Imposto de renda e previdência privada: benefícios fiscais e tributação regressiva

AutorEmmanuel Marques Silva, Fabiano Borges Ruy , Adelson Pereira do Nascimento, Emiliano Estigarribia Canese
CargoIFES/Ifes/Ifes/Universidad Columbia del Paraguay
Páginas43-62
R C A
Imposto de Renda e Previdência Privada:Benefícios Fiscais e Tributação Regressiva
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
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RESUMO
Este trabalho avalia a eciência dos benefícios scais de pos-
tergação do Imposto de Renda, presentes nos investimentos
em PGBL, conciliados com a opção pelo regime de tributação
regressiva, vericando se estes promovem melhor rentabilida-
de que investimentos livres da cobrança de IR, em especial os
LCA’s/LCI’s. A metodologia adotada (ex-post-facto) calcula a
rentabilidade líquida destes investimentos em um intervalo de
10 anos (2009 a 2018), período mínimo para aproveitamento
integral dos benefícios scais, usando rendas brutas que con-
templam o perl da maior parte dos contribuintes brasileiros.
Os resultados obtidos demonstram que os benefícios scais
presentes nos PGBL’s podem proporcionar vantagens nancei-
ras capazes de gerar rentabilidades superiores ao benchmark
proposto, estando sua eciência vinculada a uma combinação
entre a proporção do benefício scal obtido, baixas taxas de
administração e de carregamento e alto prazo de permanência
dos investimentos, reforçando sua característica de investi-
mento de longo prazo.
Palavras-Chave: Previdência Complementar; Benefícios Fis-
cais; Imposto de Renda; Regime de Tributação Regressiva, PGBL.
ABSTRACT
This work assesses the eciency of tax benets of postpo-
nement of Income Tax, present in the investments in PGBL,
reconciled with the option of regressive taxation regime,
verifying if they promote better protability than investments
free from collecting IR, especially the LCA’s / LCI’s. The adopted
methodology (ex-post-facto) calculates these investments’ net
protability over an interval of 10 years (2009 to 2018), the
minimum period for fully taking advantage of tax benets,
using gross income that includes the prole of most Brazilian
taxpayers. The results obtained demonstrate that the tax
benets present in the PGBL’s can provide nancial advanta-
ges capable of generating higher returns than the proposed
benchmark, their eciency being linked to a combination of
the proportion of the obtained tax benet, low administration,
and loading rates, and high term of service, reinforcing its
long-term investment characteristics.
Key-words: Supplementary Pension Plans; Tax benets; Inco-
me tax; Regressive Taxation Regime, PGBL.
Imposto de Renda e Previdência Privada:
Benefícios Fiscais e Tributação Regressiva
Income Tax and Private Pension:
Tax Benefits and Regressive Taxation
Emmanuel Marques Silva
Instituto Federal do Espírito Santo (IFES)
email: emmanuel.silva@ifes.edu.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8267-2692
Fabiano Borges Ruy
Instituto Federal do Espírito Santo (IFES)
email: adelsonpn@ifes.edu.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3093-5088
Adelson Pereira do Nascimento
Instituto Federal do Espírito Santo (IFES)
email: adelsonpn@ifes.edu.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3093-5088
Emiliano Joel Estigarribia Canese
Universidade Americana / Universidad Columbia del Paraguay
email: ecanese@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9097-2043
DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8077.2022.e79488
Recebido: 12/02/2021
Aceito: 03/11/2022
Emmanuel Marques Silva • Fabiano Borges Ruy • Adelson Pereira do Nascimento • Emiliano Joel Estigarribia Canese
Revista de Ciências da Administração • v. 24, n. 64, p. 43-62, set.-dez. 2022
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R C A
1 INTRODUÇÃO
O mercado brasileiro de previdência comple-
mentar experimentou nos últimos anos um grande
avanço no que se refere à arrecadação, evolução da
carteira de investimentos e reconhecimento no mer-
cado. Na última década (2008-2019), o total de ativos
geridos por fundos de previdência privada aberta
no Brasil mais que quadruplicou, atingindo a marca
de mais de R$900 bilhões de reservas (FENAPREVI,
2020), reetindo o interesse crescente dos brasileiros
por formação de poupança voltada à aposentadoria.
