Imersão social e processos inovativos: estudo do Polo Calçadista de Nova Serrana - Minas Gerais

AutorCássio Murilo da Silva - Gláucia Maria Vasconcellos Valle - Rodrigo Baroni de Carvalho
CargoMitre Consultoria Empresarial, PPGA, PUCMinas - PPGA-PUCMinas - Programa de Pós-Graduação em Administração- Pontifícia, Universidade Católica, PUCMinas
Páginas25-44
Imersão Social e Processos Inovativos: Estudo do Polo Calçadista de Nova Serrana – Minas Gerais
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Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
RESUMO
Recorrendo à abordagem das redes sociais, o presente artigo
analisa os processos inovativos em dois diferentes tipos de
empresas (empresas de alto e baixo desempenho inovativo),
localizadas no Território Produtivo de Nova Serrana (MG). Utili-
zou-se o estudo de casos múltiplos, envolvendo duas empresas
de cada categoria. Buscou-se, primeiramente, aferir o nível de
inovação em produtos e processos e, em seguida, mapear as
redes sociais e empresariais das empresas. Os resultados mos-
tram que as redes das empresas de alto desempenho são mais
densas e melhor integradas, apresentando maior frequência
de laços fortes, o que faz com que recursos e informações
trafegadas sejam de natureza mais renada, com propagação
abrangente e dinâmica. Por outro lado, as redes das empresas
de baixo desempenho são mais porosas, caracterizadas por
maior presença de atores isolados, ausência de atores centrais,
sendo as informações e recursos que uem em seu interior de
natureza mais local.
Palavras-chave: Inovação. Redes sociais. Território produtivo
ABSTRACT
Based upon the perspective of social networks, this paper
discusses the innovative processes in two dierent categories
of companies (high performance enterprises; low performance
enterprises), located in Nova Serrana shoes cluster, in Minas
Gerais State, Brazil. The results show that the networks of com-
panies described as high innovative performance have denser
networks, many strong ties and few isolated actors, turning
more rened the embedded information and resources and
more dynamic their propagation and usage. On the other hand,
the social networks of low innovative performance companies
are more diuse, with many isolated actors, absence of cen-
tral actors, making more dicult the process of propagation
and appropriation of novel information, especially from the
outside world.
Keywords: Innovation. Social networks. Cluster.
IMERSÃO SOCIAL E PROCESSOS INOVATIVOS:
ESTUDO DO POLO CALÇADISTA DE
NOVA SERRANA  MINAS GERAIS
Embeddedness and Innovative Processes:
a study of shoes cluster in Brazil
Cássio Murilo da Silva
Mitre Consultoria Empresarial, PPGA - PUCMinas, email:
cassiomurilods@gmail.com
Gláucia Maria Vasconcellos Valle
PPGA-PUCMinas, email: galvale@terra.com.br
Rodrigo Baroni de Carvalho
Programa de Pós-Graduação em Administração- Pontifícia
Universidade Católica – PUCMinas, email: rodbaroni@yahoo.com.br
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Revista de Ciências da Administração • v. 21, n. 54, p. 25-44 , Agosto. 2019
DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8077.2019.e52980
Submetido: 20/09/2017
Aceito: 03/09/2019
Cássio Murilo da Silva • Gláucia Mar ia Vasconcellos Valle • Rodrigo Baroni de Carvalho
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Revista de Ciências da Administração • v. 21, n. 54, p. 25-44, Agosto. 2019
1 INTRODUÇÃO
Devido à necessidade de países e regiões de
desenvolverem uma agenda de desenvolvimento e
crescimento em seu parque industrial e pela cres-
cente necessidade de gerar empregos e renda para
suas populações, grande ênfase vem sendo atribuída
aos estudos sobre inovação de produtos e processos
na área acadêmica nas últimas décadas, sobretudo
em aglomerações industriais com especialização da
produção, conceitu adas como Territórios Produtivo s
para os ns deste estudo.
