Formação e exercício profissional em Serviço Social

AutorCláudia Mônica dos Santos
CargoDoutora em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Adjunta III na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Presidente da Abepss, gestão 2011-2012
Páginas159-162
EDITORIAL
R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 159-160, jul./dez. 2012
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Formação e exercício profissional em Serviço Social
Em 24 de abril de 2007, o governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) lançou o Plano
de Desenvolvimento da Educação (PDE), que faz
parte do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC). O PDE vem se materializando por meio de
um conjunto de decretos, projetos de lei, resoluções
e portarias que estruturam a proposta de
“contrarreforma” universitária em andamento. Para
entender essa proposta, é preciso recuperar algumas
informações da história referentes à educação supe-
rior no país nas três últimas décadas.
Em meados dos anos 1980, no governo do presi-
dente José Sarney (1985-1990), foi criado o Grupo
Executivo para a Reformulação da Educação Supe-
rior (Geres), que, entre outros objetivos, colocava-se
contra o modelo de educação superior pautado na
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão,
mais tarde defendido na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB, 1996). Esse grupo foi desfeito, na
época, ante a reação dos segmentos sociais organi-
zados comprometidos com um projeto de universida-
de pública, gratuita, presencial, laica e socialmente
referenciada.
No governo do presidente Fernando Collor de
Mello (1990-1992), no entanto, consolida-se o ata-
que ao que se passou a chamar de “modelo único de
universidade”, em favor da necessidade de sua di-
versificação, explicitada na ideia de “Universidade
de Ensino”. No governo seguinte, de Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002), essa concepção se
operacionalizou como ação do Ministério da Educa-
ção (MEC): “expandir o sistema de ensino superior
público por meio da otimização dos recursos
institucionais aos modelos existentes” (Planejamen-
to Político-estratégico 1995/1998 – MEC, 1995, p.
26). Tal proposta tinha como referência uma das di-
retrizes do Banco Mundial para a “reforma” do ensi-
no superior nos países em desenvolvimento.
A partir daí, a flexibilização do princípio da
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão
passa a integrar, ostensivamente, a pauta das políti-
cas públicas voltadas para a educação superior,
flexibilização que se materializou em parâmetros como
cursos sequenciais, ensino a distância, ciclos bási-
cos. Estes, por sua vez, sustentaram iniciativas como
a criação da Universidade Aberta do Brasil e da
Universidade Nova. Essas iniciativas envolvem três
âmbitos: o ensino presencial público, o ensino
presencial privado e o Ensino a Distância (EAD)
público e privado.
No que se refere ao ensino público, essa concep-
ção de flexibilização foi incorporada ao PDE no go-
verno Lula, tendo assumido grande destaque o Plano
de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais (Reuni). Os objetivos principais do Reuni
são evitar a profissionalização precoce e fechada,
por meio da introdução dos ciclos ou níveis de for-
mação, reduzir as taxas de evasão e aumentar o nú-
mero de vagas, com a intenção de elevar em 100% o
número de ingressantes nos cursos superiores. Tudo
isso, porém, sem o aumento proporcional da verba
de custeio das universidades e, consequentemente,
do número de docentes.
Igualmente grave é o processo de privatização
e mercantilização do ensino superior, com a ampli-
ação, sem critérios, do número de cursos privados
em diversas áreas. No caso específico do Serviço
Social, em 1998, havia no país 89 cursos reconhe-
cidos pelo MEC. Conforme dados do Instituto Na-
cional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aní-
sio Teixeira (INEP/MEC), esse número subiu para
111, em 2002, e para 567, em julho de 2012. Ou
seja, de 1998 a 2012, houve um crescimento de
mais de 500% no número de cursos de Serviço
Social oferecidos no país, sem que se reconheçam
condições de infraestrutura operacional e docente
para atender tal oferta.
O EAD, por sua vez, tem sido apresentado pelo
MEC como instrumento capaz de garantir e ampliar
o acesso da população ao ensino superior e de reali-
zar responsabilidade social. Segundo o site do MEC,
havia, já em 2010, 189 instituições credenciadas para
oferecer EAD, cada qual com seus respectivos polos.
A relação custo-benefício tem resultado em uma ade-

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