Fascismo à brasileira? Análise de conteúdo dos discursos de Bolsonaro após o segundo turno das eleições presidenciais de 2018

AutorAna Julia Bonzanini Bernardi, Jennifer Azambuja de Morais
CargoDoutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCP-UFRGS). E-mail: anajuliabbernardi@hotmail.com; https://orcid.org/0000-0001-7768-6264. / Professora no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCP-UFRGS). E-mail: jennifer.amorais...
DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7984.2021.72401
300300 – 327
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Fascismo à brasileira? Análise de
conteúdo dos discursos de Bolsonaro
após o segundo turno das eleições
presidenciais de 20181
Ana Julia Bonzanini Bernardi2
Jennifer Azambuja de Morais3
Resumo
O uso do termo fascismo discorre sobre uma série de governos autoritários e totalitários com um
forte apego populista. Primeiramente cunhado para denir o movimento liderado por Mussolini na
Itália, também é comumente usado para descrever a ideologia nazista e outros governos autoritá-
rios, principalmente, concentrados no cerne da extrema direita – sobretudo com cunho militarista.
Nesse sentido, dentro do contexto atual de expansão de governos de extrema direita em todo o
mundo, o termo vem ganhando novos contornos. No caso brasileiro, embora muitos utilizem o
termo autoritário, para descrever o novo presidente brasileiro Jair Bolsonaro, buscamos, neste artigo,
demonstrar, através de suas falas na campanha eleitoral e no primeiro mês de presidência, que este
emprega, sim, um discurso com cunho fascista. Para tanto, realizamos uma releitura dos principais
teóricos sobre o fascismo enumerando suas características encontradas no discurso bolsonarista,
tais como: construção de um inimigo comum, exaltação de um passado mítico, desvalorização das
minorias e desrespeito às liberdades democráticas em prol de uma guerra à corrupção.
Palavras-chave: Fascismo. Táticas Fascistas. Discurso. Bolsonaro.
1 Uma versão prévia deste artigo foi apresentada no VI Congreso Uruguayo De Ciencia Politica (organizado pela
Associação Uruguaia de Ciência Política AUCIP) ocorrido entre 9 e 12 de julho em Montevideo. As autoras
agradecerem os comentários dos pareceristas e editores da Revista que permitiram aprofundar o tema e realizar
a publicação.
2 Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(PPGCP-UFRGS). E-mail: anajuliabbernardi@hotmail.com; https://orcid.org/0000-0001-7768-6264.
3 Professora no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(PPGCP-UFRGS). E-mail: jennifer.amorais@gmail.com; https://orcid.org/0000-0002-8670-9197.
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 20 - Nº 48 - Mai./Ago. de 2021
301300 – 327
1 Introdução
Normalmente, quando falamos sobre fascismo, utilizamos o verbo
conjugado no passado: “o que foi”, “quando acabou”, “quem eram seus
representantes”. No entanto, a ideologia fascista não deve mais ser des-
cartada como mera miscelânea de idéias mal-acabadas e obscuras, nem
como uma cortina de fumaça cínica e propagandística usada para facilitar a
implementação de determinadas intenções políticas (LANDA, 2010). Ou
seja, essa ideologia deve estar presente nas discussões de Ciência Política
atuais, pois os discursos de caráter fascista, feitos na atualidade, devem ser
“levados a sério” e analisados.
Para além desta discussão acerca do autoritarismo e conservadorismo,
alguns pesquisadores estão apontando para a necessidade de se debater o
populismo nesta onda fascista (CALDEIRA NETO, 2020; GENTILE,
2020; FINCHELSTEIN, 2020); anal, como destaca Finchelstein
(2017), o populismo de direita no poder é uma forma de pós-fascismo
que reformula o fascismo para tempos democráticos. Em contrapartida,
o populismo de esquerda, por exemplo o do ex-presidente Lula, projeta a
democracia representativa, através dos valores liberdade e igualdade, a par-
tir de um líder carismático (GENTILE, 2020). No entanto, o “lulismo”,
no âmbito dos populismos de esquerda, “polarizou a sociedade brasileira
em torno de uma dialética “petismo x antipetismo” [...]; consequentemen-
te, Jair Bolsonaro também pode ser interpretado como uma reação igual
e oposta ao “lulismo”: populista, “antipetista”, “de direita” (GENTILE,
2020, p. 62).
Além disso, há aproximação ao nacionalismo, racismo e antipolítica.
Segundo Finchelstein (2020), esse novo populismo da extrema direita é
marcado pelo seu caráter globalista o que o aproxima de “uma nova in-
ternacional da direita”. Aproximando-se do fascismo, destaca-se que é o
contrário do pluralismo, pois fala em nome de uma maioria imaginária e
rechaça todas as opiniões que considera parte da minoria, principalmente
o populismo de direita (FINCHELSTEIN, 2020).
O impacto dessa ideologia em regimes democráticos pode ser muito
negativo, pois “[...] a política fascista pode desumanizar grupos minori-
tários mesmo quando não há o surgimento de um Estado explicitamente

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