O processo de liderança e a gestão do conhecimento organizacional: as práticas das maiores indústrias catarinenses

AutorDante Marciano Girardi - Irineu Manoel de Souza - Júlia Freitas Girardi
CargoProfessor do Departamento de Ciências da Administração, Universidade Federal de Santa Catarina ? Florianópolis ? SC, Brasil - Professor do Departamento de Ciências da Administração, Universidade Federal de Santa Catarina ? Florianópolis ? SC, Brasil - Graduanda do Curso de Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina ? Florianópolis ? SC,...
Páginas65-76
Artigo recebido em: 22/02/2011.
Aceito em: 31/05/2011
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
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O PROCESSO DE LIDERANÇA E A GESTÃO DO CONHECIMENTO
ORGANIZACIONAL: AS PRÁTICAS DAS MAIORES
INDÚSTRIAS CATARINENSES
The Process of Leadership and the Organizational Knowledge
Management: the practicy of the largest industries of Santa Catarina
Dante Girardi
Professor do Departamento de Ciências da Administração, Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis – SC, Brasil.
E-mail: dante.girardi@terra.com.br
Irineu Manoel de Souza
Professor do Departamento de Ciências da Administração, Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis – SC, Brasil.
E-mail: irineu@cse.ufsc.br
Júlia de Freitas Girardi
Graduanda do Curso de Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis – SC, Brasil.
E-mail: julia.girardii@hotmail.com
FQK
Resumo
O objetivo deste artigo é apresentar as práticas de
liderança das indústrias catarinenses de grande porte
e a sua contribuição para a Gestão do Conhecimento.
A competitividade organizacional está relacionada às
pessoas e à capacidade das empresas de fomentar
o desenvolvimento constante do conhecimento. Por
meio da liderança, os gestores e a Gestão de Pessoas
criam comprometimento e melhoram os resultados das
organizações. A metodologia adotada seguiu a linha
da pesquisa qualitativa, descritiva e aplicada. Foram
entrevistadas as sete maiores indústrias do Estado
de Santa Catarina, em número de colaboradores.
Utilizou-se também a pesquisa documental. Os
dados foram analisados pela técnica de análise de
conteúdo. Observou-se que a liderança está presente
na maioria das empresas estudadas, por meio de
programas formais de desenvolvimento de líderes ou
de ações relacionadas à liderança. Conclui-se que as
empresas têm o foco nas pessoas e no conhecimento,
em maior ou menor grau, estando algumas em fase
de transição e de revisão dos programas voltados
ao desenvolvimento dos seus talentos e à Gestão do
Conhecimento.
Palavras-chave: Gestão de Pessoas. Liderança.
Conhecimento. Gestão do Conhecimento.
Abstract
The aim of this article is to introduce the practices
of leadership in the largest industries of Santa
Catarina and their contribution to the Knowledge
Management. The organization competitiveness
is related to the people and to the capacity of the
companies to improve the constant development of
knowledge. Using the leadership, the managers and
the People Management have created compromise
and improved the results of the organizations. The
adopted methodology followed the qualitative
methodology, descriptive and applied research. There
were interviewed the seven largest industries of the
state of Santa Catarina, in number of collaborators.
The data were analyzed by the technique of analysis
of content. It has been observed that the leadership is
present in the most of the studied companies, by the
use of formal programs of development of leaders or
of actions related to leadership. It is concluded that
the companies have the focus in the people and in
the knowledge, in bigger or smaller degree, but some
of them are in phase of transition and revision of
programs towards the development of their talents
and of the Knowledge Management.
Key words: People Management. Leadership.
Knowledge. Knowledge Management.
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1 INTRODUÇÃO
A competitividade organizacional depende de
diversos elementos, sendo o resultado da combinação
eficiente dos recursos, processos, tecnologias, estraté-
gias e estrutura, e da adoção de políticas e práticas de
gestão que sustentem o desenvolvimento contínuo da
organização.
Nesse contexto, o conhecimento se configura
como ativo de valor, gerador de diferencial compe-
titivo. As organizações contemporâneas, buscando
a competitividade, investem nos talentos humanos e
no desenvolvimento do conhecimento, por meio de
modelos de gestão que favoreçam o aprendizado, a
criatividade, o envolvimento e a inovação.
O conhecimento ganhou ênfase nos anos de
1990, como principal elemento de competitividade or-
ganizacional. Conhecimento é uma “crença verdadeira
justificada”(NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 99) com
capacidade de gerar novos conhecimentos e disseminá-
-los na empresa, incorporando-os aos produtos, servi-
ços e sistemas. As organizações precisam desenvolver
a capacidade de aprender (GEUS, 1999), estimulando
o desenvolvimento das pessoas e aproveitando todo o
potencial dos talentos humanos. As pessoas formam o
capital intelectual das organizações, agregando valores
na medida em que são estimuladas e reconhecidas no
seu ambiente de trabalho. (PACHECO, 2005)
Antes, as empresas queriam dos profissionais
ações operacionais, sem comprometimento com os
seus objetivos e estratégias. Atualmente, com a percep-
ção do valor das pessoas para o sucesso de qualquer
organização e da ação dos gestores para a mudança,
estes assumem participação estratégica, em conjunto
com o gestor de pessoas, influenciando na qualidade
das decisões. Assim, cabe aos gestores integrar os ob-
jetivos organizacionais e os objetivos pessoais, tornar
efetivos os processos de Gestão de Pessoas e desen-
volver competências estratégicas (PACHECO, 2005),
favorecendo a aprendizagem e o conhecimento.
A liderança é um desafio às organizações, fazendo
parte do processo de Aplicação de Pessoas. Sua prática
pelos gestores contribui significativamente para a cons-
trução do conhecimento organizacional. Cavalcanti
(2009) reflete que as organizações devem conseguir
resultados por meio das pessoas, o que enfatiza a
liderança, amplia a percepção do papel dos líderes,
os quais passam a considerar também os aspectos
intangíveis da sua gestão, como forma de apoiar novos
valores, atitudes e padrões de comportamento. Dessa
forma, a liderança tem papel essencial na Gestão do
Conhecimento nas organizações.
Os investimentos das indústrias catarinenses, até
2010, demonstram a busca contínua por conhecimento
e inovação. Dados da Federação das Indústrias do
Estado de Santa Catarina – FIESC (2008) indicam
aquisição de equipamentos, atualização tecnológica,
aumento da capacidade produtiva e desenvolvimento
de produtos. Em 2007, as atividades industriais de
melhor desempenho no Estado foram na área de fa-
bricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos,
com 14,34% de incremento da produção em relação
a 2006. A produção não havia crescido tanto desde
2000, que marcou crescimento de 18,85% na produção
industrial de máquinas e equipamentos. Quanto ao
capital humano, o Ministério do Trabalho e Emprego
registrou em 2007 expansão do emprego formal, sendo
83,6 mil novos postos de trabalho em Santa Catarina,
um aumento de 6,11%. (FEDERAÇÃO... 2008)
Portanto, a presente pesquisa objetiva apresentar
as práticas de liderança nas indústrias catarinenses de
grande porte. Para isso, este artigo está organizado
da seguinte forma: considerações iniciais relevantes
sobre o tema e aspectos envolvidos, contextualização
da Gestão de Pessoas e seus processos, caracterização
do processo de Aplicação de Pessoas e da liderança
como subprocesso e prática agregadora à Gestão do
Conhecimento, procedimentos metodológicos utiliza-
dos, descrição das práticas de liderança nas maiores
indústrias catarinenses e, finalmente, as conclusões
do estudo.
2 UMA CONTEXTUALIZAÇÃO DA GESTÃO DE
PESSOAS E DOS SEUS PROCESSOS
O RH se transformou ao longo do tempo, bus-
cando se adaptar às demandas do ambiente, das
organizações e das pessoas. Para compreender melhor
o papel da liderança na Gestão do Conhecimento nas
organizações, é importante contextualizar a Gestão de
Pessoas e os seus processos.
Nas organizações modernas, o RH configura-se
como Gestão de Pessoas. Assume postura sistêmica
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e estratégica, atuando como consultoria interna, por
meio dos seus processos alinhados à estratégia orga-
nizacional e integrados entre si, buscando elevar o
desempenho, desenvolver o conhecimento e promover
a inovação e a competitividade.
A Teoria Sistêmica de Bertalanffy, nos anos de
1930, trouxe a visão de inter-relação dos processos
organizacionais. Contribuiu para o desenvolvimento
do RH, orientando as organizações para a busca do
conhecimento global e, do alcance de melhores resul-
tados, por meio dos indivíduos na sua totalidade e dos
seus processos entendidos sob a perspectiva sistêmica.
A consultoria interna surgiu em empresas ameri-
canas e europeias nos anos de 1950, consolidando-se
nos anos de 1990, sendo um resultado da demanda
por mudanças na cultura, estrutura e práticas para a
competitividade organizacional (JOHRI; COOPER;
PROKOPENKO, 1998). Focado nas pessoas e no de-
senvolvimento, o RH passou a atuar sob a forma de
consultoria interna, buscando efetividade nos seus pro-
cessos. A Consultoria Interna de RH realiza atividades
de apoio, orientação e supervisão para as demandas
da organização (FRANÇA 2007). É uma atividade de
cunho intelectual importante nas organizações, sendo
os profissionais de RH os consultores internos (MAN-
CIA, 1997), que buscam orientar e apoiar continua-
mente os gestores de linha na busca por profissionais
qualificados, motivados e produtivos, em uma relação
de parceria (CÂMARA; GUERRA; RODRIGUES, 1997),
desenvolver a Gestão de Pessoas e a organização, ge-
renciando as pessoas de modo efetivo, valorizando as
competências e o capital intelectual e agregando novas
visões ao negócio. (LEITE et al., 2005)
A Gestão de Pessoas consolida-se nos anos de
1990, passando a atuar estrategicamente, focada na
capacitação dos profissionaise nos resultados organi-
zacionais, tendo os gestores de linha como gestores
de pessoas (MARRAS, 2000; WOOD JR., 2000; GIL,
2001; DUTRA, 2002; FRANÇA, 2007; GIRARDI,
2008). Visando otimizar as diretrizes e os recursos para
atingir os objetivos organizacionais, o estabelecimento
de estratégias ganhou destaque. Fischer (2002) coloca
que o foco estratégico é a face visível do desempenho
da organização, a forma como é avaliada a sua compe-
titividade externa. Para Ulrich (2000), o RH é importan-
te, pois tem os desafios da globalização, lucratividade
por meio do crescimento, tecnologia, capital intelectual
e geração de mudanças. Nesse cenário, a liderança
passou a se desenvolver como prática de gestão nas
organizações voltadas às pessoas e ao futuro.
A amplitude de conceitos da Gestão de Pessoas
na literatura identifica seu caráter descentralizado, de
valorização das pessoas e de busca do desenvolvi-
mento individual e organizacional, conforme mostra
a definição de Gil (2001), de que a Gestão de Pessoas
é uma função gerencial que busca a cooperação das
pessoas, para o alcance dos objetivos organizacionais
e individuais.
