha se esboçando antes se
aprofunda. Essa ruptura não se expressa, assim como defende boa parte da
esquerda, nos rachas e nas refundações partidárias que se deram logo nos
primeiros momentos. Apresenta-se, antes de qualquer coisa, no abandono de
velhas práticas por parte do conjunto dos trabalhadores e no aparecimento de
novas formas de construir as lutas. Torna-se nítida e concreta não ao nível das
autoproclamadas vanguardas mas nas palavras de ordem e nas formas de
organização dos movimentos sociais de caráter mais popular. Por sua vez,
devido à dispersão das lutas, é tarefa arriscada procurar algo que ligue tão
diversos movimentos e coloque-os no mesmo momento histórico.
Com o fim das contradições internas do PT e do conjunto de instituições a ele
ligadas, e com a vitória de práticas e projetos das classes dominantes dentro
deste partido, diversos grupos sociais de diversas camadas dos trabalhadores
voltaram-se para a construção de uma nova perspectiva. Alguns destes grupos
determinaram este novo caminho de forma mais rápida e decidida do que
outros, mas, apesar disto, nenhum deles conseguiu levar consigo toda a fração
da classe que faz parte. Se já não bastasse a fragmentação imposta pela
reestruturação do capital, agora essa fragmentação se aprofunda no momento
em que alguns se mantêm apegados ao velho projeto, enquanto outros tentam
mudar os rumos.
Entretanto, o ano de 2007 enxergou um fato importante. O Movimento
Estudantil, que não é a vanguarda da classe e que, inclusive, não é consenso
enquadrá-lo como movimento social nem como algo típico da classe
trabalhadora, pareceu ser o que mais conseguiu esboçar uma unidade quando
tomamos como referência as práticas adotadas pelos seus diversos
segmentos em todo o país. Avançando no processo de ruptura com o “modo
petista”, o movimento dos estudantes das mais dispersas universidades
radicalizou suas lutas adotando métodos muito semelhantes em quase todos
os locais. Ocuparam as reitorias ou os aparatos das burocracias acadêmicas,
questionaram as formas de organização do antigo Movimento Estudantil e
colocaram em suas pautas reivindicações que expressam o caráter proletário
dos seus componentes, com foco prioritário nas variadas formas de assistência
estudantil. Mais do que isso: em muitos locais, a própria Universidade foi posta
em cheque, esboçando o aparecimento de um novo projeto político para todo o
segmento.

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