ESTRATÉGIA DE VIVER A VIDA DE UMA TRABALHA- DORA EXPATRIADA À LUZ DA ESTRATÉGIA EXISTENCIAL CONSUMISTA

AutorAline Mendonça Fraga, Vanessa Amaral Prestes, Carmem Ligia Iochins Grisci
Páginas34-55
GÊNERO|Niterói|v.20|n.1|34 |2. sem.2019
ESTRATÉGIA DE VIVER A VIDA DE UMA TRABALHA-
DORA EXPATRIADA À LUZ DA ESTRATÉGIA EXISTEN-
CIAL CONSUMISTA1
Aline Mendonça Fraga2
Vanessa Amaral Prestes3
Carmem Ligia Iochins Grisci4
Resumo: O presente estudo toma peculiaridades relativas ao gênero na especifi-
cidade da expatriação, à luz da estratégia existencial consumista. Trata-se de uma
pesquisa qualitativa que se utilizou da entrevista narrativa como dispositivo de pro-
dução e análise. Os dados foram analisados à luz do referencial teórico vindo a com-
porem a narrativa construída no processo de análise. Os resultados apontaram para
uma estratégia de viver a vida pautada na incorporação de um modo de ser e agir con-
forme a ordem masculina. A estratégia de viver a vida caracterizada se viu exacer-
bada em condição de expatriação, sustentando a estratégia existencial consumista.
Palavras-Chave: Gênero; Expatriação; Estratégia de viver a vida.
Abstract: The present study takes peculiarities related to the gender in the
specificity of the expatriation, regarding the existential consumerist stra-
tegy. It is a qualitative research which used the narrative interview as a de-
vice of production and analysis. The data were analyzed according to the
theoretic referential coming to compose the narrative constructed in the
process of analysis. The results pointed to a strategy of living life guided
by the incorporation of a way of being and acting in accordance to the mas-
culine order. The strategy of living life characterized was exacerbated in
an expatriation condition, sustaining the existential consumerist strategy.
Keywords: Gender; expatriation; strategy of living life.
Introdução
O presente estudo toma peculiaridades relativas ao gênero na especifici-
dade da expatriação, à luz da estratégia existencial consumista. Parte-se do
1 Agradecemos à Capes e ao CNPq pelo apoio financeiro.
2 Doutoranda em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA/UFRGS). E-mail: alinemf.
adm@gmail.com
3 Mestre e Doutora em Administração (PPGA/UFRGS). E-mail: vanessa.amaral.prestes@gmail.com
4 Doutora em Psicologia, professora titular no Programa de Pós-Graduação em Administração na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (PPGA/EA/UFRGS), Pesquisadora Produtividade em Pesquisa CNPq – 1D (302978/2014-
3). E-mail: carmem.grisci@ufrgs.br
p.034-055
GÊNERO|Niterói|v.20|n.1| 35|2. sem.2019
entendimento de que a sociedade líquido-moderna é uma sociedade de con-
sumidores, na qual os indivíduos são, ao mesmo tempo, convocados a con-
sumir e a transformarem-se em mercadorias vendáveis. Ela se “mantém em
curso como uma forma específica de convívio humano, enquanto ao mesmo
tempo estabelece parâmetros específicos para as estratégias individuais de
vida que são eficazes e manipula as possibilidades de escolha e conduta indi-
viduais” (BAUMAN, 2008, p. 41).
O investimento em si visibiliza a vendabilidade por meio do empenho em
“obter qualidades para as quais já existe uma demanda de mercado, ou re-
ciclar as que já se possui, transformando-as em mercadorias para as quais a
demanda é criada” (BAUMAN, 2008, p. 75). O indivíduo deve, portanto,
estar continuamente remodelando e reinventando sua vida na perspectiva da
estratégia existencial consumista, que se vê encorajada à medida que pessoas
aparentemente distintas são impelidas a se colocarem no mercado como pro-
dutos desejáveis para o consumo.
Ao movimentar-se entre o consumo e o esforço para fazer de si uma mer-
cadoria vendável, o indivíduo – homem ou mulher – abandonaria com fa-
cilidade a vida vivida e o jeito de ser com a mesma prontidão se entregaria
e se disponibilizaria para o que está por vir. Nessa perspectiva, manter-se
como uma mercadoria vendável se constitui como a estratégia existencial
consumista para levar a vida na sociedade de consumo, e o corpo é um dos
lugares que mais recebem investimentos em prol da vendabilidade (BAU-
MAN, 2007; 2008). Essa configuração “representa o tipo de sociedade que
promove, encoraja ou reforça um estilo de vida e uma estratégia existencial
consumista” (BAUMAN, 2008, p. 71). Há de se considerar, entretanto, que
essa questão envolva particularidades relativas ao gênero.
Por gênero compreende-se a interligação entre: “(1) um elemento consti-
tutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos,
e (2) uma forma primária de dar significado às relações de poder” (SCOTT,
1995, p. 86). A autora expande a teorização ao considerar o gênero como
um campo no qual, ou por meio do qual, o poder se articula, interferindo nas
relações sexuais e sociais. Associa-se gênero ao conjunto da vida que deve ser
consagrado a gerenciar a empregabilidade individual, vendo-se esse conjunto
como contabilidade existencial, em que “o curriculum vitae deve descrever
com precisão a contabilidade de suas qualificações, de suas formações e de
seus desempenhos, a fim de permitir aos empregadores medir com precisão
o capital-competência” (GAULEJAC, 2007, p. 185).
Nesse sentido, toma-se a expatriação como campo pertinente ao estudo,
dado que o crescimento das operações internacionais das empresas não foi
acompanhado por um crescimento proporcional do número de homens e de
p.034-055

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT