História Política e Cultura do Medo

AutorAntonio Torres Montenegro
CargoProfessor do Departamento de História da UFPE.
Páginas23-40
HISTÓRIA POLÍTICA E CULHISTÓRIA POLÍTICA E CUL
HISTÓRIA POLÍTICA E CULHISTÓRIA POLÍTICA E CUL
HISTÓRIA POLÍTICA E CULTURA DO MEDOTURA DO MEDO
TURA DO MEDOTURA DO MEDO
TURA DO MEDO
Prof. Dr. Antonio Torres Montenegro1
Resumo: Este artigo reflete meu percurso de pesquisa histórica nos últimos seis
anos, e nele privilegio aspectos que considero relevantes nas produções realiza-
das que se consubstanciaram em artigos e capítulos de livros. O objetivo ao es-
colher esse caminho é o de refletir e mapear os deslocamentos teóricos e
metodológicos, os aprendizados, considerando as contribuições de diversos auto-
res, os desafios e encruzilhadas, o diálogo com a historiografia num nível geral e
também específico. As reflexões metodológicas foram construídas num diálogo
com documentos da imprensa, do DOPS, da literatura de cordel além de relatos
orais de memória relativos aos acontecimentos políticos das décadas de 1950 e
1960.
Palavras-chave: História Política; História Oral; Repressão Política; Medo; Brasil
Século XX
Abstract: This article reflects my recent journey in historical researching, paying
special attention to what I have considered as relevant issues in articles and book
chapters written in the last six years. The objective in choosing this path is to
reflect and map the theoretical and methodological shifts, the challenges and shifts
of my historical learning, considering the contributions of various authors, and the
dialogue with historiography in general and specific level. Methodological reflections
were constructed in a dialogue with sources as newspapers, documents of DOPS,
the “chap-books” in addition to oral reports of memory for the political events of
the 1950s and 1960s.
Key Words: Political History; Oral History; Political Repression; Fear; Brasil
XX Century
1. LUTAS POLÍTICAS NO CAMPO.
Inicio pela análise de um projeto de pesquisa histórica que teve como título
Memórias da terra: a Igreja Católica, as Ligas Camponesas e as esquerdas
(1954-1970), o qual resultou em diferentes caminhos suscitados pela pesquisa
1 Professor do Departamento de História da UFPE. Email para contato: antoniomontenegr@hotmail.com
24 REVISTA ESBOS Volume 16, Nº 21, pp. 23-40 — UFSC
documental, associada ao debate historiográfico. A problemática metodológica
que se apresentou constantemente em razão do cruzamento ‘documentação &
historiografia’ contribuiu de maneira decisiva para a análise de um período histó-
rico no Brasil marcado por um avanço dos movimentos sociais rurais e urbanos,
até o golpe civil-militar que se instalou em 1964 e a repressão aos movimentos
sociais que então se seguiu.
No texto publicado como capítulo de um livro da coleção Brasil Republica-
no, com o título Ligas Camponesas e sindicatos rurais em tempo de revo-
lução2, desenvolvi uma ampla reflexão sobre a organização das Ligas Campone-
sas no estado de Pernambuco e sua atuação no Nordeste do Brasil, entre o final
da década de 1950 e início da década de 1960. Para este estudo pesquisei com a
documentação do DOPS3 – hoje depositada no Arquivo Público Estadual de Per-
nambuco. As Ligas Camponesas se constituíram numa Associação Civil Rural de
grande força política, pois surgiram como alternativa aos sindicatos rurais que os
grandes proprietários impediam de serem criados.
Nas décadas de 1950 e 1960, a polícia apreendeu farta literatura produzida
por algumas lideranças dos movimentos sociais rurais consideradas como inte-
grantes das Ligas Camponesas. Essa documentação possibilitou estudar diferen-
tes aspectos dos discursos e das práticas dos trabalhadores. A imprensa e os
relatos orais de memória de trabalhadores e lideranças sindicais e religiosas tam-
bém se constituíram uma base documental importante para a análise do cotidiano
dos embates políticos no campo.
Duas perspectivas de análise fundam a escrita do texto Ligas Campone-
sas e sindicatos rurais em tempo de revolução. Por um lado, o estudo da
acirrada disputa que se estabeleceu entre a Igreja Católica, setores da esquerda
(fundamentalmente o Partido Comunista) e as Ligas Camponesas, pela hegemo-
nia na condução das lutas sociais que começavam a eclodir no meio rural em
Pernambuco. Nesse aspecto, além de estabelecer as linhas dessa disputa, procu-
ro analisar como a Igreja Católica teve um papel decisivo na criação dos sindica-
tos rurais pelo Ministério do Trabalho, antes do golpe civil-militar. A formação
dos sindicatos rurais foi um meio de enfraquecer as Ligas Camponesas, as quais
eram associações civis criadas no vazio deixado pela legislação, que dificultava a
fundação dos sindicatos no campo. A disputa de poder entre essas três forças
políticas nesse período foi um dos focos centrais das minhas análises.
O segundo aspecto a ser destacado na realização desse estudo foi a opção
de pensar o documento (no caso da imprensa) como uma forma de construir o
real e, desse modo, estudá-lo como lócus privilegiado, observando como aí se
estabelece um acirrado combate entre os diversos grupos sociais no sentido de
narrar, da forma mais convincente e, portanto, verdadeira, a história cotidiana.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT