Faces da crítica de Alessandro Baratta

AutorBruno Amaral Machado, Carolina Souza Cordeiro
CargoPós-doutorado em Sociologia (UnB ? John Jay-NY/) ? 2013)/Doutora em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (2020)
Páginas405-431
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 46, n. 253, p. 405-431, maio/ago., 2021 | ISSN 2447-861X
FACES DA CRÍTICA DE ALESSANDRO BARATTA
Features of Alessandro Baratta’s criticism
Bruno Amaral Machado
Centro Universitário de Brasília
Carolina Souza Cordeiro
Centro Universitário de Brasília
Informações do artigo
Recebido em 01/07/2021
Aceito em 18/10/2021
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2021.n253.p405-431
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
MACHADO, Bruno Amaral; CORDEIRO, Carolina Souza.
Faces da crítica de Alessandro Baratta. Cadernos do
CEAS: Revista Crítica de Humanidades.
Salvador/Recife, v. 46, n. 253, p. 405-431, maio/ago.
2021. DOI: https://doi.org/10.25247/2447-
861X.2021.n253.p405-431
Resumo
O artigo propõe -se a analisar o pensamento crítico de Alessandro Baratta,
criminólogo i taliano de influência no campo criminológico crítico brasileiro,
rastrear categorias utilizadas e dialogar com tradições que compartilhem dessa
base teórica. Investiga-se o impacto dos estudos marxistas na concepção
barattiana de crítica. Esse mapeamento resgata disputas filosóficas e
sociológicas sobre os sentidos de ser c rítico, discute com outras tradições
críticas e problematiza supostos consensos. A investigação bibliográfica busc a
responder quais sent idos da crítica reputamos centrais na construção do
pensamento barattiano a partir da perspectiva relacional entre Marx e Baratta.
Explicitamos os diálogos que revelam raiz marxista, articulação do vocabulário
de Marx na teoria barattiana e vinculação dos percursos de Baratta com os
novos horizontes da crítica. Não há detalhamento dos autores selecionados,
cuja obra excede bastante o que apresentamos. Interpretamos os autores que
trazemos para o diálogo a partir de nossa inserção no campo. Acreditamos que
selecionamos aspectos suficientes e necessários para o objetivo traçado.
Identificamos que os sentidos da crítica barattiana inscrevem -se com forte
influência do alfabeto marxista. Desde sua produção filosófica, passando pelas
vertentes idealista e empírica dessa teoria criminológica até suas publ icações
finais, o “espectro de Marx” faz-se presen te. Apesar do esforço em retomar
diferentes rumos do debate, a crítica barattiana parece continuamente
reelaborada sob lentes marxistas. A principal contribuição está na descrição e
discussão das funcionalidades e transformações da crítica na o bra de Baratta.
Com isso, também avaliamos desdobramentos do debate no pensamento
criminológico e na conformação das semânticas críticas na criminologia ,
especialmente no Brasil.
Palavras-chave: Crítica. Alessandro Baratta. Marxismo. Criminologia
contemporânea. Trajetória barattiana.
Abstract
This article proposes an analysis of Alessandro Baratta's critical thinking. He
was a Italian criminologist that has influenced Brazilian critical criminological
field. We trace categories and dialogue with traditions that share his theoretical
basis. We also examine the impact of Marxist studies on Baratta’s c onception
of criticism. Mapping the semantics of Barattian criticism, we recover some
philosophical and sociological disputes about the meaning of being critical, we
discuss with other critical traditions and question supposed consensus. The
bibliographic investigation aims to answer which meanings of criticism we
believe are central to the construction of Barattian thinking from the relational
perspective between Marx and Baratta. We show dialogues that reveal Marxist
roots, the articulation of Marx’s vocabulary i n Barattian theorethical proposal
and the link between Baratta’s paths and new horizons of the criticism. There
are no details of these selected authors, whose works exceeds our goals. We
interpretate the authors we bring to discussion from our perspective in the
field. We believe, therefore, that we have selec ted necessary and enough
aspects. The meanings of Barattian criticism are written with s trong influence
from the Marxist alphabet. Since Baratta’s philosophical p roduction, passing
through idealistic and empirical strand of his criminological theory until his final
publications, “Marx’s spectrum” is present. Despite his effort in taking different
paths in the debate, Barattian criticism keeps being con tianually reformulated
under Marxist lenses. Baratta’s path suggests that he recognizes the
importance of other critical categories. The main contribution is the description
and discussion about the functionalities and transformations of the criticism in
Alessandro Baratta’s work. So, we also evaluate developments of the debate in
the criminological thinking and the conformation of critical semantics ,
particularly in Brazil.
Keywords: Criticism. Alessandro Baratta. Marxism. Contemporary
criminology. Barattian path.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 46, n. 253, p. 405-431, maio/ago., 2021.
406
Faces da crítica de Alessandro Baratta | Bruno Amaral Machado e Carolina Souza Cordeiro
Introdução
Estudos sobre as trajetórias e propostas de autores relevantes na construção dos
campos de conhecimento permitem compreender os pensamentos que circulam
internacionalmente, em distintos momentos históricos, as especificidades locais em que
pensadores e respectivas ide ias são recepcionados, traduzidos, muitas vezes
metamorfoseados, em diferentes contextos e tradições (SOZZO, 2014, 2017; CARRINGTON
et al., 2017; CASTEL, 1998; DEL OLMO, 1979, 1990; HATHAZY, 2017; YOUNG, 2011).
Certamente, compreender esse processo supõe observar atentamente como essas ideias são
apropriadas localmente. Além disso, supõe considerar os fundamentos e transformações por
que passaram as proposições dos teóricos recepcionados nos campos acad êmicos. As
condições em que ocorrem as disputas en tre lideranças acadêmicas explicitam novos
cenários e espaços de concorrência pelo poder de nomeação científica (BOURDIEU, 1982,
1989, 2001, 2017; VASCONCELOS, 2014). Rastrear a entrada de lideranças acadêmicas e sua
forma de difusão e consolidação no Brasil sugere extenso âmbito de pesquisa que certamente
não se limita ao direito e às ciências sociais.
Na conformação de parte do campo criminológico crítico brasileiro, Alessandro
Baratta certamente é um dos autores centrais, um personagem que poderia ser descrito
como típico Chef d’École (CORDEIRO, 2020; ALVES, 2016; GINDRI, 2018; VASCONCELOS,
2014). O objetivo deste artigo é analisar percursos e transformações da crítica criminológica
do italiano. O estudo pretende rastrear categorias e dialogar com tradições que
compartilhem da mesma base teórica. Karl Marx é autor pioneiro da teoria crítica e seu
materialismo histórico foi central na construção dos pilares dos estudos filosóficos e
sociológicos críticos. Baratta recepciona em sua teoria crítica as categorias marxistas
(relações sociais de produção e luta de classes) assim como o método histórico e dialético de
abordagem humanista (ANDRADE, 2012; BARATTA, 1983; BERGALLI, 2002; CANZIANI,
2015).
Ao longo do século XX, distintos intérpretes da tradição marxista propiciaram campo
complexo e d e difícil sistematização. Argumenta-se que parte das correntes marxistas
optaram pelo uso acrítico das categorias propostas pelo filósofo alemão. Laclau e Mouffe
(2001, pp. 153 e 177) alertam para os riscos do essencialismo que leva a esse tipo de
reprodução, como consequências das articulações discursivas fundadas invariavelmente na

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT