Falando de institucionalização e movimentos sociais: usos, vantagens e limites da abordagem de encaixes institucionais e domínios de agência

AutorAdrian Gurza Lavalle
Páginas270-296
Direito autoral e licença de uso: Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative
Commons. Com essa licença você pode compartilhar, adaptar, para qualquer fim, desde que
atribua a autoria da obra, forneça um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações.
DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7984.2022.e89703
270270 – 298
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Falando de institucionalização e
movimentos sociais: usos, vantagens
e limites da abordagem de encaixes
institucionais e domínios de agência
Entrevista de Adrian Gurza Lavalle, Euzeneia Carlos,
José Szwako e Monika Dowbor a Beatriz Rodrigues Sanchez,
Fernando Peres Rodrigues e Victoria Lustosa Braga
Os estudos sobre os processos de institucionalização de demandas, re-
cursos de atuação, valores e categorias dos movimentos sociais no Estado,
bem como das capacidades estatais produzidas nesses processos, têm ga-
nhado cada vez mais destaque, seja na Ciência Política, na Sociologia ou
na Antropologia. Diversos conceitos e ferramentas analíticas têm sido de-
senvolvidos e/ou reatualizados com o objetivo de analisar de maneira com-
plexa os fenômenos correspondentes à institucionalização dos movimentos
sociais, notadamente a transformação de suas demandas e projetos em po-
líticas públicas, a institucionalização do acesso de atores de movimentos ao
Estado, e o reconhecimento desses atores como intermediários legítimos
de determinados grupos sociais. Dentre diversos conceitos já cunhados
pela literatura, no debate nacional – como os de “repertório de interação” e
“ativismo institucional” (ABERS, 2021; ABERS; SERAFIM; TATAGIBA,
2014) – e internacional – “poder infraestrutural” e ‘autonomia inserida’
(MANN, 1984, 2008; EVANS, 1995) – vinculados a perspectivas analíti-
cas especícas, estão os de “encaixes institucionais” e “domínios de agên-
cia”, inscritos na tradição do neoinstitucionalismo histórico e informados
por uma perspectiva centrada na mútua constituição entre atores sociais
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 21 - Nº 51 - Mai./Ago. de 2022
271270 – 296
e Estado. A proposta desenvolvida por Gurza Lavalle, Carlos, Dowbor
e Szwako, ganhou circulação em 2017, lançada como Working Paper do
Centro de Estudos da Metrópole (CEM)1. Dois anos depois, uma versão
mais desenvolvida e analiticamente aprimorada desse texto veio à luz como
capítulo de abertura do livro Movimentos sociais e institucionalização: políti-
cas sociais, raça e gênero no Brasil pós-transição. A abordagem, divulgada em
congressos e disciplinas acadêmicas, encontrou recepção favorável e ambos
os conceitos passaram a ser empregados por diferentes pesquisadores no
Brasil e América Latina.
Os usos desses conceitos mostraram não apenas ganhos analíticos,
mas também ambiguidades, insuciências e questões não tematizadas
na proposta. Tendo isso em vista, o objetivo desta entrevista, em que as
pesquisadoras e os pesquisadores mais jovens do Núcleo Democracia e
Ação Coletiva (NDAC) do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
(Cebrap) fazem perguntas aos pesquisadores e autores da proposta – a “ve-
lha guarda” do mesmo núcleo –, é aprofundar o entendimento teórico da
abordagem dos encaixes institucionais e de domínios de agência, e suas
possíveis aplicações na pesquisa empírica.
Antes de realizar a entrevista, nós, os pesquisadores da nova geração
do NDAC, zemos um levantamento bibliográco com o objetivo de ve-
ricar, nos estudos sobre a institucionalização e movimentos sociais, os
usos dos conceitos aqui em questão. Foi analisada parte da produção bi-
bliográca recente que utiliza esses conceitos em análises empíricas sobre
institucionalização e movimentos sociais. Examinamos, em um primeiro
levantamento, 21 textos em que um ou ambos os conceitos foram citados,
além dos oito capítulos do livro Movimentos sociais e institucionalização: po-
líticas sociais, raça e gênero no Brasil pós-transição. Depois, chamos alguns
dos artigos identicados a partir das citações do Google Scholar; aqueles
em que, na primeira triagem, se vericou o uso sistemático de um dos
conceitos ou de ambos. O levantamento bibliográco foi realizado entre
os meses de março e agosto de 2021. Ao longo deste período, reunimo-
-nos mensalmente de modo virtual para discutir os resultados parciais da
1 Disponível em: https://centrodametropole.fflch.usp.br/en/publicacoes/artigos-e-working-papers?artigos=&categ
oria=All&items_per_page=30&page=3

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