O papel da Gestão de Pessoas é captar e manter
os talentos humanos nas organizações, atuar de modo
sistêmico, e em uma relação de parceria com os gesto-
res de linha, buscando adequar estrutura, estratégias,
processos e pessoas, para o alcance dos objetivos
organizacionais. O RH deve criar competências e
comportamentos, gerir a seleção, o treinamento, o de-
sempenho, o reconhecimento e o desenvolvimento das
pessoas (DESSLER, 2003), orientado para gerir o co-
nhecimento e alavancar os resultados organizacionais.
A Gestão de Pessoas se torna efetiva por meio dos
seus processos. Atualmente, os principais processos de
Gestão de Pessoas citados na literatura, são conforme
o Quadro1 a seguir:
PROVISÃO DE
TALENTOS
DESENVOLVIMEN-
TO DE PESSOAS
MANUTENÇÃO
DE TALENTOS
REMUNERAÇÃO
DE PESSOAS
MONITORAÇÃO
DE PESSOAS
APLICAÇÃO DE
PESSOAS
. Planejamento
de RH
. Atração e
Seleção de
Talentos
. Integração
. Treinamento e
Desenvolvimento
. Educação
Corporativa
. Qualidade de
Vida no Trabalho
. Higiene e
Segurança do
Trabalho
. Gestão de
Carreira
. Plano de Cargos
e Salários
. Remuneração
Variável
. Benefícios Sociais
. Avaliação de
Desempenho
. Gestão de
Competências
Liderança
. Coaching
. Trabalho
em Equipe
. Gestão do
Conhecimento
Quadro 1: Os processos de Gestão de Pessoas
Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo
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Os processos de Gestão de Pessoas estão relacio-
nados entre si, sob a perspectiva sistêmica, atuam em
conjunto com a estratégia da organização, em um pro-
cesso contínuo de gestão do capital humano, buscando
agregar valor à empresa. Marras (2005) afirma que a
concretização dos processos de Gestão de Pessoas é
responsabilidade conjunta dos gestores de linha e do
gestor de pessoas, como consultor interno. Cada gestor
atua com a sua equipe de trabalho e o gestor de pes-
soas atua na estratégia organizacional, estabelecendo
diretrizes e critérios para a gestão das pessoas.
Na sequência, caracteriza-se brevemente o pro-
cesso de Aplicação de Pessoas.
2.1 O Processo de Aplicação de Pessoas
A Gestão de Pessoas nas organizações, por meio
da Aplicação de Pessoas, busca ajustar, compatibilizar
as pessoas aos processos de trabalho, aproveitar os
talentos humanos da organização.
Os componentes desse processo são: a) Lideran-
ça; b) Coaching; c) Trabalho em Equipe; e d) Gestão
do Conhecimento.
Coaching se refere à relação entre líderes e co-
laboradores, transmissão de experiência, incentivo
e apoio ao alto desempenho, compartilhamento do
conhecimento. (TERRA, 2005)
A Gestão do Conhecimento é a identificação, o
desenvolvimento, a disseminação e a atualização do
conhecimento relevante para a organização, por meio
de processos internos ou externos à empresa (FLEURY;
OLIVEIRA JR., 2008). Há dois tipos de conhecimento:
a) Explícito – objetivo, formal, informações processa-
das; e b) Tácito – subjetivo, experiências, valores, a
serem processados (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). A
Gestão de Pessoas deve orientar os seus esforços para
a ação estratégica e de parceria com todos os gestores,
para a criação e o desenvolvimento do conhecimen-
to, especialmente o Tácito. A partir dos indivíduos, o
conhecimento deve ser compartilhado, por meio da
integração, troca de informações e de experiências.
Como tema desse estudo, a liderança conduz os
gestores às demais práticas de gestão de pessoas. O co-
aching é um modelo de liderança, uma forma de gestão
voltada às pessoas e ao seu desenvolvimento. O gestor
precisa ter perfil de liderança e a organização apoiar
o trabalho de coaching. A Gestão do Conhecimento
ocorre por meio de políticas e práticas de apoio às
pessoas e ao conhecimento, estabelecidas pela Gestão
de Pessoas e compartilhadas com os gestores de linha,
cujo desafio é liderar indivíduos e equipes para a busca
do conhecimento e da inovação. A Gestão do Conheci-
mento busca encontrar as melhores formas de mobilizar
e alavancar o conhecimento individual e integrá-lo ao
conhecimento organizacional. (FIGUEIREDO, 2005)
A liderança favorece também a comunicação, o clima
organizacional, a gestão de conflitos e a gestão da
mudança, subprocessos complementares do processo
de Aplicação de Pessoas.
O tópico a seguir trata da liderança e das suas
contribuições para a Gestão do conhecimento nas
organizações.
2.1.1 Liderança e Gestão do Conhecimento
A liderança é uma ferramenta estratégica da Ges-
tão de Pessoas, integrante do processo de Aplicação
de pessoas, que agrega valor aos resultados e ao co-
nhecimento das organizações. Para a compreensão do
seu papel na Gestão do Conhecimento, é importante
caracterizá-la, refletir sobre a sua evolução, conceitua-
ção, teorias, ações e perfil ideal do líder na atualidade.
Os estudos sobre a liderança no ambiente laboral
foram realizados por profissionais das áreas de psicolo-
gia, sociologia e ciências políticas, destacando-se, em
1950, a Teoria das Necessidades de Abraham Maslow.
Outros estudos relacionados envolvem categorias
de Administração Científica de Taylor e ensaios de
Hawtorne sobre moral dos empregados, estilos de
supervisão, produtividade, nível de maturidade dos
liderados, atuação da liderança na tarefa e em rela-
ções humanas, liderança situacional e estrutura de
grupos. Tais estudos enfatizaram os aspectos pessoais
e comportamentais no trabalho. Em 1960, McGregor
propôs a Teoria X, da liderança autoritária, e a Teoria
Y, da liderança participativa. Essas teorias influen-
ciaram significativamente a teoria da administração.
(LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002)
Nos anos de 1980, a liderança passou a ser
percebida como vantagem competitiva e se tornou
objeto de atenção por parte dos estudiosos e das orga-
nizações. No contexto dinâmico dos anos de 1990, foi
percebida a necessidade de um novo tipo de líder para
o futuro, baseado no resgate de aspectos que fomen-
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tam a liderança eficiente, como clareza nos objetivos,
motivação e envolvimento das pessoas no trabalho,
desafios e outros. O foco passou a ser na distinção
entre administração e liderança, como forma de suprir
as limitações das ferramentas empresariais técnicas
como planejamento e controle. (GALBRAITH, 1995)
No século XXI, as pessoas e os gestores das or-
ganizações refletem sobre o seu verdadeiro papel. De
um lado, as pessoas buscam identificação e satisfação
com o seu trabalho e também uma contribuição mais
ampla e de outro, as organizações percebem a ne-
cessidade de alinhamento e integração entre o meio
ambiental, social e o mundo dos negócios e de revisão
do comportamento gerencial. (CAVALCANTI, 2009)
Assim, a liderança surge como ferramenta agregadora
às organizações.
A conceituação da liderança é ampla na literatura.
O Quadro 2 a seguir apresenta algumas definições de
liderança:
Vergara
Conjunto de estímulos, incentivos,
que motivem as pessoas a realizar
a missão, a visão e os objetivos
organizacionais (1999).
Limongi-
França;
Arellano
Processo social em que se
estabelecem relações de influência
entre as pessoas (2002).
Cavalcanti Capacidade de influenciar
pessoas ou grupos (2009).
Quadro 2: Definições de liderança
Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo
Observa-se nos conceitos de liderança a ênfase
em influenciar pessoas e equipes nas organizações,
estimulando-as a realizar os seus propósitos. Bergamini
(1994) avalia que a maioria das definições de liderança
apresenta dois elementos comuns: a liderança como
fenômeno grupal e a liderança como processo inten-
cional de influência do líder sobre os seus seguidores.
A conceituação da liderança está relacionada às
teorias da liderança. Segundo Cavalcanti (2009), há
estudiosos que definem a liderança focando os traços,
outros o estilo de influência. Ainda há aqueles que
associam a liderança às contingências.
Os estudos sobre a liderança iniciaram com
teorias simples, e com o tempo as investigações se
tornaram mais complexas (CAVALCANTI, 2009). As
teorias de liderança mais comuns na literatura são as
seguintes:
a) Teoria Genética – é a mais antiga abordagem
de liderança. Acreditava-se que a capacidade
de liderança era transmitida geneticamente. O
líder nasce feito, não é produzido. Desconsi-
derava a possibilidade de desenvolvimento de
líderes (MONTANA; CHARNOV, 2003).
b) Teoria dos Traços – também crê no aspecto
inato do líder. Segundo ela, os líderes possuem
certas características, traços de personalidade,
que favorecem o seu papel, como: estatura,
inteligência, boa comunicação, flexibilidade,
entusiasmo e outros.
c) Abordagem Comportamental – ou Teoria
dos Estilos de Liderança. Alterou o foco de
quem é o líder para o que ele faz, sua relação
com os liderados. Propõe que os líderes podem
ser preparados para exercerem o seu papel,
adotando determinad o comportamento. O
líder pode ser Autocrático (centralizador), De-
mocrático (estimula a participação das pesso-
as), Orientado para a Tarefa (foca no trabalho,
metas, prazos, custos, qualidade) ou Orientado
para as Pessoas (foca no colaborador, relações
humanas, apoia, desenvolve).
d) Abordagem Contingencial – ou Situacional.
Acredita que a liderança depende do líder, dos
seguidores, da situação do trabalho e da orga-
nização, ou seja, está atrelada a um conjunto
de variáveis, que se complementam e facilitam
o desempenho do líder. É uma visão complexa
da liderança que enfatiza a adaptabilidade e a
influência dos liderados sobre o líder (LIMON-
GI-FRANÇA; ARELLANO, 2002; MONTANA;
CHARNOV, 2003; CAVALCANTI, 2009).
Atualmente, a competitividade requer das orga-
nizações atenção em diversos aspectos, entre eles, a
renovação dos estilos de gestão, da forma de conduzir
as pessoas no trabalho, enfatizando a importância da
prática da liderança. Passou a haver diferenciação
entre o gerente e o líder. O gerente está dando lugar ao
líder, facilitador. Os gerentes fazem com que as pessoas
realizem o que lhe foi delegado e os líderes integram
a equipe nos negócios, estimulam resultados. Bennis
(1996) avalia que enquanto o gerente administra,
foca no trabalho com visão de curto prazo, o líder
inova, foca nas pessoas, no futuro, em uma relação
de confiança. O líder capacita, liberta, desafia. Assim,
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aumenta a demanda das empresas por gestores com
perfil de líder. (CAVALCANTI, 2009)
Conforme o modo de uso do poder pelo líder, os
resultados da liderança variam em termos de amplitu-
de, o que remete a diferentes tipos de liderança, cada
um com características particulares, sendo alguns deles:
a) Liderança Carismática – associada no ca-
risma e nas habilidades de comportamento do
líder percebidas pelos seguidores que possuem
aceitação incondicional e envolvimento emo-
cional com a missão da empresa (LIMONGI-
-FRANÇA; ARELLANO, 2002; CAVALCANTI,
2009).
b) Liderança Visionária – baseada na capaci-
dade do líder de criar a visão do futuro, indo
além da orientação para metas (CAVALCANTI,
2009).
