Estado de Exceção Permanente: o campo e a experiência biopolítica

AutorLucas Moraes Martins
CargoCentro Universitário UNA, Belo Horizonte, MG, Brasil
Páginas177-196
Estado de Exceção Permanente: o campo e a
experiência biopolítica
Permanent State of Exception: the camp and the biopolitics experience
Lucas Moraes Martins
Centro Universitário UNA, Belo Horizonte – MG, Brasil
Universidade FUMEC, Belo Horizonte – MG, Brasil
Resumo: O presente artigo pretende apresentar,
concisamente, o conceito de campo e como ele
foi um absoluto espaço biopolítico. A relação
entre o estado de exceção permanente (o cam-
po) e a biopolítica foi apresentada a partir da
obra de Giorgio Agamben. Concluiu-se que o
campo foi um absoluto espaço biopolítico, por-
que, nele, as cesuras biopolíticas não recaíam
sobre a zoé politizada, mas sobre a vida nua que
não podia mais ser inscrita no ordenamento ju-
rídico. Entendendo a estrutura do campo, pode-
-se fortalecer a nossa luta contra os espaços de
exceção existentes dentro das atuais democra-
cias.
Palavras-chave: Campo. Biopolítica. Giorgio
Agamben.
Abstract: This article concisely presents the
concept of camp and how this was an absolute
biopolitical space. The relationship between
the permanent state of exception (the camp)
and biopolitics was presented from the work
of Giorgio Agamben. It was concluded that
the camp was an absolute biopolitical space,
because in this space, the biopolitics caesuras
didn’t affect the politicized zoé, but upon the
bare life that couldn’t be anymore included
in the legal system. Understanding the struc-
ture of the camp, we can strengthen our fight
against the existing spaces of exception in the
democracies.
Keywords: Camp. Biopolitics. Giorgio Agam-
ben.
Recebido em: 12/08/2015
Revisado em: 11/09/2015
Aprovado em: 08/10/2015
Doi: http://dx.doi.org/10.5007/2177-7055.2015v36n71p177
178 Seqüência (Florianópolis), n. 71, p. 177-196, dez. 2015
Estado de Exceção Permanente: o campo e a experiência biopolítica
1 Introdução
O campo é o paradigma do espaço político moderno, o ponto onde
política transforma-se em biopolítica e o homo sacer, o portador da
vida nua, se torna indistinguível em uma zona cinzenta (AGAMBEN,
2000).
Para se compreender de forma adequada a atualidade política desta
afirmativa de Giorgio Agamben, por vezes mal compreendido, é necessá-
rio entender o funcionamento do estado de exceção. Este, em sua forma
arquetípica, é essencialmente caracterizado por uma suspensão temporá-
ria do ordenamento jurídico, por força de uma decisão soberana. Entre-
tanto, quando se procurou dar uma localização territorial permanente ao
estado de exceção, surgiu o campo, a exceção feita regra.
Entendendo o funcionamento singular do campo e sua estreita re-
lação com a experiência biopolítica, pode-se trazer a lume os espaços de
exceção dentro das democracias. Não se trata, portanto, de procurar ape-
nas por um espaço de confinamento cercado por arames farpados, mas de
investigar em quais espaços a norma e a vida nua entram em uma zona
cinzenta de indistinção.
O tema contém uma pertinência política atual, notadamente quando
se percebe que a teoria do estado de exceção “[...] não pode ser um fim
ou um objetivo em si mesmo, senão que tem que estar inscrita em um
conjunto mais amplo, no contexto das tecnologias de governo” (AGAM-
BEN, 2014, p. 3). A política ocidental moderna tem demonstrado a cres-
cente coincidência entre os paradigmas do governo e do estado de exce-
ção através de uma “[...] prática gerencial que governa o curso das coisas,
adaptando-se cada vez, em seu intento salvífico, à natureza da situação
concreta com que deve medir forças” (AGAMBEN, 2011, p. 64). Não se
trata de uma quimera. O estado de exceção permanente como paradigma
gerencial tem sido amplamente utilizado, por exemplo, no âmbito econô-
mico, como uma medida diante de situações urgentes em favor do poder
financeiro desatrelado das funções estatais (BERCOVICI, 2008). Toda-
via, em um viés mais benjaminiano, questiona-se precisamente o papel
estatal dentro das relações éticas e políticas, porquanto a biopolítica não

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