Feminização das migrações haitianas, transnacionalização dos vínculos familiares e processos de violências: apontamentos para o Serviço Social

AutorTeresa Lisboa, Fernanda Borba
CargoProfessora do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil/Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Páginas134-159
134 GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 2 | p. 134-159 | 1. sem 2022
DOSSIÊ
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FEMINIZAÇÃO DAS MIGRAÇÕES HAITIANAS,
TRANSNACIONALIZAÇÃO DOS VÍNCULOS FAMILIARES E
PROCESSOS DE VIOLÊNCIAS: APONTAMENTOS PARA O
SERVIÇO SOCIAL
Teresa Lisboa1
Fernanda Borba2
Resumo: Partindo das epistemologias feministas, este artigo discorre sobre
a feminização das migrações de haitianas para o Sul do Brasil em busca de
melhores condições de vida ou para fugir de violências no país de origem.
Após fixar residência, essas mulheres iniciam a reunificação familiar.
O diálogo com as haitianas fortaleceu a abordagem metodológica das
narrativas sobre a transnacionalização dos vínculos familiares e as situações
de violências do Haiti ao Brasil. Pode-se concluir que o processo migratório
das haitianas contribui com o aperfeiçoamento de políticas, programas,
projetos e metodologias do Serviço Social, capazes de interseccionar os
diversos marcadores de diferença social.
Palavras-chave: Feminização da migração haitiana; Violências; Reunificação
familiar.
Abstract: Based on feminist epistemologies, this paper discusses the
feminization of Haitian migrations to southern Brazil in search of better living
conditions or to flee violence. After establishing residence, these women begin
family reunification. The dialogue with the Haitian women strengthened the
methodological approach of narratives on the transnationalization of family
ties and situations of violence from Haiti to Brazil. In conclusion, the migration
process of Haitian women contributes to improve policies, programs, projects
and methodologies in Social Work capable of intersecting the various markers
of social dierence.
Keywords: Haitian migration feminization; Violence; Family reunification.
1 Professora do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Universidade Federal
de Santa Catarina, Brasil. E-mail: tkleba@gmail.com. Orcid: 0000-0001-8328-7630
2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Universidade Federal
de Santa Catarina, Brasil. E-mail: fernandaely.borba@gmail.com. Orcid: 0000-0003-4708-7804
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GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 2 | p. 134-159 | 1. sem 2022
1 Introdução
Os Estudos Feministas, também chamados de “Crítica Feminista à
Ciência”, tiveram início de forma mais sistemática no final da década de
1970 e têm produzido significativa variedade de tipos de investigações tanto
nas áreas de Ciências Humanas como nas de Ciências Sociais Aplicadas.
Ainda que existam inúmeras correntes e diferentes concepções sobre
Feminismo, há alguns pontos convergentes entre elas: o primeiro é que a
categoria gênero, em interação com muitas outras categorias como raça,
etnia, classe, geração, orientação sexual, é um organizador-chave da vida
social; e segundo, não é suficiente entender como funciona e como está
organizada a vida social; é imprescindível que ocorram ações para tornar
as relações mais equitativas, mais justas e menos desiguais entre mulhe-
res e homens.
Nessa direção, as Epistemologias Feministas têm contribuído significa-
tivamente para um outro tipo de teoria do conhecimento, na medida em
que ressaltam o compromisso político com a mudança social.
A definição etimológica de Epistemologia vem do verbo grego epistemai,
que significa conhecer, aprender, entender, e logotipos que significa racio-
cínio, palavra, tratado, tópico, questão, assunto. Portanto, a Epistemologia
é uma teoria do conhecimento que considera o que pode ser conhecido e
como, ou por meio de quais testes as crenças são legitimadas como conhe-
cimento verdadeiro. Também chamada por Sandra Harding (1996) de filo-
sofia da ciência, uma metalinguagem, isto é, um conhecimento sobre o
conhecimento.
As Epistemologias Feministas têm como pressuposto que nenhuma
teoria do conhecimento pode ignorar o contexto social do sujeito que
conhece, ou seja, a pessoa cognoscente é compreendida como alguém
que realiza a investigação científica e daí produz o conhecimento e tam-
bém como alguém que realiza os processos de investigação e produção de
conhecimento a partir de um conjunto de elementos que constituem a sua
perspectiva teórica sobre o problema, a instituição na qual realiza suas ati-
vidades, bem como seus marcadores sociais, entre eles o de gênero.
Além de denunciar e demonstrar as desigualdades de gênero fomen-
tadas e mantidas pela ciência convencional, as estudiosas feministas pro-
põem novos recortes teóricos e metodológicos, como os estudos sobre
Decolonialidade e Interseccionalidade (CASTAÑEDA SALGADO, 2008).

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