c) Liderança Transacional – entende o pro-
cesso de liderança como a ocorrência de
transações com benefícios mútuos entre o líder
e a equipe em certo contexto; há o foco na
relação de troca. O líder transacional observa
o cumprimento dos padrões, ajusta o trabalho
e reconhece realizações.
d) Liderança Transformacional – o líder e
a equipe elevam-se mutuamente em relação
à moralidade e à motivação, aumentando a
conscientização, o comprometimento e a busca
da autorrealização. O líder transformacional
tem como foco o desenvolvimento das pes-
soas, a busca de desempenho além do cargo;
possui carisma, inspiração, dá atenção a cada
indivíduo, produz mudanças e promove o
compartilhamento dos valores da empresa
(LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002; CA-
VALCANTI, 2009).
e) Liderança Participativa – une visão, empo-
werment e um conjunto de valores próprios e
declarados. Os líderes participativos abrem es-
paço para a experimentação, inovação, respon-
sabilidade, autonomia sustentada, estimulam a
comunicação, a aprendizagem, o conhecimento
e as oportunidades (BOOG; BOOG, 2006).
f) Liderança de Alta Performance – acentua a
formação de equipes de trabalho, tendo o líder
como catalisador de talentos na criação de no-
vas competências e melhores resultados em um
ambiente dinâmico e competitivo (LIMONGI-
-FRANÇA; ARELLANO, 2002).
Limongi-França e Arellano (2002) e Boog e Boog
(2006) ressaltam o valor da liderança participativa,
como forma de criar diferencial competitivo pela
atuação efetiva dos indivíduos, cultura de compro-
metimento e união, habilidades adequadas e energia
realizadora. Entretanto, nem todos estão preparados
para serem participativos, cabendo à organização
sistematizar políticas e programas de gestão para o
amadurecimento das pessoas e a sua segurança para
tomar decisões.
O tipo de liderança adotado pelos gestores de-
pende dos seus valores, personalidade, habilidades e
competências, contexto organizacional e motivação
para resultados. Assim, um líder pode ser autocrático,
colaborador ou visionário. (CAVALCANTI, 2009)
Para que os líderes possam cumprir o seu papel, a
organização deve estimular a liderança, ser receptiva
à criatividade, à inovação, favorecendo a integração,
a satisfação, a aprendizagem e o conhecimento.
As teorias e os estilos de liderança antecipam
determinadas funções dos líderes e traços do seu perfil.
Um líder deve ter um conjunto de habilidades, compe-
tências e conhecimentos que orientem as suas ações
para o pleno aproveitamento do potencial humano,
otimizando os resultados organizacionais.
O papel do líder envolve a gestão das metas e
processos, das pessoas, das mudanças e o controle dos
resultados, por meio das habilidades de coordenador,
mentor, e inovador, focalizando o trabalho, desen-
volvendo os colaboradores e estimulando o uso da
criatividade (QUINN et al., 2003). O líder deve gerar
uma tensão criativa positiva e gerenciá-la, manter o
compromisso com a verdade e energizar a organização.
(SENGE, 2006)
O líder deve avaliar o ambiente externo, estar
atento a mudanças, ter habilidade de esclarecer proble-
mas e contribuir para a formação de valores voltados
à satisfação das pessoas na organização (VERGARA,
1999). O papel do líder é amplo, ele orienta sobre as
estratégias da empresa e promove a adequação das
atividades (ULRICH, 2000). Os líderes eficientes pos-
suem habilidades aprendidas, atitudes desenvolvidas e
valores e precisam alinhar e direcionar as pessoas para
os propósitos organizacionais. (GALBRAITH, 1995)
O líder gerencia pessoas e equipes, é integrador,
motivador, comprometido com o desenvolvimento dos
indivíduos (HILL, 1993), com o compartilhamento de
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valores e aspirações, para a realização das metas orga-
nizacionais (CAVALCANTI, 2009). As organizações que
aprendem investem na aprendizagem em equipe e na
visão compartilhada, melhorando a qualidade do pen-
samento e a capacidade de reflexão. (SENGE, 2006)
Os líderes cumprem papel de educadores, devem
se envolver e se responsabilizar pela aprendizagem das
suas equipes, comprometidos com o sistema organi-
zacional, criar uma cultura e valores de aprendizagem
contínua, motivando as pessoas a usar toda a sua
potencialidade e a elevar o seu desempenho (EBOLI,
2002). Milkovich e Boudreau (2006) refletem que a
cúpula da empresa cria a cultura organizacional e os
seus membros devem dar o exemplo em liderança,
apoiando a implementação de mudanças. Senge
(2006) ensina que as pessoas aprendem mais rápido
quando têm a noção exata da responsabilidade pelas
suas ações, sendo necessário que as organizações am-
pliem o poder por todos os níveis, dando liberdade às
pessoas para que experimentem as suas ideias e sejam
responsáveis pelos seus resultados. Nesse contexto, os
líderes enfocam no propósito da empresa, na estrutura
sistêmica, na inter-relação entre as partes, e ensinam os
indivíduos a fazerem da mesma forma. Esses aspectos
favorecem a busca de novos conhecimentos por parte
das pessoas, para atualização e adequação aos valores
e objetivos da empresa.
Galbraith (1995) avalia que os líderes fornecem
suporte estratégico às organizações, em uma Gestão
de Pessoas compartilhada entre o RH e os gestores
de linha, criando envolvimento e contribuindo para a
realização das estratégias e objetivos organizacionais.
É possível observar que a atuação dos líderes é
ampla nas organizações. Suas funções são diversas,
envolvendo desde o gerenciamento das metas, ativi-
dades e pessoas até a motivação individual e grupal,
a orientação e a educação. Trata-se de uma gestão
técnica e humana, em sintonia com as estratégias da
organização, focalizando o desenvolvimento das pes-
soas e da organização e a competitividade.
Para cumprir as suas funções e desafios, o líder
deve possuir determinado perfil. Com base na litera-
tura, é possível traçar o perfil do líder eficaz, conforme
consta no Quadro 3 a seguir:
. Voltado para Valores
. Visão estratégica e de futuro
. Sensível ao ambiente
. Foco nas pessoas e resultados
. Carismático
. Hábil em relacionamentos
. Bom temperamento
. Confiável
. Hábil em
comunicação
. Ponderado
. Facilitador
. Motivador
. Educador
. Integrador
. Hábil no trabalho em equipe
. Democrático
. Flexível
. Otimista
. Autoconfiante
. Proativo
. Dinâmico
. Autoconhecimento
.
Autodesenvolvimento
. Ousado
. Criativo
. Agente de mudanças
. Realizador
. Inovador
Quadro 3: Perfil do líder eficaz
Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo
A reunião desse conjunto de características
supra-citadas torna o líder preparado para gerir as
pessoas, conduzi-las ao envolvimento e aos resultados
organizacionais. Assim, os traços essenciais ao líder são
integração dos valores seus e da organização, visão
clara dos objetivos, estímulo e criação de condições
para a criatividade e o conhecimento e busca do alto
desempenho, para a competitividade organizacional
(LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002). Drucker
(2002) corrobora o exposto, refletindo que a base
da liderança eficaz é identificar a missão e torná-la
clara, ter visão da responsabilidade pelos resultados
organizacionais e promover inovação, por meio do
trabalho e do conhecimento. Também são aspectos
fundamentais aos líderes a habilidade interpessoal e
a de comunicação. A forma como o líder se relaciona
e se comunica com a equipe favorece o desempenho;
a liderança conduz o gestor a uma relação sincera e
à comunicação clara dos objetivos da organização.
Cavalcanti (2009) ressalta que o autoconhecimento
é essencial aos líderes, para a sua formação, desen-
volvimento e manutenção do equilíbrio interior, para
melhor lidar com as pessoas.
Os líderes devem agregar resultados à organi-
zação e, em conjunto com a Gestão de Pessoas des-
centralizada, promover os processos de RH de modo
sistêmico e o conhecimento. Lacombe (2005) coloca
que o RH orienta e apoia os gerentes, sensibilizando-os
para a liderança, para que cada gestor de linha atue
como líder, orientador e educador do seu grupo. Leite
72 Tgxkuvc"fg"Ek‒pekcu"fc"Cfokpkuvtc›«q"̋"x0"36."p0"54."r0"87/98. "cdt"4234
Fcpvg"Iktctfk"̋"Ktkpgw"Ocpqgn"fg"Uqw¦c"̋"L¿nkc"fg"Htgkvcu"Iktctfk
et al. (2005) confirma que a Consultoria Interna de RH
orienta a organização para a visão sistêmica e para a
liderança de pessoas e grupos.
A busca do conhecimento requer das organi-
zações e da Gestão de Pessoas, cultura de liderança
e apoio contínuo ao desenvolvimento gerencial e
de líderes potenciais. Por meio de processos de RH
alinhados às estratégias de negócio, descentralizados
e integrados entre si, a Gestão de Pessoas auxilia no
desenvolvimento da liderança, dos talentos humanos e
na sua capacidade de envolvimento com os resultados
organizacionais. Por isso, os processos de Seleção, Trei-
namento e Desenvolvimento e Avaliação de Desem-
penho devem ser bem trabalhados, além da Remune-
ração e da Qualidade de Vida no Trabalho, resultando
em talentos humanos valiosos para a organização,
capacitados, cientes das suas capacidades e pontos
a melhorar (feedback), motivados e comprometidos.
A organização e a Gestão de Pessoas devem
fomentar a liderança, desenvolver líderes e liderados,
identificar aqueles que têm potencial para a liderança
e cultivá-los como recursos de valor (GALBRAITH,
1995). Um investimento significativo nesse sentido é o
programa de trainee, cujo objetivo é captar e desenvol-
ver jovens talentos com alto potencial, desenvolvendo
competências para a construção de uma carreira sólida
e a ocupação futura de cargos de liderança (PACHE-
CO, 2005). Profissionais talentosos assumem a sua
inclinação para a liderança, as incertezas e os riscos,
e têm disposição para progredir (DRUCKER, 2005).
Assim, liderança é fundamental às organizações,
contribuindo para a integração efetiva entre as pessoas
e as estratégias e para a Gestão do Conhecimento,
estimulando a participação e o aprendizado, gerando,
desenvolvendo e disseminando novos conhecimen-
tos, orientados para a inovação e a competitividade
organizacional.
A seguir são apresentados os procedimentos
metodológicos do estudo.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Com base no objetivo desse estudo, adotou-se a
linha de pesquisa Qualitativa, Descritiva e Aplicada.
Para a coleta de dados, foram utilizadas a Pesquisa
Documental e a Entrevista semiestruturada.
