Ideologia e utopia no Chile: os usos sociais do exílio e da arte

AutorMatias Lopez
CargoBacharel em Ciencias Sociais pelo IFCS-UFRJ. Mestrando do programa de pós Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ.
Páginas462-480
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.11, n.98, p. 462-480, jan/jun. 2010
Ideologia e utopia no Chile: os usos sociais do exílio e da arte
Ideology and utopia in Chile: social uses of exile and art
Matias Lopez1
RESUMO
O artigo aponta variáveis sócio-históricas na composição do Museo de la
Solidariedad em Santiago do Chile, através da atuação de Mário Pedrosa, crítico de
arte, intelectual e militante político brasileiro. O período do exílio no Chile upista de
1971 a 1973, onde trabalhou dentro do quadro institucional do novo governo, e de
um projeto de transformação política, revela-nos laços de solidariedade social
específicos, assim como o tipo de estratégia cotidiana que o intelectual engajado
lança mão em prol da rotinização e institucionalização de utopias. Embora breve, o
período evidencia o tipo de rede social passível de ser acionada no mundo das artes
em articulação com um projeto político, tal qual suas bases de solidariedade social,
fortemente pautadas por uma visão de mundo ideológico-utópica.
Palavras-chave: Mário Pedrosa. Museo de la Solidariedad. Mercado de arte. Crítica
de arte. Exílio.
ABSTRACT
This article points out s ociological variables regarding the construction of the Museo
de la Solidariedad in Santiago de Chile throw out the life and work of Mario Pedrosa,
a Brazilian intellectual, art critic and political activist. During the Chilean exile period
(1971 to 1973), under Unión Popular government, Pedrosa worked on the
governments institutional framework under the umbrella of a social change project.
The context reveals us specific social solidarity types, as well as the strategies in
daily bases in which the intellectual engages him self in order to institutionalize
utopias. This short period of action reveals the possibilities of complex social
networks in the art world as well as its solidarity bases, articulated with a political
project, framed by an ideological-utopian world view.
Key Words: Mário Pedrosa. Museo de la Solidariedad. Art market. Art critic. Exile
1 Bacharel em Ciencias Sociais pelo IFCS-UFRJ. Mestrando do programa de pós Graduação em
Sociologia e Antropologia da UFRJ. matiaslopez.uy@gmail.com
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.11, n.98, p. 462-480, jan/jun. 2010
O presente estudo aborda o exílio chileno do escritor, critico de arte e ativista
político brasileiro Mário Pedrosa (1900 1981) e a construção do Museo de la
Solidariedad, cujo acervo incluiu obras de Picasso, Calder, Miró, Moore, entre um
número estimado de 3 mil obras2. A análise trata de levar em conta as relações
sociais específicas que se o dentro do marco de um projeto político de
modernização via Estado, associado às teorias econômicas então vigentes s obre o
subdesenvolvimento. Nesse contexto, se incluem relações aparentemente
desconexas, como aquelas pautadas pelo mundo da arte e pelo mercado
internacional de arte. Estas esferas mostram afinidades através do tipo de aliança
estabelecida pelos seus atores.
Para entender como estas redes se estabelecem e qual o uso que um ator
central como Mário Pedrosa pôde fazer delas, traçamos um paralelo entre a
documentação pessoal e institucional existente e os rumos da história política do
período. O presente artigo se divide em quatro tópicos, além da Conclusão. O
primeiro tópico (I), “Concretismo e Marxismo em Mário Pedrosa, duas base s para a
ação ideológica e utópica reporta a atuação de Pedrosa nas décadas
imediatamente anteriores ao período do exílio chileno, em vistas a elucidar o sentido
que o mesmo ganha dentro de sua biografia. O s egundo tópico (II), Como Pedrosa
chega ao Chile?”, responde a questão explicitada por meio da exposição das
condições da saída do Brasil, em função de um processo na Justiça Militar, e da
recepção no Chile. O terceiro tópico (III) “O Museo em seu contexto de f ormação”,
aborda o contexto da proposta de formação de um museu, encabeçada por
intelectuais engajados e pelo próprio presidente Allende, em um contexto de fricções
estimuladas pela contrapropaganda. O quarto e último tópico (IV), “o Museo como
projeto polític o”, aponta para o lugar que a instituição de arte ganha no contexto do
projeto político do governo da Unión Popular e para como o próprio Mário Pedrosa
se apresenta frente ao projeto político chileno. Em seu conjunto, o texto foca a
trajetória do exilado Mário Pedrosa, enquanto ator de um quadro geral de mudança
social no Chile, associando ação individual e ideário coletivo, frente a process os d e
uso político da arte. Os trechos da correspondência pessoal de Pedrosa são
2 O número exato de obras que o Museo de la Solidariedad, hoje Museo de la Solidariedad Salvador
Allende, chegou a arrecadar é incerto. Os números variam entre 2.000 e 5.000 obras, dependendo da
fonte consultada.

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