Os impactos da pandemia de COVID-19 na vida das mulheres docentes do departamento de serviço social da Universidade de Brasília
| Autor | Hayeska Costa Barroso, Mariah Sá Barreto Gama |
| Páginas | 78-97 |
2GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 2 | p. 2-2 | 1. sem 2022
EDITORIAL
2
EDITORIAL
Nesta edição da revista Gênero, apresentaremos o dossiê Gênero,
Políticas Públicas e Serviço Social, organizado pelas professoras doutoras
Luciana Zucco e Teresa Kleba L isboa, ambas da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), e pela professora doutora Magali Silva Almeida,
da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Serão apresentadas discus-
sões sobre gênero e a interseccionalidade entre raça e classe; sexualidade;
violência; migração feminina; encarceramento de mulheres; e suas inter-
faces com as políticas públicas, visando contribuir para o aprofundamento
dos estudos sobre a temática no serviço social. Esses estudos são de
grande relevância em um contexto de graves retrocessos no campo das
políticas públicas e de avanço do racismo e da violência contra mulheres,
homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais devido ao neoconservado-
rismo e ultraneoliberalismo que dominam o Estado brasileiro.
Ademais, esta edição conta com uma série de artigos de temas livres,
como adoção por casais do mesmo sexo; mulheres e esporte; participação
feminina na democracia portuguesa; feminismo negro; abor to; e trabalho
doméstico. Oferece, ainda, duas resenhas: uma sobre o livro E se fosse você?
sobrevivendo às redes de ódio e fake news, de autoria de Manuela d’Ávila;
eoutra sobre o livro Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano,
que tem como autora Grada Kilomba. Sendo assim, convidamos a todas
e todos, da comunidade acadêmica ou não, que possuem interesse pelos
estudos de gênero a desfrutar de uma ótima leitura.
Equipe editorial:
João Bosco Hora Góis
Kamila Cristina da Silva Teixeira
Sidimara Cristina de Souza
GÊNERO | Niterói | v. 23 | n. 1 | p. 78-97 | 2. sem 2022
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OS IMPACTOS DA PANDEMIA DE COVID19 NA VIDA DAS
MULHERES DOCENTES DO DEPARTAMENTO DE SERVIÇO
SOCIAL NA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
5
Hayeska Costa Barroso6
Mariah Sá Barreto Gama7
RESUMO: A pandemia causada pelo novo coronavírus, e seus impactos na
sociedade, suscitou uma série de discussões sobre os efeitos do trabalho
remoto na vida de mulheres trabalhadoras. No universo acadêmico, afetou,
sobremaneira, o cotidiano laboral das docentes e suas rotinas com os afazeres
domésticos, numa sobreposição de demandas dispostas de modo compósito
e paradoxal no espaço do lar. O objetivo do presente artigo é compreender
os impactos da pandemia e do trabalho remoto na vida das professoras do
Serviço Social na Universidade de Brasília, a partir de uma discussão sobre
docência e precarização, divisão sexual do trabalho e Serviço Social. Os
resultados apontam para um cotidiano marcado pela sobrecarga de trabalho
e o acúmulo de atividades, escassez de tempo e dificuldade de separar as
atividades profissionais (trabalho produtivo) e atividades domésticas e de
cuidado (trabalho reprodutivo).
PALAVRAS-CHAVE: Pandemias. Ensino Superior. Serviço Social. Mulheres.
ABSTRACT: The pandemic caused by the new coronavirus and its impacts
on society, sparked a series of discussions about the eects of remote work
on the lives of working women. In the academic universe, it greatly aected
the teachers’ daily work and their routines with domestic chores, in an overlap
of demands arranged in a composite and paradoxical way in the home space.
The objective of this article is to understand the impacts of the pandemic
and remote work on the lives of teachers of Social Work at the University
5 Esta pesquisa foi apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
por meio do Programa de Iniciação Científica (PROIC) da Universidade de Brasília (UnB).
6 hayeskacb@gmail.com
7 mariah.gama@hotmail.com
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição Não-
Comercial 4.0 Internacional.
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Nesta edição da revista Gênero, apresentaremos o dossiê Gênero,
Políticas Públicas e Serviço Social, organizado pelas professoras doutoras
Luciana Zucco e Teresa Kleba L isboa, ambas da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), e pela professora doutora Magali Silva Almeida,
da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Serão apresentadas discus-
sões sobre gênero e a interseccionalidade entre raça e classe; sexualidade;
violência; migração feminina; encarceramento de mulheres; e suas inter-
faces com as políticas públicas, visando contribuir para o aprofundamento
dos estudos sobre a temática no serviço social. Esses estudos são de
grande relevância em um contexto de graves retrocessos no campo das
políticas públicas e de avanço do racismo e da violência contra mulheres,
homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais devido ao neoconservado-
rismo e ultraneoliberalismo que dominam o Estado brasileiro.
Ademais, esta edição conta com uma série de artigos de temas livres,
como adoção por casais do mesmo sexo; mulheres e esporte; participação
feminina na democracia portuguesa; feminismo negro; abor to; e trabalho
doméstico. Oferece, ainda, duas resenhas: uma sobre o livro E se fosse você?
sobrevivendo às redes de ódio e fake news, de autoria de Manuela d’Ávila;
eoutra sobre o livro Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano,
que tem como autora Grada Kilomba. Sendo assim, convidamos a todas
e todos, da comunidade acadêmica ou não, que possuem interesse pelos
estudos de gênero a desfrutar de uma ótima leitura.
Equipe editorial:
João Bosco Hora Góis
Kamila Cristina da Silva Teixeira
Sidimara Cristina de Souza
GÊNERO | Niterói | v. 23 | n. 1 | p. 78-97 | 2. sem 2022 79
of Brasília, based on a discussion on teaching and precariousness, the sexual
division of labor and Social Work. The results point to a daily life marked by
work overload and accumulation of activities, lack of time and diculty in
separating professional activities (productive work) and domestic and care
activities (reproductive work).
PALAVRAS-CHAVE: Pandemics. Higher Education. Social Work. Women.
INTRODUÇÃO
A pandemia causada pelo novo coronavírus, e seus impactos na sociedade,
suscitou uma série de discussões sobre os efeitos do trabalho remoto na
vida de mulheres trabalhadoras (OLIVEIRA, 2020; LEMOS et al, 2020;
MACEDO, 2020; CASTRO e CHAGURI 2020; BARROSO e GAMA,
2020; Di GREGORIO e NOGUEIRA, 2020).
No universo acadêmico, a pandemia de COVID-19 afetou, sobremaneira, o
cotidiano laboral das docentes e suas rotinas com os afazeres domésticos, numa
sobreposição de demandas dispostas de modo compósito e paradoxal no espaço do
lar. A redução do número de artigos submetidos por mulheres a revistas científicas,
um dos principais indicadores no atual sistema de progressão na carreira acadêmica,
foi o efeito mais perceptível a priori. Analisando o fluxo de artigos recebidos pela
Revista Dados, Cândido e Campos (2020) mostraram que o número de artigos
publicados assinados por mulheres caiu da média de 40,8% para 28% no primeiro
trimestre de 2020, simultaneamente à chegada do coronavírus no país.
O regime de trabalho home oce, que se popularizou durante a crise
sanitária global, impôs novos desafios à vivência do espaço e da temporalidade
no mundo do trabalho e da casa, com particulares efeitos para as mulheres,
uma vez que “a carreira profissional e a vida doméstica compõem uma realidade
experimentada de maneiras diferentes por mulheres e homens” (BORSOI
e PEREIRA, 2011, p. 123), cujas manifestações materializam desigualdades
de gênero e a chamada divisão sexual do trabalho.
Segundo as autoras Hirata e Kergoat (2007), referências nos estudos
sobre divisão sexual do trabalho, as bases teóricas desse conceito surgiram
na França, na década de 1970. Em resumo, segundo as citadas autoras,
divisão sexual do trabalho diz respeito a: 1) distribuição desproporcional de
homens e mulheres no mercado de trabalho; 2) o uso do tempo e do espaço
segundo o gênero e suas relações com a desigualdade na divisão do trabalho
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