A população da pesquisa foram as indústrias
catarinenses de grande porte, em razão da estrutura
do RH, da possibilidade de investimentos na área e
da gestão descentralizada de pessoas. Foi selecionada
de uma lista da FIESC, uma Amostra Intencional de
dez indústrias, as que possuíam maior número de
colaboradores, buscando uma análise qualitativa em
profundidade, sem a intenção de generalização dos
dados. Os gestores de pessoas, de processos e, caso
houvesse, o consultor interno foram os Sujeitos da
pesquisa. Das dez indústrias da amostra, sete foram
pesquisadas, pela disponibilidade. As dez indústrias
catarinenses selecionadas para a pesquisa foram: 1)
Aurora; 2) Weg; 3) Sadia; 4) Perdigão; 5) Busscar; 6)
Tupy; 7) Malwee; 8) Whirlpool – Multibrás; 9) Teka; e
10) Whirlpool – Embraco. O Quadro 4 a seguir apre-
senta as sete maiores indústrias do Estado de Santa
Catarina pesquisadas:
EMPRESA NÚMERODE
COLABORADORES
Aurora – Cooperativa Central
Oeste Catarinense 27.508
Weg 14.420
Sadia 13.109
Tupy S/A 7.500
Whirlpool S/A – Multibrás 6.000
Teka Tecelagem Kuehnrich S/A 5.950
Whirlpool S/A – Embraco 5.400
Quadro 4: Empresas pesquisadas
Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo
A análise de dados seguiu o método de Análise
de Conteúdo, focado na Análise por Categoria. Não
há identificação das empresas na análise dos dados
por motivo de sigilo.
As práticas de liderança nas indústrias catarinen-
ses de grande porte são descritas na sequência.
4 A LIDERANÇA NAS MAIORES INDÚSTRIAS
DO ESTADO DE SANTA CATARINA
O estudo buscou identificar as práticas de liderança
e a sua contribuição para a Gestão do Conhecimento.
73
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Q"Rtqeguuq"fg"Nkfgtcp›c"g"c"Iguv«q"fq"Eqpjgekogpvq"Qticpk¦cekqpcn
De acordo com os dados coletados, na empresa
1, há a estratégia denominada “nossas pessoas”. O
RH atua com base em três premissas: 1) trust and
engagement, ou seja, confiança e comprometimento;
2) gestão de talentos; e 3) gestão de performance. A
empresa tem pensamento de liderança diferenciado.
“Essa é a nossa ótica, um pensamento de liderança
voltado pra gestão de pessoas, desenvolver os nossos
líderes, o jeito de liderar”. As competências necessárias
aos líderes da organização são definidas, bem como
a avaliação dos líderes, buscando aperfeiçoamento
por meio de treinamentos e desenvolvimentos, bem
como a integração entre líderes. A empresa possui o
programa way of leading, para a formação dos líderes.
Há o desenvolvimento de carreira, atrelado à avaliação
de desempenho, incluindo os trainees.
Na empresa 2 há práticas relacionadas à lideran-
ça, porém, ela não foi mencionada diretamente. Tais
práticas são focadas no conhecimento, nos “[...] grupos
do conhecimento, na comunicação e na relação inter-
pessoal”. Também há preocupação com a inovação,
sendo a área de engenharia de produtos a responsável
pela inovação na empresa.
A empresa 3 tem consultores internos e progra-
mas voltados à liderança, para o desenvolvimento de
competências e internalização dos preceitos essenciais
da empresa, como MBA in company, visando o desen-
volvimento comportamental.
Na empresa 4, a liderança se manifesta por meio
da ação conjunta dos gestores e colaboradores no pla-
nejamento do desenvolvimento individual (coaching).
Conforme o entrevistado, “[...] valoriza-se muito o
papel do gestor no desenvolvimento das suas equipes”.
Isso demonstra gestão descentralizada, valorização das
pessoas e oportunidades de crescimento. A empresa
“[...] tem um desenho de carreira em Y que permite
que o profissional tenha possibilidades de crescimento
tanto na carreira técnica quanto na gerencial”.
Já na empresa 5, há o “PDL (Plano de Desen-
volvimento de Líderes)” e incentivo para o coaching.
Foi destacada parceria entre o RH, os gestores e os
funcionários. A empresa cuida da Gestão do Conheci-
mento, sendo a maioria das informações centralizadas
no RH corporativo, o qual registra e dissemina para as
demais unidades. A entrevistada citou nesse sentido:
“[...] a gente procura ter o máximo de facilidade para
as pessoas trazerem as informações, com qualquer
área. Assim, as pessoas têm essa liberdade. Depois
isso tudo fica, de certa forma, registrado, até para a
gente não perder”.
A empresa 6 possui consultoria interna, atuante
nos níveis tático e operacional. Foi ressaltada a intensi-
ficação do trabalho em equipe, associado à liderança,
o que muda a relação de liderança existente, “tanto
do líder quanto do liderado; então isso foi bastante
intensificado”, colocou o entrevistado. A empresa
denomina esse processo de trabalho em times, e
percebe-se que isso é valorizado pelos funcionários,
com participação elevada e efetiva, resultando em
melhorias significativas no processo produtivo, en-
volvendo baixo custo e gerando comprometimento.
Cabe destacar que o comprometimento é essencial à
Gestão do Conhecimento, pois permite e estimula o
compartilhamento de conhecimento. Há na empresa
programas de melhoria contínua e plano de carreira,
porém, a empresa reconheceu que precisa repensar o
desenvolvimento das pessoas, antes um processo mais
efetivo, o que ampliaria as competências de liderança
e o conhecimento na empresa.
Por fim, a empresa 7 também apresenta consulto-
res internos, assumindo a tomada de decisão nos níveis
tático e estratégico. A empresa treina todos os seus
gestores em técnicas de coaching, baseada na carreira
Y. Quanto aos colaboradores, somente em alguns casos
é pensado na preparação do profissional para funções
futuras, limitando assim o desenvolvimento de líderes
e o aproveitamento pleno dos talentos humanos da
organização.
Uma síntese da análise das práticas de liderança
nas empresas estudadas consta no Quadro 5 a seguir:
EMPRESAS
PESQUISADAS PRÁTICAS DE LIDERANÇA
Empresa 1 Programa Way ofleading, destinado a
formar os líderes.
Empresa 2
Em processo de mudança. Identificadas
ações relacionadas à liderança. Grupos
do conhecimento, foco na comunicação,
relação interpessoal e inovação.
