Heteorogeneidade estrutural da indústria do estado de Santa Catarina: algumas evidências empíricas

AutorCarolina Silvestre Cândido - Silvio A. F. Cario - Henrique Cavalieri da Silva
CargoMestranda em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina - Professor dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina - Doutorando em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Páginas89-121
HETEOROGENEIDADE ESTRUTURAL DA INDÚSTRIA DO
ESTADO DE SANTA CATARINA: ALGUMAS EVIDÊNCIAS
EMPÍRICAS
Carolina Silvestre Cândido1
Silvio A. F. Cario2
Henrique Cavalieri da Silva3
Resumo
Este trabalho tem por objetivo estudar a heterogeneidade estrutural brasileira
e catarinense com o propósito de contribuir com estudos sobre a realidade
econômica catarinense. A teoria economia apresenta a heterogeneidade
estrutural como fruto da geração e difusão desiguais do progresso técnico.
Está se expressa na brecha produtiva interna onde coexistem, em uma
mesma estrutura produtiva, estratos produtivos desenvolvidos e com níveis
elevados de produtividade do trabalho e estratos produtivos arcaicos com
produtividade de trabalho reduzida. Através da análise do período de 1998
a 2009, dados a partir do VTI, PO e produtividade do trabalho e de acordo
com a intensidade tecnológica comprovam a existência de heterogeneidade
estrutural na indústria catarinense.
Palavras-chave: heterogeneidade estrutural, indústria de Santa Catarina,
produtividade do trabalho.
1. INTRODUÇÃO
O tema heterogeneidade estrutural tem sido muito estudado atualmente,
tendo sido considerado a causa para muitos dos problemas vividos pelos
países que se encontram em estagio de subdesenvolvimento. A existência de
1 Mestranda em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: carolinascandido@gmail.com
2 Professor dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina.
E-mail: fecario@yahoo.com.br
3 Doutorando em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail: henrique.cavalieri@gmail.com
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Textos de Economia, Florianópolis, v.15, n.1, p.89-121, jan./jun.2012
uma estrutura marcada pela heterogeneidade produtiva de setores contribui
fortemente para a reprodução da desigualdade social, concentração de renda,
diferenciais no acesso à saúde e educação entre outras ocorrências, uma vez
que a distinção do progresso técnico traz diferentes níveis de produtividade
do trabalho, e por consequência em ganhos e acessos desiguais na sociedade.
Santa Catarina possui uma estrutura produtiva onde o setor industrial
destaca-se por considerável contribuição ao longo do tempo. A construção
do setor industrial foi privilegiada pela massa de imigrantes europeus
que povoaram o Estado, trazendo a iniciativa empresarial e mão-de-obra
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caráter regionalizado e especializado do setor industrial, em conformação
localizada de baixa concentração populacional. Auxiliando neste processo
de desenvolvimento industrial encontram-se as ações do Estado, ao longo
do tempo, impulsionando a dinâmica produtiva a partir de melhorias em
condições infraestruturais, como os investimentos realizados em energia,
transportes, educação – bem como em condições propícias para investimen-
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trazendo consigo questionamento sobre a existência de elevada heterogenei-
dade produtiva que se reproduz em termos de produtividade desigual entre
atividades econômicas. Neste sentido, o presente artigo tem o objetivo de
apresentar a produtividade do trabalho de Santa Catarina por intensidade
tecnológica em termos de valor de transformação industrial e pessoal ocu-
pado. Para tanto, está dividido em 5 seções, sendo que na 1ª. apresenta-se o
propósito deste trabalho; na 2ª. seção discute-se de forma sintética a relação
entre heterogeneidade estrutural, produtividade do trabalho e progresso téc-
nico; na 3ª. seção descreve-se o comportamento recente do crescimento da
economia brasileira e catarinense; na 4ª. seção faz avaliação dos indicadores
que expressam a produtividade do trabalho na estrutura industrial de Santa
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2. HETEROGENEIDADE ESTRUTURAL, PRODUTIVIDADE DO
TRABALHO E PROGRESSO TÉCNICO
No entendimento pensamento econômico estruturalista cepalino, o atraso
em que se encontra a periferia latino-americana decorre, em muito, pela forma
como se cria e difunde o progresso técnico. Nestes termos, para Rodriguez
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(1981, pg. 37), “[...] entende-se que centros e periferias se constituem histo-
ricamente como resultado da forma pela qual o progresso técnico se difunde
na economia mundial”. A maneira como penetra o progresso técnico – em
estágio retardatário e de difusão desigual -, faz com seus frutos na periferia
geram uma heterogeneidade na estrutura produtiva. Tal heterogeneidade
possibilita a coexistem em seu seio, setores em que a produtividade alcança
os níveis mais altos no padrão internacional, e atividades em que as técnicas
de produção são arcaicas e a produtividade do trabalho é baixa.
Deve-se considerar que o desenvolvimento do progresso técnico, em
nível mundial, mostra-se distinto na relação centro (países desenvolvidos) e
periferia (países subdesenvolvidos). É considerado mais acelerado no cen-
tro do que na periferia, logo os incrementos da produtividade do trabalho,
decorrentes da incorporação do progresso técnico ao processo produtivo,
são menos intensos na segunda região do que na primeira. Esse diferencial
entre progresso técnico e incremento produtivo do trabalho do centro em
relação à periferia gera disparidade dos ritmos de aumento das respectivas
produtividades médias, e assim da renda média geral (RODRIGUEZ, 1981).
Em correspondência com esta observação, Prebisch (2000b, pg. 83)
aponta: “[...] enquanto os centros preservaram integralmente o fruto do
progresso técnico de sua indústria, os países periféricos transferiram para
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(2000b, 72): “Daí a importância fundamental da industrialização dos novos
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dispõem para ir captando uma parte do fruto do progresso técnico, elevando
progressivamente o padrão de vida das massas”.
Por sua vez, para Prebisch, (2000a) o crescimento econômico da
América Latina depende do aumento da renda per capita e do aumento da
população. O aumento da renda per capita só ocorrerá mediante o aumento
da produtividade ou, dada uma produtividade, através do aumento da renda
por trabalhador na produção primária, comparada à renda dos países indus-
trializados que importam parte dessa produção. Esse ajuste tende a corrigir
a disparidade de renda provocada pela forma como o fruto do progresso
técnico é distribuído entre centro e periferia. Logo, para aumentar a pro-
dutividade da população já existente, deve-se assimilar a técnica moderna,
permitindo, assim, aumentar a produtividade do trabalho.
Sob condição do subdesenvolvimento periférico, a renda real por ha-
bitante cresce menos que a produtividade e a deterioração dos termos de

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