A fraternidade na práxis da mediação familiar: Uma experiência universitária

AutorDeisemara Turatti Langoski
CargoDoutoranda em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Páginas90-110
A FRATERNIDADE NA PRÁXIS DA MEDIAÇÃO FAMILIAR: UMA
EXPERIÊNCIA UNIVERSITÁRIA
THE FRATERNITY IN PRAXIS OF FAMILY MEDIATION: AN UNIVERSITY EXPERIENCE
Deisemara Turatti Langoski1
Resumo: Este artigo traz uma reflexão sobre o papel da extensão uni versitária como importante meio d e
formação profissional e cidadã do acadêmico. Com enfoque no projeto de extensão Serviço de Mediação
Familiar da Unochapecó, contextualiza-se esta atividade como espaço de ap rendizagem e aborda-se a mediação
como uma cultura não adversarial, destacando a metodologia de trabalho utilizada nos atendimentos que se
caracteriza por ser interdisciplinar e que a partir desta práxis a mediação favorece a fraternidade considerada
categoria humanitária, que oportuniza a cidadania, a dignidade da pessoa humana e a cultura de paz. Este estudo
é eminentemente teórico, entretanto, procura fundamentar-se em verificação baseada na experiência própria e de
outros autores, para alcançar seus escopos.
Palavras-chave: extensão universitária, fraternidade, interdisciplinaridade, mediação familiar, cultura
adversarial.
Abstract: This article reflects on the role of university extension as an important means of professional and
citizen training of the academic. With focus on the extension project Family Mediation Service of Unochapecó,
contextualizes this activity as a learning space and approaches the mediation as a non -adversarial culture,
highlighting the working methodology us ed in the attendances that are characterized by interdisciplinary and
from this practice the mediation promotes fraternity considered humanitarian category, which provides
citizenship, human dignity and culture of peace. This study is mainly theoretical, however, seeks to be based on
verification based on my own experience and other authors, to reach their scopes.
Keywords: university extension, fraternity, interdisciplinarity, family mediation, adversarial culture.
Considerações iniciais
Com o advento da Constituição Federal de 1988, a dignidade humana foi considerada
princípio fundamental, o qual deve nortear todas as demais normas constitucionais. Nesse
mesmo diploma legal, o constituinte comprometeu-se na formação de uma sociedade
igualitária e justa com valores supremos de fraternidade, assentando a esta o status de
princípio. Assim, a fraternidade e a dignidade da pessoa humana são consideradas valores
humanitários e devem estar presentes em todo o meio social. No meio acadêmico, de igual
modo, devem ser observados e aplicados no ensino, na pesquisa e na extensão tríade que
compõe o eixo da universidade.
Aliada a essa concepção, a ideia de humanismo não se encontra dissociada nos
elementos essenciais da universidade; pelo contrário: esta percepção interfere diretamente na
“formação dos conceitos” e contribui para a “produção e aplicação dos conhecimentos
teóricos”.2 O compromisso com o processo de ensino e aprendizagem faz com que docentes
atuem em perspectivas inovadoras no ensino, na pesquisa e na extensão universitários. A
interdisciplinaridade é um desafio, não só compreendê-la, mas principalmente efetivá-la na
busca de conhecimento diferenciado, que tenha por perspectiva valores humanos e fraternos.
Na Unochapecó, o projeto de extensão Serviço de Mediação Familiar oportuniza aos
estudantes uma vivência diferenciada, em face do envolvimento das disciplinas Direito,
Serviço Social e Psicologia e da metodologia utilizada nos atendimentos. A prática da
extensão traduz-se na oportunidade para o estudante aliar a teoria à prática, de aproximá-lo da
comunidade, da experiência interdisciplinar, do exercício da dignidade e da fraternidade.
1 Doutoranda em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Direito pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora da Universidade Comunitária da Região de Chapecó
(Unochapecó). Advogada. E-mail: deisetl@unochapeco.edu.br.
2 PAVIANI, Jayme. Interdisciplinaridade: conceitos e distinções. 2. ed. Caxias do Sul: EDUCS, 2008, p. 119.
O que se pretende com este artigo é situar a importância da extensão universitária
como espaço de formação no meio acadêmico para compreender, de acordo com a
metodologia adotada no projeto Serviço de Mediação Familiar, em que aspectos sua dinâmica
favorece ou não a interdisciplinaridade e, como consequência, se podem ser observados
elementos da teoria da fraternidade.
1 Papel pedagógico da extensão universitária
A universidade é o espaço de criação de ideias e produção do conhecimento, o que
implica buscar e ter uma identificação própria adequada à realidade. É instituição social que
prima pela formação do ser humano e serve como instrumento de transformação social. Para
que a universidade possa alcançar esses objetivos são fundamentais a autonomia, como forma
de garantir o pluralismo de ideias, a diversidade e a liberdade de pensamento; aliado a isso,
precisa comprometer-se com a comunidade.
Preceitua a Constituição Federal de 1988, no art. 207,3 que constituem pilares da
universidade, indissociáveis, o ensino, a pesquisa e a extensão, sendo consideradas
tradicionalmente estas três finalidades como o papel da universidade.
Entretanto, pode-se considerar uma quarta finalidade, que somente a universidade
pode cumprir então se tem o significado principal do papel da universidade que consiste
em fazer a crítica da sociedade do seu tempo. Isto porque o ensino, a pesquisa e a extensão
podem, em princípio, ser finalidades exercidas por outras instituições, tais como empresas e
fundações. Entrementes a crítica da sociedade em seu tempo exige o exercício das três
anteriores e mais: uma visão conjunta das diferentes áreas de conhecimento, para que a
interpretação das questões sociais tenha um enfoque científico e amplo, capaz de propor
soluções. Nesse sentido, alerta Ana Luiza Lima Souza,4 “A Universidade está sendo
convocada a assumir seu lugar na sociedade, sem perder de vista a perspectiva crítica que
deve caracterizá-la.”
Destaca Edgar Morin:5 “[...] a Universidade conserva, memoriza, integra, ritualiza
uma herança cultural de saberes, ideias, valores; regenera essa herança ao reexaminá -la,
atualizá-la, transmiti-la; gera saberes, ideias e valores que passam, então, a fazer parte da
herança. Assim, ela é conservadora, regeneradora, geradora.”
No transcorrer dos anos, a universidade tem assumido diferentes funções, desde a
transmissão, produção, extensão do conhecimento até a socialização do saber produzido. Essa
função, por sinal, torna a própria u niversidade uma instituição responsável pela “integração
social dos indivíduos”. Nesta perspectiva encontram-se evidências da extensão universitária e
o que se pode deduzir é que a universidade tem a imperiosa “[...] necessidade de estar na
sociedade, respondendo suas questões e servindo a esta no seu processo de crescimento e
desenvolvimento”.6
O tema extensão universitária tem se mostrado como uma necessidade do exercício
docente; eis que sua percepção se modifica e relaciona-se conforme a evolução histórica da
educação e a mudança socioeconômica do Brasil. Ana Luiza Lima Souza7 afirma que “[. ..] a
Extensão Universitária tanto reflete as condições sociais, econômicas e políticas da sociedade
quanto exerce também influência sobre essas condições.”
3 Constituição Federal. Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de
gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão.
4 SOUZA, Ana Luiza Lima. A história da extensão universitária. 2. ed. São Paulo: Alínea, 2010, p. 129.
5 MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Trad. Eloá Jacobina. 9. ed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004, p. 81.
6 SOUZA. Op. Cit., p. 13-16.
7 Idem, p. 12.

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