Identidade e corpo na marcha das vadias

AutorAline Ribeiro Quintanilha de Souza
CargoDoutoranda em Antropologia pelo PPGA-UFF
Páginas140-155
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
Centro de Ciências Jurídicas - Universidade Federal da Paraíba
Nº 03 - Ano 2015
ISSN | 2179-7137 | http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ged/index
140
DOI: 10.18351/2179-7137/ged.2015n3p140-155
Seção: Gênero, Sexualidade e Feminismo
IDENTIDADE E CORPO NA MARCHA DAS VADIAS
Aline Ribeiro Quintanilha de Souza1
Resumo: O presente artigo aborda
elementos acerca da construção da
identidade “vadia” por parte de um setor do
movimento feminista, a Marcha das Vadias.
A ressignificação e reconstrução do
significado de “vadia” revela que as
mulheres estão inseridas em relações
políticas de gênero. É analisada a maneira
como as manifestantes da marcha
compreendem a relação das mulheres com
seus corpos a partir de tais relações
políticas. É descrito ainda como as
manifestantes utilizam a marcha para tentar
subverter as imposições que elas
identificam sobre si mesmas, construindo
sua identidade a partir de outras relações
com o corpo, nas quais se destacam o direito
sobre o próprio corpo e a liberdade sexual.
Palavras chaves: Corporalidade. Gênero.
Movimentos feministas.
Abstract: This article discusses elements
about the construction of identity "vadia" by
a sector of a feminist movement, the
1 Doutoranda em Antropologia pelo PP GA-UFF (Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade
Federal Fluminense)
Marcha das Vadias. The resignification and
reconstruction of the meaning of "vadia"
reveals that women are inserted in gender
policies relations. From these political
relations, the way that the protesters of this
march understand women's relationship
with their bodies, is analyzed. The paper
also analyzes as the protestors use the march
to try to subvert the impositions that they
identify for themselves, building their
identity from other relations with the body,
rights about their own bodies and sexual
freedom.
Keywords: corporeality, gender, women’s
movement.
Introdução
O objetivo deste trabalho é analisar
os temas de identidade e corporalidade na
Marcha das Vadias. Esta é um movimento
social que tem recebido visibilidade e
experimentado um grande crescimento em
adeptos e importância para as questões de
gênero no Brasil. Desta forma, busco
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
Centro de Ciências Jurídicas - Universidade Federal da Paraíba
Nº 03 - Ano 2015
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DOI: 10.18351/2179-7137/ged.2015n3p140-155
entender como se dá a ressignificação do
termo vadia, e qual é a relação deste termo
com a dinâmica das relações de gênero em
que as ativistas da marcha estão integradas.
Analiso ainda como práticas corporais são
construídas para um objetivo político
específico e relaciono as principais
reivindicações desenvolvidas na
manifestação com a construção da
identidade "vadia".
Para o desenvolvimento de tais
análises, realizei trabalho de campo junto às
organizadoras da Marcha das Vadias do Rio
de Janeiro a partir de abril de 2013 até
setembro de 2014. Para isso, acompanhei
suas atividades presencialmente e pela
internet. Assim, acompanhei a preparação
da marcha pelas organizadoras, seus
debates de formação, oficinas e demais
eventos promovidos pelo grupo. Também
acompanhei as duas marchas que ocorreram
durante tal período.
O evento que deu origem às
Marchas das Vadias no Brasil foi um
protesto realizado na cidade de Toronto,
Canadá em 24 de janeiro de 2011. O motivo
que desencadeou a manifestação foi uma
declaração de um policial na escola de
2 2 Algumas destas cidades são: Rio de Janeiro,
Niterói, Campos do s Goytacazes, Cabo Frio,
Uberlândia, Fortaleza, B elo Horizonte, São Paulo,
Recife, Florianópolis, São José dos Campos, São
Carlos, Aracaju, Porto Alegre, São Luís, Uberab a,
direito Osgode Hall acerca do aumento do
número de estupros naquele local.
O agente afirmou que as mulheres
deveriam evitar se vestirem como vadias,
para não se tornarem vítimas de ataques
sexuais. Muitas mulheres consideraram que
tal declaração culpava as vítimas pelos
estupros e ditava uma maneira específica de
se vestir. Por discordarem destas posições,
algumas mulheres organizaram a SlutWalk.
Tal manifestação, que se pretendia
local e de pautas específicas, foi apropriada
por movimentos em diversos países. No
plano brasileiro, a primeira edição da
Marcha das Vadias ocorreu na cidade de
São Paulo, em 4 de junho de 2011, desde
então foram realizadas várias reedições. Em
2013, aconteceram marchas em mais de
vinte cidades brasileiras2.
Apesar do intervalo entre o primeiro
evento no Brasil até o presente momento ser
curto, talvez seja possível levantar
elementos de sua trajetória. Um deles se dá
em matéria de notoriedade. A primeira
marcha do Rio de Janeiro foi realizada em
dois de julho de 2011, com
aproximadamente 1000 participantes. Na
terceira edição, em 27 de julho de 2013,
Cuiabá, Londrina, Guar ulhos, Natal, Brasília,
Salvador, Curitiba, Vitória e Barreiras. Fonte:
http://marchadasvadiasbr.wordpress.com/calendario
-de-marchas-pelo-brasil-2013/.

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