O fenômeno de crescimento do setor também
tem sido favorecido por outros fatores. Historica-
mente, a legislação trabalhista e o assistencialismo
estatal contribuíram na formação de uma cultura de
que o Estado seria responsável pela manutenção da
renda pessoal na aposentadoria (BRITO e MINARI,
2015).
Com o surgimento de um cenário persistente
de tendência negativa na arrecadação e aumento das
despesas previdenciárias, agravada pela dinâmica
demográca, pelo perl contributivo dos segurados
e pelas novas relações de trabalho (MPS, 2015), o país
se deparou com aumento signicativo das despesas
com aposentadorias e o envelhecimento da população.
Isso favoreceu um colapso nanceiro do atual sistema
previdenciário (GRAGNOLATI et al, 2011). Tais
fatores têm contribuído na moldagem dos hábitos
de consumo e poupança (BRITO e MINARI, 2015),
criando oportunidades para a indústria de fundos
complementares (BOTTINO, 2012), e demandado
estudos para o desenvolvimento do sistema previ-
denciário ocial.
Neste contexto, têm-se notado que o Estado
tem buscado formas de incentivar a poupança in-
dividual das pessoas com o intuito de diminuir sua
dependência pela aposentadoria ocial. Evidências
deste fenômeno podem ser constatadas por meio
da Lei nº 10.887/2004, que possibilitou deduzir
os investimentos em PGBL – Plano Gerador de
Benefícios Livres – na Declaração de Ajuste Anual
do Imposto de Renda – Pessoa Física (DIRPF); e da
Lei nº 11.053/2004, que instituiu o Regime Regressivo
Denitivo, que incentiva os investimentos em PGBL
por meio de redução gradual da alíquota de IR.
É fato que tais leis não tratam de isenção do pa-
gamento do referido tributo, mas das possibilidades
de postergação do pagamento e de diminuição de
alíquota. Neste cenário, os investimentos em PGBL
têm se destacado por possuírem duas características
fundamentais: (i) a possibilidade de postergação
(diferimento) do pagamento do IR e (ii) a possibili-
dade de reduzir a alíquota de IR para investimentos
de longo prazo.
Não obstante, embora essas duas leis privilegiem
os investimentos em previdência privada, trabalhos
anteriores (LIMA, 2006; SILVA, 2010; YANG et al.,
2010; AMARAL, 2013; e CAMPANI e COSTA, 2016)
destacam que estes estão sujeitos a algumas taxas, em
especial as de administração e de carregamento, que,
quando muito altas, tendem a reduzir signicativa-
mente sua rentabilidade, o que diminui a capacidade
de formação de patrimônio do investidor, fenômenos
que têm instigado a realização de pesquisas que
avaliem o desempenho dos fundos previdenciários
frente a opções de investimentos não previdenciários.
Atentando-se para as características das pesqui-
sas supracitadas, notou-se uma lacuna quando se
trata de avaliar se os benefícios scais oferecidos pelo
PGBL cumprem com vantagens nanceiras sobre out-
ras modalidades de investimento livres da incidência
de IR, como, por exemplo, a Caderneta de Poupança,
as Letras de Crédito Imobiliário – LCI e as Letras de
Crédito do Agronegócio – LCA.
Assim, de forma a complementar os estudos
mencionados e preencher esta lacuna de pesquisa,
este trabalho tem por objetivo analisar em quais
cenários o aproveitamento dos benefíci os scais de
postergação do Imposto de Renda, presentes nos
investimentos em PGBL, conciliados com a opção
pelo Regime de Tributação Regressiva, garantem
melhor desempenho que outras opções de investi-
mentos isentos da incidência do IR.
Para esta análise, este estudo usou uma combi-
nação de variáveis ainda não utilizada em trabalhos
anteriores: (i) série histórica de 10 anos e (ii) investi-
mentos livres da incidência de IR, escolhendo como
parâmetro (benchmark) os investimentos em LCA’s/
LCI’s, principalmente pelo fato de terem rentabil-
idades geralmente atreladas ao CDI – Certicado
de Depósito Interbancário, bem superiores às da
Caderneta de Poupança.

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