O êxodo dos jovens rurais, a teoria do bem viver e a resistência da comunidade remanescente de quilombo do Ibicuí D'Armada, na fronteira do RS

AutorRosemeri da Silva Madrid, Margarete Lopez Gonçalves
CargoMestrado em Administração, Especialização em Desenvolvimento, Universidade Federal do Pampa. E-mail: rosemeri.madrid@gmail.com. - Doutoranda em Desenvolvimento Rural/Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mestrado em Economia pela Pontífice Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail: margaretelg@gmail.com.
Páginas35-54
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 45, n. 251, p. 567-586, set./dez., 2020 | ISSN 2447-861X
O ÊXODO DOS JOVENS RURAIS, A TEORIA DO BEM VIVER E A
RESISTÊNCIA DA COMUNIDADE REMANESCENTE DE QUILOMBO
DO )B)CUÍ DARMADA NA FRONTE)RA DO RS
The exotus of rural young people, the theory of well living and the resistance of the
remaining Community of quilombo do Ibicuí dArmada in fronteira do RS
Rosemeri da Silva Madrid
Universidade Federal do Pampa UNIPAMPA RS
Margarete Lesina Lopes Gonçalves
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS - RS
Informações do artigo
Recebido em 22/08/2020
Aceito em 08/09/2020
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2020.n251.p567-586
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
MADRID, Rosemeri da Silva; GONÇALVES, Margarete
Lesina Lopes. O êxodo dos jovens rurais, a Teoria do
Bem Viver e a resistência da comunidade remanescente
de Quilombo do Ibicuí dARMADA, na fronteira do RS.
Cadernos do CEAS: Revista Crítica de Humanidades.
Salvador/Recife, v. 45, n. 251, p. 567-586, set./dez. 2020.
DOI: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2020.n251.p567-586
Resumo
O presente artigo tem por objetivo compreender os processos
de resistência e perenidade das famílias do território quilombola
do Ibicuí dArmada localizado no município de SantAna do
Livramento na fronteira oeste do R S. Para atingir este objetivo
foi adotada abordagem qualitativa, com entrevistas com um
grupo de jovens moradores da comunidade e a liderança local.
Tomando por base as teorias das capacitações e a teoria do Bem
Viver, conclui-se que a comunidade remanescente quilombola
possui extrema riqueza cultural e histórica para o município,
possuindo potencial ainda não explorado para alavancar
desenvolvimento rural, cultural, social e humano, mas que, se
não houver ações efetivas neste sentido, o território corre sério
risco de se extinguir.
Palavras-Chave: Comunidade quilombola. Jovens rurais.
Território Negro. Desenvolvimento.
Abstract
This article aims to understand the processes of resistance and
perpetuity of families in the quilomnola territory of Ibicuí
dArmada located in the municipality of SantAna do
Livramento on the western bo rder of RS. To achieve this
objetctive, a qualitative approach was adopted, with interviews
winth a group of young residentes of the community and the
local leadership. Based on the theories of training and the theory
of Well Living, it is concluded that the remaining quilombola
community has extreme cul tural and historical wealth for the
municipality, having untapped potential to leverage rural,
cultural, social and human development, but that, if there are no
effectie actions in this regard, the territory is in serious danger of
becoming extinct.
Keywords: Quilombola community. Rural youth. Black
territory. Development.
Introdução
A pr esença de povos tradicionais no pampa gaúcho se confunde com a história do
próprio pampa. Entre estes povos, ident ifica-se, considerando o aspecto conceitual e
sociológico, as comunidades quilombolas e comunidades negras remanescentes de
quilombo, entendidas como grupo social local, que desenvolve dinâmicas temporais de
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O êxodo dos jovens rurais, a Teoria do Bem Viver... | Rosemeri da Silva Madrid e Margarete Lesina Lopes Gonçalves
vinculação a um espaço físico que se torna território coletivo pela transformação da natureza
por meio do trabalho de seus fundadores, como bem resgatam Brandão (2010) e Rodrigues,
Guimarães e Costa (2011).
Estas mesmas comunidades, embora com amparo institucional ancorado em políticas
públicas de reconhecimento e titulação, têm sua sobrevivência e resistência ameaçada por
um cenário contemporâneo de retração no apoio a estas comunidades, bem como ao êxodo
dos jovens remanescentes de quilombo que, em seus processos de tomada de decisão,
muitas vezes são levados a abandonar o campo em busca de oportunidade de emprego ou
continuidade nos estudos.
Este quadro é dissonante da ideia de desenvolvimento abordada por Sen (2010) que
pode ser visto como um processo de expansão das liberdades, os quais exigem que se
removam as principais fontes d e privações, enquanto que os jovens remanescentes de
quilombo não têm, muitas vezes, a liberdade para faze r suas escolhas, sendo levados, por
questões sociais e econômicas, a deixar o campo, comprometendo, com esta decisão, a
perenidade das comunidades quilombolas, em especial a comunidade remanescente de
quilombo do Ibicuí dArmada localizada no município de SantAna do Livramento fronteira
oeste do Rio Grande do Sul.
A percepção, neste contexto, é de que a existência destes grupos sociais esteja
condicionada a fatores econômicos, conforme a ideia de Polanyi (1980), segundo a qual a
economia do homem está submersa em suas relações sociais [...] e ele age assim para
salvaguardar sua situação social, suas exigências sociais, o que levaria os jovens rurais a uma
situação de êxodo do campo.
O município de SantAna do Livramen to tem uma área territorial total de 6.941,399
km2 (IBGE, 2019),
o que o faz o segundo maior município em área no estado do Rio Grande do
Sul E SantAna do Livramento possui área rural dividida em sete distritos
conforme dispõe a Lei Municipal 2 .555, de 29 de novembro de 1989. Uma
destas áreas é o terceiro distrito do )bicuí dArmada localizado às margens
do Rio Ibicuí da Cruz, fazendo divisa com o município de Dom Pedrito.
Dentro desta área de terra, são residentes, segundo o último Censo Demográfico do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, trinta e uma famílias descendentes de
escravos alforriados, que receberam do Governo Federal, através da Fundação Cultural

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