Empresa 3 Programa de formação de liderança. MBA
in company, focado no desenvolvimento
comportamental.
Empresa 4 Plano de carreira Y para as áreas técnica
e gerencial. Coaching.
Quadro 5: Comparativo quanto às práticas de liderança
Fonte: Adaptado de Girardi (2009)
74 Tgxkuvc"fg"Ek‒pekcu"fc"Cfokpkuvtc›«q"̋"x0"36."p0"54."r0"87/98. "cdt"4234
Fcpvg"Iktctfk"̋"Ktkpgw"Ocpqgn"fg"Uqw¦c"̋"L¿nkc"fg"Htgkvcu"Iktctfk
EMPRESAS
PESQUISADAS PRÁTICAS DE LIDERANÇA
Empresa 5 PDL (Plano de Desenvolvimento de
Líderes). Coaching.
Empresa 6
Ações relacionadas à liderança. Trabalho
em equipe, plano de carreira. Empresa
assumiu a necessidade de retomar o
desenvolvimento das pessoas.
Empresa 7 Treinamento dos gestores em técnicas
de coaching. Car reira Y. Preparo de
colaboradores para funções futuras.
Quadro 5: Comparativo quanto às práticas de liderança
Fonte: Adaptado de Girardi (2009)
Nesse ponto, cabe destacar o clima organizacional
e a comunicação interna, meios de auxiliar a Gestão do
Conhecimento nas organizações e desafios dos líderes.
O clima e a comunicação são efeitos da prática da
liderança, portanto, quanto maior for a amplitude da
liderança na organização, mais favoráveis esses serão à
Gestão do Conhecimento. O entrevistado da empresa
1 citou “o clima de camaradagem”, a informalidade
na organização. Em relação à comunicação, a empresa
2 relatou a ocorrência de processos voltados à comu-
nicação, relações interpessoais e ao conhecimento
e a empresa 5 destacou a liberdade das pessoas em
trazerem informações e o seu cuidado com o registro
e a disseminação das mesmas, com foco na Gestão
do Conhecimento. A chave do processo de Aplicação
de Pessoas em relação à Gestão do Conhecimento
está na comunicação interna e na construção de um
ambiente organizacional saudável, assim como nos
casos analisados.
5 CONCLUSÕES
As pessoas são os elementos centrais da com-
petitividade organizacional, agregam esforços, ex-
periências, inteligência e conhecimento. A liderança
é um instrumento importante para a orientação dos
indivíduos para o conhecimento e o desenvolvimento
das organizações.
Uma organização competitiva possui uma Gestão
de Pessoas estratégica e descentralizada, focada nas
pessoas e no seu valor para a realização dos seus ob-
jetivos, com atuação efetiva dos gestores de linha, em
um esforço conjunto para a Gestão do Conhecimento.
Como ferramenta do processo de Aplicação
de Pessoas, a liderança é um meio de influenciar os
indivíduos e as equipes, buscar comprometimento,
integração e melhor desempenho, uma forma de
gestão que conduz ao desenvolvimento das pessoas
e da organização.
Por meio da liderança, os gestores de linha
promovem os processos de Gestão de Pessoas, com
o apoio do RH estratégico, resultando em conheci-
mento, inovação e competitividade. O perfil do líder é
determinante para o êxito do processo, devendo este
reunir um conjunto de valores, habilidades interpesso-
ais, de comunicação, motivação, trabalho em equipe,
mantendo clima organizacional favorável, atuando
como facilitador agente de mudanças, estimulando as
pessoas para o trabalho, capacitação contínua, criação,
desenvolvimento e aplicação do conhecimento.
O líder deve dar significado para a vida das pes-
soas, desenvolver, recompensar o comprometimento
com os resultados (SOUZA, 2010). O gerente líder tem
visão humanista, percebe a organização como sistema
social, em que as pessoas têm papel importante. Valori-
za os interesses pessoais e os da organização, promove
o trabalho em equipe, em uma relação de confiança e
respeito mútuo, para conduzir as pessoas ao alto de-
sempenho, torná-las motivadas e comprometidas com
os objetivos organizacionais. (CAVALCANTI, 2009)
É possível avaliar que na maioria das empresas
estudadas, a liderança é tratada como ferramenta es-
tratégica. Há programas de desenvolvimento de líderes
e descentralização da Gestão de Pessoas, aspectos que
possibilitam o envolvimento estratégico dos gestores
de linha, a criatividade, a Gestão do Conhecimento, a
inovação e a competitividade organizacional. As práti-
cas observadas identificaram prioridade na criação de
mecanismos que permitam a socialização, combinação
e criação do conhecimento entre os funcionários.
Entretanto, há ainda algumas ações não bem
desenvolvidas, como nas empresas 2, 6 e 7. As duas
primeiras possuem direcionamento para a liderança,
focando na comunicação, relação interpessoal, conhe-
cimento, inovação (Empresa 2), trabalho em equipe
(Empresa 6). As empresas 6 e 7 requerem maior foco
no desenvolvimento das pessoas, o que ampliaria o
seu potencial de liderança.
Assim, é desafio às organizações contemporâneas
a mobilização estratégica para a liderança. Uma cultura
75
Tgxkuvc"fg"Ek‒pekcu"fc"Cfokpkuvtc›«q"̋"x0"36."p0"54."r0"87/ 98."cdt"4234
Q"Rtqeguuq"fg"Nkfgtcp›c"g"c"Iguv«q"fq"Eqpjgekogpvq"Qticpk¦cekqpcn
apoiadora e o RH estratégico favorecem a ação efetiva
dos gestores, a motivação, a Gestão do Conhecimento,
os resultados organizacionais e a competitividade, por
meio do desenvolvimento individual e da organização.
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