Sílvio Coelho dos Santos

AutorUrda Alice Klueger
CargoEscritora
Páginas241-244

Page 241

* 1938

+ 26.10.2008

Eu era muito mais jovem que hoje quando travei conhecimento com o grande mestre Sílvio Coelho dos Santos - foi lá na altura em que começava a me preparar para construir um romance que depois se chamou "Cruzeiros do Sul", e eu precisava aprender um bocado sobre os antigos habitantes desta terra onde vivo, o povo que hoje chamamos de Xokleng. Estava assim bem perdida, sem saber por onde começar, quando me aconselharam a procurar o professor Sálvio Alexandre Muller, da Universidade local, que me recebeu com deferências que eu não imaginava:

-O que tu precisas conhecer é a pesquisa do Sílvio Coelho dos Santos! Da sua biblioteca particular, Sálvio emprestou-me "Índios e brancos no sul do Brasil", exemplar tão manuseado que muitas folhas já estavam soltas, e quanto me lembro, como neste momento, que também o Sálvio já partiu, neste mesmo ano de 2008! É como se pedacinhos da gente fossem ficando ao longo da estrada, como se fôssemos sendo apedrejados pela vida!

Foi empunhando "Índios e brancos no sul do Brasil" que comecei a aprender sobre o Sílvio, a admirá-lo cada vez mais, quiçá mesmo a ter dele uma certa inveja, pois eu também queria ter podido viver a vida que ele viveu, experimentar as experiências que ele experimentou. Vim a conhecê-lo mais adiante; tornei-me sua confreira na Academia Catarinense de Letras; vi-o fazer fascinantes pronunciamentos e dar impressionantes conferências em tribunas universitárias; acabei ganhando dele o meu exemplar de "Índios e brancos no sul do Brasil"; a partir de algum momento tornamo-nos amigos; citei-o em diversos textos meus; trocávamos mensagens eletrônicas, e neste ano ele andou costurando para que eu fosse lançar meu livro "Sambaqui" lá na sede da ACL1.

No último final de semana fiquei a mandar-lhe mensagens, sem nem me passar pelo pensamento que, já suavemente impulsionado por dedicados anjos (diz-me o coração que entre eles estava o cacique Kam-Rem 2)

Page 242

que provavelmente provinham lá das gentes Xokleng, Sílvio já acenava em despedida, tomando o rumo de outras paragens, quem sabe uma etérea floresta subtropical com uma porção de pessoas precisando de ajuda!

Fica difícil, para mim, pensar que o Sílvio se foi para sempre. Tento lembrá-lo como o ser humano extraordinário que era, lembrar das histórias que ouvi aqui e ali da boca dele, costurá-las numa biografia na forma como elas vêem à minha lembrança, trazer à tona o menino, o estudante, o...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT