Identidade, reconhecimento e redistribuição: uma análise crítica do pensamento de Charles Taylor, Axel Honneth e Nancy Fraser

AutorJavier Amadeo
CargoUniversidade Federal de São Paulo
Páginas242-270
http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2017v16n35p242
242 242 – 270
Identidade, Reconhecimento
e Redistribuição: uma análise crítica
do pensamento de Charles Taylor,
Axel Honneth e Nancy Fraser1
Javier Amadeo2
Resumo
A política de identidade e o conceito de reconhecimento têm se transformado em questões do-
minantes da teoria política contemporânea. Como conceito, o reconhecimento signif‌ica que um
indivíduo ou grupo social reivindica o direito a ter sua identidade reconhecida, de forma direta
ou através da mediação de um conjunto de instituições. As teorias que tem problematizado
estas questões abordam tanto temas teóricos importantes como questões políticas centrais do
nosso tempo, como a def‌inição de direitos das minorias, reivindicações de autodeterminação
nacional ou os desaf‌ios colocados por nossas sociedades cada dia mais multiculturais. Dessa
forma, o objetivo central do presente artigo é apresentar e discutir os argumentos centrais de
Charles Taylor, Axel Honneth e Nancy Fraser que têm se transformando em essenciais para esta
discussão, enfatizando o debate em torno da relação entre reconhecimento e redistribuição, e
mais especif‌icamente entre o problema da injustiça baseada na questão da identidade e o proble-
ma da injustiça econômica. Por último, tentaremos entender algumas das implicações teóricas
e políticas do discurso da diferença e das teorias do reconhecimento dentro de uma perspectiva
conceptual mais ampla.
Palavras-chave: Identidade. Reconhecimento. Redistribuição. Taylor. Honneth. Fraser.
Introdução
O conceito de reconhecimento tem se transformado num dos conceitos
dominantes da teoria política contemporânea. Como conceito, o reconheci-
mento signica que um indivíduo ou um grupo social reivindica o direito a
ter sua identidade reconhecida, de forma direta ou através da mediação de um
conjunto de instituições.
1 O presente texto é resultado das discussões realizadas no grupo de pesquisa “Crítica e emancipação” da Unifesp.
2 Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 16 - Nº 35 - Jan./Abr. de 2017
243242 – 270
Como arma Markell, o desenvolvimento do conceito de reconhecimen-
to tem servido como ponto de conexão entre questões losócas mais amplas,
como a questão da identidade, a importância da estima social ou o valor da
autorrealização nas sociedades contemporâneas, e problemas políticos con-
cretos, como os desaos do multiculturalismo na educação, os dilemas de
uma política sobre a língua ocial em países multilinguísticos, a denição dos
direitos dos aborígenes e das minorias sexuais, e as reivindicações de autode-
terminação nacional, entre outros (MARKELL, 2008, p. 450).
O interesse nas questões da identidade e do reconhecimento entre os te-
óricos políticos adquiriu força – continua Markel – nos anos de 1990 e pode
ser entendido como uma reação teórica contra a ênfase colocada na questão
da justiça distributiva e contra algumas formulações de caráter mais economi-
cistas que subestimavam as questões culturais e identitárias. Ao m da mesma
década, alguns dos teóricos envolvidos na discussão começaram a questionar o
que podia ser visto com uma ênfase exagerada na questão da diferença, negli-
genciando o problema da desigualdade material (MARKELL, 2008, p. 451)3.
Na discussão sobre reconhecimento, estão presentes enfoques diversos
e perspectivas diferentes. No entanto, é possível identicar alguns textos e
questões-chaves que construíram boa parte das premissas e colocaram ques-
tões fundamentais do debate sobre o tema, ainda que suas perspectivas não
sejam completamente convergentes.
O artigo e Politics of Recognition de Charles Taylor, publicado em 1992,
é considerado um dos textos fundadores da discussão sobre reconhecimen-
to junto com o texto de Axel Honneth. Taylor vai propor, como arma
Markell, uma mudança na discussão teórica com relação ao debate liberal-
-comunitarista da década de 1980. O autor vai sugerir que a discussão sobre
o sistema político e sobre as emendas constitucionais que determinaram a
diversidade linguística no Canadá deveriam ser entendidas como exemplos de
uma “política de reconhecimento4. E essa forma de política buscaria transfor-
mar a maneira como os cidadãos são considerados socialmente e, ao mesmo
tempo, seria um modo de satisfazer uma necessidade humana profunda de
3 Como, por exemplo, o caso de Nancy Fraser como analisaremos a seguir.
4 Conforme Taylor, 2000, p. 260-261.

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