Estado gel do corpo ficcional em 'Rosa canina' e 'Flores', de Mario Bellatin

AutorIsabel Jasinski
CargoProfessora adjunta do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da Universidade Federal do Paraná
Páginas51-66
doi:10.5007/1984-784X.2015v15n23p51
51
|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 15, n. 23, p. 51-66, 2015|
ESTADO GEL DO CORPO FICCIONAL EM
“ROSA CANINA” E FLORES DE MARIO BELLATIN
Isabel Jasinski
UFPR
RESUMO: Mario Bellatin cria um espaço de sentido peculiar na ficção, relacionado à expressão visual
e performática da linguagem. Assim, escrever se apresenta como linguagem do corpo em seu projeto
literário, um território de significância constantemente desterritorializado por sensações conectadas
ao jogo narrativo, com imagens e símbolos, nas ações literárias. Um sentido de destruição criativa
constitui o paradoxo expresso pela ficção como corpo e pelo corpo como ficção, naquilo que conside-
ramos a “escrita nômade” de Bellatin, por meio da anormalidade dos personagens, da sua sexuali-
dade e sua religiosidade, como se pode comprovar em Flores (2000), especialmente em “Rosa ca-
nina”, publicado online pela Cosac Naify em 2009. A posição adotada pelo protagonista nessa obra
parece indicar um “regime de significação” específico, como entende Josefina Ludmer, segundo o
qual arte e realidade, ficção e biografia apagam suas fronteiras num “estado gel do intercâmbio”.
PALAVRAS-CHAVE: Mario Bellatin. Escrita nômade. Ilhas urbanas.
GEL STATE OF THE FICTIONAL BODY IN MARIO BELLATIN’S
“ROSA CANINA” AND FLORES
ABSTRACT:
Mario Bellatin creates a peculiar ‘space of sense’ in fiction, related to the visual and per-
formatic expressions of language. So, his literary project presents writing as body language, a terri-
tory of significance constantly deterritorialized by sensations connected to the narrative game, with
images and symbols in the literary actions. A sense of creative destruction constitutes the paradox
expressed by fiction as body and by the body as fiction, in what we call Bellatin’s "nomadic writing",
by means of the abnormality of the characters, their sexuality and religiosity, as one can note in Flo-
res (2000), especially in "Rosa canina", published online by Cosac Naify in 2009. The position
adopted by the protagonist in this work seems to indicate a specific "regime of signification”, as
Josefina Ludmer puts it, according to which art and reality, fiction and biography blur their borders in
a “gel state exchange”.
KEYWORDS: Mario Bellatin. Nomadic writing. Urban islands.
Isabel Jasinski é professora adjunta do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da Universi-
dade Federal do Paraná.
doi:10.5007/1984-784X.2015v15n23p51
52
|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 15, n. 23, p. 51-66, 2015|
ESTADO GEL DO CORPO FICCIONAL EM
“ROSA CANINA” E FLORES DE MARIO BELLATIN
Isabel Jasinski
Los cuerpos son anexos al territorio; desde esta perspec-
tiva, un territorio es una organización del espacio por
donde se desplazan cuerpos, una intersección de cuerpos
en movimiento: el conjunto de movimientos de cuerpos
que tienen lugar en su interior y los movimientos de
desterritorialización que lo atraviesan. Y eso puede verse
a través de las ficciones.
Josefina Ludmer
TERRITÓRIO FLUTUANTE DE FLORES
O texto intitulado “Rosa canina” foi disponibilizado em português inicial-
mente no portal da editora Cosac Naify, no lastro da publicação de Flores no
Brasil, livro lançado na Flip em 2009.1 O texto não faz parte da edição da obra
em português, nem em castelhano, mas está relacionado a ela por dois moti-
vos significativos: “rosa canina” está indiretamente ligada aos jacintos ou
gardênias, é essência de uma flor nos Florais de Minas; o narrador e persona-
gem do texto virtual é o mesmo de Flores. Como que marginal à edição do
livroconsiderada refinada por Mario Bellatin, conforme comenta numa
entrevista de outubro de 2009 (“Mario Bellatin e os silêncios eloquentes”)2 —,
o texto condensa a posição adotada pelo escritor protagonista de Flores di-
ante da linguagem e do universo ficcional. Expressaria também uma posição
do escritor artista? Bellatin entende que não fronteiras entre ficção e ver-
dade, isso explica a sobreposição de formas de real entrelaçadas pela narrativa
e pela biografia do autor, apesar de requerer para seus textos uma condição
autônoma que se justifique pela potência ficcional da escrita. Pode-se conside-
rar que a escrita se manifesta como linguagem do corpo, suas sensações, sua
1 Desenhos inéditos de Carla Caffé superam 3 mil downloads. 11 fev. 2010; BELLATIN, Mario.
Rosa canina. Trad . Livia Deorsola. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
2 DORIGATTI, Bruno. Mario Bellatin e os silêncios eloquentes. 2009. Fotos de To más Rangel.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT