História & Documento e método de pesquisa

AutorRicardo Marques de Mello
CargoMestre em História pela UNB. Doutorando em História pela mesma instituição
Páginas163-168

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Ricardo Marques de Mello1

SAMARA, Eni de Mesquita; TUPY, Ismênia Spíndola Silveira Truzzi. História & Documento e método de pesquisa. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. 168 p. – (Coleção História &... reflexões, 10).

Dando seqüência à lista de títulos da coleção História &... reflexões, a Editora Autêntica lançou, em 2007, o livro História & Documento e metodologia de pesquisa, de Eni de M. Samara e Ismênia S. S. T. Tupy. Tratase de tema complexo e, simultaneamente, fundamental para se refletir a respeito do ofício de historiador e da operação que lhe caracteriza, a transformação dos registros pretéritos em historiografia de um dado presente. Longe de ser simples e atemporal, a relação entre documento, método e historiador está circunscrita a um conjunto de fatores com os quais o próprio métier obtém ou se priva de legitimidade e sem o qual ele perderia parte de seu poder de atração. Um número considerável de autores contemporâneos interessouse por essa tríade, por vezes incluindo outros aspectos, partindo de pressupostos e com finalidades diferentes. Ainda assim, os debates em torno dela promoveram e promovem intensas divergências, sobretudo acerca dos critérios a partir dos quais se poderia considerar um texto historiográfico digno de cientificidade e reconhecimento acadêmico. Sendo assim, tornase oportuno pensar, em conjunto, a História, o documento e o método de pesquisa, especialmente por intermédio de duas historiadoras cujas experiências de arquivo e escrita mostramse profícuas e as habilitam a penetrar terreno sujeito às tortuosidades da profissão.

Ismênia S. S. T. Tupy é pesquisadora do Centro de Estudos de Demografia Histórica da América Latina (CEDHAL). Concluiu seu doutorado em História Econômica em 2004 na Universidade de São Paulo (USP), sob orientação de Eni de M. Samara, cujo título é Retratos femininos: gênero, educação e trabalho nos censos demográficos. 1872-1970, o qual se encontra no prelo. Eni de Mesquita Samara tem extensa trajetória acadêmica. Com formação em história na USP (graduação, mestrado e doutorado) participou ativamente de presidências de Instituições ligadas à categoria, tais como a do CEDHAL, da Associação Nacional dos Professores Universitários de História (ANPUH), além de ter assumido a direção do Museu Paulista da USP, e vicedireção da Faculdade

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de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da mesma universidade, onde é professora Titular. Academicamente dedicouse, sobretudo, ao estudo da História das Mulheres e da Família e à História da População. Ambas as autoras têm reconhecida experiência em análises seriais em demografia e em questões de gênero, marca, aliás, presente no livro História & Documento e metodologia de pesquisa. Com ele, as historiadoras pretendiam “explicitar melhor uma etapa essencial aos estudos históricos: a relação entre o historiador e a sua principal ferramenta de trabalho, o documento histórico” (p. 12), sem, no entanto, partirem de teorias a priori, a partir das quais se pudesse enquadrar a riqueza dos dados empíricos em modelos explicativos.

O livro é dividido em quatro capítulos, além das seções de praxe, introdução e considerações finais. O primeiro capítulo, O documento e sua História, foi dividido em três tópicos, 1) O documento na História: as primeiras aproximações, no qual se pretendeu expor como o documento “vem sendo apreendido ao longo do tempo” (p. 19). As autoras efetuaram uma classificação peculiar, incluindo pensadores gregos e romanos em “certa tradição”, a historiografia pagã. Em seguida teria se estabelecido uma “nova História” com o cristianismo, com a vinculação entre História e propagação da fé. O momento de rompimento com essa perspectiva teria advindo de uma crítica historiográfica formulada sob a influência do Renascimento e da Reforma. “Nos séculos que se seguiram” enfatizouse a busca pela fidedignidade das fontes, valorizandose os documentos oficiais, o que teria demandado a instituição de arquivos e o recurso à Heurística, à Paleografia, à Diplomática, à Epigrafia, à Arqueologia e à Filologia. Do enfoque geral ao restrito ao Brasil, as autoras associam essa interpretação da história e documento às posições dos membros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). 2) O documento na...

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