Histórias da eugenia

AutorMarília Mezzomo
CargoUniversidade Federal de Santa Catarina
Páginas181-184
HISTÓRIAS DA EUGENIA
Marília Mezzomo1
Universidade Federal de Santa Catarina
DIWAN, PIETRA. Raça Pura; uma história da eugenia no Brasil e no mundo.
São Paulo: Contexto, 2007.
Na década de 1930, o projeto político para o país incluiu premissas médi-
cas e ideais científicos relativos a trabalho, educação, urbanismo, higiene ou mesmo
civismo. Para tanto, casamentos saudáveis eram aconselhados, garantidos por
exames pré-nupciais, que serviriam para detectar tanto os portadores de sífilis ou
tuberculose, assim como indivíduos “propensos a vícios” como o alcoolismo.
Houve médicos que dedicaram teses à necessidade de geração de uma popu-
lação bela; para os eugenistas mais radicais, a esterilização traria a certeza de que a
miséria não copulasse com a doença, como ilustrou um médico do período.
Explicações e debates sobre a origem das diferentes raças, influência do meio
x hereditariedade, doenças x patriotismo ou vantagens da mestiçagem x degeneração
dos mestiços se realizaram não apenas nas escolas de medicina e em periódicos
especializados, mas foram veiculados por jornais, rádio e almanaques.
Assim, representações do trabalhador saudável e da nação fortalecida fo-
ram amalgamadas e hoje são associadas ao varguismo e ao discurso da eugenia,
que era o conjunto de idéias médico-científicas que visava à “higiene das raças”,
com a garantia de populações aptas ao trabalho, livres de doenças degenerativas,
“taras” e vícios. Por conta de sua interferência mais radical, a eugenia foi para
sempre associada à “solução final” levada à cabo pelo III Reich.
Certamente que o caráter autoritário do discurso eugênico ficou patente,
registrado em textos e através de imagens também. O fato de determinado médi-
co ou intelectual ter defendido ideais eugênicos é dificilmente apartado dessas
imagens ou de uma atitude, no mínimo, racista – mesmo que a eugenia tenha sido
um corpus de premissas da biologia surgido no final do século XIX, na Inglater-
ra; mesmo que o racismo fosse manifestação já incrustada em grande parte das
sociedades ocidentais; mesmo que as fronteiras teóricas da eugenia fossem difu-
sas, móveis e extremamente abrangentes.
Na organização da história da eugenia e nas representações que dela são
criadas, diferentes elementos são associados para reforçar o caráter autoritário
e os discursos aterradores de seus propagadores, excluindo-se situações que tam-

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