A geopolítica das vacinas: guerra ou colaboração

AutorOsvaldo Barreto Filho
CargoDoutor em Cultura e Sociedade, professor aposentado da UFBA e pesquisador do LABMUNDO/UFBA
Páginas218-248
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 46, n. 253, p. 218-248, maio/ago., 2021 | ISSN 2447-861X
A GEOPOLÍTICA DAS VACINAS: GUERRA OU COLABORAÇÃO
The geopolitics of vaccine: war or collaboration
Osvaldo Barreto Filho
(UFBA)
Informações do artigo
Recebido em 03/10/2021
Aceito em 04/11/2021
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2021.n253.p218-248
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Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
BARRETO FILHO, Osvaldo. A Geopolítica das vacinas:
guerra ou colaboração. Cadernos do CEAS: Revista
Crítica de Humanidades. Salvador/Recife, v. 46, n. 253,
p. 218-248, maio/ago. 2021. DOI:
https://doi.org/10.25247/2447-861X.2021.n253.p218-248
Resumo
Este artigo analisa o atual quadro da produção m undial de
vacinas covid-19, destacando o grande feito da ciência e da
tecnologia, que, em poucos meses após o início da pandemia,
foram capazes de gerar as condições para a produção de vacinas
em larga escala. O artigo aborda como essa produção foi
concentrada em poucos países e em um pequeno número de
vacinas e como a distribuição dessas vacinas foi marcada pela
disputa dos Estados Unidos contra a China, na denominada
geopolítica das vacinas. O artigo aborda, ainda, como a
distribuição de vacinas tem sido marcada pela iniquidade, com a
quase exclusão do processo de distribuição de doses a países
pobres da África, da Ásia e das Américas. Por último, é feita uma
análise de causas prováveis do fracasso do COVAX, mecanismo
criado pela OMS com o objetivo de garantir uma distribuição
mais equitativa de vacinas.
Palavras-Chave: Covid-19. Pandemia Covid-19. Geopolítica das
vacinas.
Abstract
This article analyzes the current picture of the world production
of covid-19 vaccines, highlighting the great achievement of
science and technology, which in a few months after the start of
the pandemic were able to g enerate the conditions for the
production of vaccines on a large scale. The article discusses how
this production was concentrated in a few countries and in a
small number of vaccines and how the distribution of these
vaccines was marked by the dispute between the United States
and China, in the so-called geopolitics of vaccines. The article
also discusses how the distribution of vaccines has been marked
by inequity, with the almost exclusion of the process of
distributing doses in poor countries in A frica, Asia and the
Americas. Finally, an analysis of the probable causes of the
failure of COVAX, a mechanism created by the WHO, with the
objective of guaranteeing a more equitable distribution of
vaccines, is carried out.
Keywords: Covid-19. Covid-19 pandemic. Covid-19 vaccines.
Geopolitics of vaccines.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 46, n. 253, p. 218-248, maio/ago., 2021.
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A Geopolítica das vacinas: guerra ou colaboração | Osvaldo Barreto Filho
Introdução
A pandemia covid-19 é a mais grave crise sanitária enfrentada pela humanidade nos
últimos 100 anos, em 13 de outubro de 2021 a pandemia havia infectado mais de 239 milhões
e levado a óbito mais de 4,9 milhões de pessoas. Com a aceleração da pandemia, no início do
ano de 2020, foi ficando claro que a adoção de algumas medidas sanitárias era capaz de
reduzir a circulação do vírus e, portanto, as tax as de infecção. Den tre essas medidas
destacam-se: restrições à mobilidade da população, uso de máscaras de forma massiva e
testagem em grande escala para identificar e isolar pessoas contaminadas e fazer o
rastreamento de pessoas com risco de terem sido contaminadas. Evidente que medidas
duras de confinamento, que paralisaram atividades econômicas e sociais não essenciais,
tiveram como consequência a queda dos níveis de atividade econômica, o crescimento do
desemprego e o aumento das desigualdades econômicas e sociais.
Do ponto de vista médico ficou claro que a única solução para o controle mais efetivo
da pandemia seria a vacinação em massa da pop ulação mundial. A expectativa, baseada em
experiências anteriores no desenvolvimento de vacinas, era de que uma nova vacina não se
tornaria viável no curto prazo, entretanto, a ciência mostrou que era possível a superação de
obstáculo temporal com uma sucessão rápida de eventos: no iníci o de janeiro de 2020, a
China isolou o vírus que viria a ser conhecido como Sars-Cov-2; a China realizou e
disponibilizou para o mun do o sequenciamento genético do vírus. (LIVRO BRANCO CHINA,
2020). A partir daí ganha velocidade a produção de testes rápidos para diagnóstico de
infectados e o desenvolvimento de vacinas, em abril já se iniciavam os primeiros testes
clínicos de algumas vacinas e, no segundo semestre de 2020, vacinas já estavam sendo
experimentalmente aplicadas em grupos de população.
À medida que vai se consolidando a certeza de que vacinas covid19 já haviam passado
pela fase de testes e de ter sido comprovada cientificamente a eficácia e a segurança de
algumas dessas vacinas, cria-se a expectativa de que seria possível a vacinação da população
mundial, principalmente dos grupos mais vulneráveis, como, por exemplo, pessoal da área
de saúde diretamente envolvido com o tratamento de pacientes infectados pelo covid-19,
pessoas com comorbidades e pessoas idosas. Essa, entretanto, é uma visão idealizada , pois,
mesmo antes do início da concretização da produção de vacinas, os governos dos Estados
Unidos, do Canadá, do Reino Unido e da União Europeia começam a comprar, de forma

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