No entanto, apesar de fartos, esses estudos man-
tiveram-se com foco, quase exclusivo, nos ganhos de
externalidades tangíveis que permeiam os processos
inovativos no interior desses territórios, tais como as
regiões da Emília Romagna, Itália (AMATO NETO,
2000); Nova Serrana, Brasil (CROCCO, SANTOS,
SIMÕES & HORÁCIO, 2001; REZENDE, 2004; SU-
ZIGAN, FURTADO, GARCIA & SAMPAIO, 2005).
A academia, sobretudo nos países em desenvolvimen-
to, não vem dando uma atenção mais pronunciada
em processos inovativos sob uma ótica sociológica,
incluindo na discussão, de maneira mais incisiva, a
base mais submersa que está na origem da inovação
enquanto processo que se cria e se desenvolve na
relação entre pessoas e empresas em seu contexto
de vida real (MARTES et al., 2006, p. 13; RASERA &
BALBINOT, 2010, p. 135; LI, BATHELT & WANG,
2011; HALINEN & TORNROOS, 1998).
Apesar da relevância do tema das redes sociais
em aglomerações produtivas, com literatura extensa
em países mais desenvolvidos, Vasconcelos e Oliveira
(2012) alegam que poucos estudos no Brasil têm abor-
dado o assunto correlacionando redes empresariais e
seus impactos em processos inovativos, dando ênfase
ao mapeamento de redes e o posicionamento de seus
atores como elos fundamentais na difusão de inova-
ções no interior e exterior de redes empresariais (grifo
nosso). Pesquisas realizadas por esses autores em
sete periódicos nacionais e anais de dois congressos
não encontraram trabalhos que focalizem especica-
mente a imersão social (relacional e estrutural) e seus
impactos nos resultados empresariais - desempenho,
aquisição de capacidades e inovação, por exemplo
(VASCONCELOS e OLIVEIRA, 2012). Em recente
revisão sistemática da literatura sobre a capacidade
de inovação de clusters, Bittencourt, Galuk, Daniel
e Zen (2018) analisaram as bases de dados EBSCO,
SCOPUS e Web of Knowledge desde 2005 e encon-
traram 18 trabalhos sobre a temática, concluindo que
enquanto a maioria dos estudos aborda a inovação
em nível da rma, há escassez relativa de estudos que
investigam as interações que acontecem nas aglome-
rações inter-organizacionais.
Territórios Produtivos apresentam-se como
regiões privilegiadas para os estudos das interações
produtivas, uma vez que a “indústria localizada” tem
funções variadas de “preparar os avanços modernos
em divisão do trabalho nas artes mecânicas e na tarefa
da administração da empresa” (MARSHALL, 1982,
p.232). Muller (2009) alega que um cluster é uma rede
de empresas e instituições interligadas em um campo
particular da indústria que está circunscrita em uma
determinada área geográca e que pertencendo a essa
área, as empresas podem aumentar sua capacidade
de inovação, beneciando de externalidades positivas
como o conhecimento que é gerado internamente ao
arranjo, maiores acessos a recursos e tecnologias que
são susceptíveis de ajudar as empresas a adquirir van-
tagens competitivas em relação aos concorrentes que
não fazem parte dessa rede. Em survey recente com
47 empresas do polo têxtil de Ilhota (Santa Catarina),
Mondini, Amal e Gomes (2016) identicaram que as
externalidades, como o maior uxo de clientes, acesso
à mão de obra especializada e disponibilidade de for-
necedores, são pouco aproveitadas e que potencializar
as externalidades poderia melhorar o desempenho
em inovação das empresas envolvidas.
Um importante impulso para uma visão do con-
texto das relações sociais e empresariais e sua gênese
para os processos econômicos foi dada a partir do
desenvolvimento dos argumentos dos laços sociais
e do conceito de embeddedness, na década de 1970,
por Granovetter (1973, 1976, 1985, 2005, 2007) e a
ampliação desses conceitos por Burt (1992), que de-
marcaram as possibilidades de análises dos processos
inovativos, retirando a exclusividade de análises de
cunho utilitarista da escola neo-clássica e abrindo no-
vas frentes por meio da linha da economia sociológica.
Verica-se, pelos estudos empreendidos, que as
redes sociais e empresariais estão na base da estru-
tura econômica de muitas regiões, mesmo aquelas
que não são bem-sucedidas e têm atraído pouca

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