Inovação territorial em contextos produtivos do semiárido baiano: a experiência da comunidade de morada velha na formação de um território produtivo

AutorMario Bestetti Costa - Laila Nezem Mourad
CargoMestre em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social, UCSAL, Salvador-BA - Docente do Programa de Pós-graduação em Território, Ambiente e Sociedade da Universidade Católica de Salvador, UCSal, Salvador/BA
Páginas627-645
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 46, n. 254, p. 627-645, set./dez. 2021| ISSN 2447-861X
INOVAÇÃO TERRITORIAL EM CONTEXTOS PRODUTIVOS DO
SEMIÁRIDO BAIANO: A EXPERIÊNCIA DA COMUNIDADE DE
MORADA VELHA NA FORMAÇÃO DE UM TERRITÓRIO PRODUTIVO
Territorial innovation in productive contexts of the semi-arid Bahia: the experience
of the community of Morada Velha in the formation of a productive territory
Mario Bestetti Costa
Instituto de Design Social e Sustentável - IDSS, BA, Brasil
Laila Nazem Mourad
Universidade Católica de Salvador, BA, Brasil
Informações do artigo
Recebido em 26/11/2021
Aceito em 22/12/2021
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2021.n254.p627-645
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Como ser citado (modelo ABNT)
COSTA, Mario Bestetti; MOURAD, Laila Nazem.
Inovação territorial em contextos produtivos do
Semiárido baiano: a experiência da comunidade de
Morada Velha na formação de um território produtivo.
Cadernos do CEAS: Revista Crítica de Humanidades.
Salvador/Recife, v. 46, n. 254, p. 627-645, set./dez. 2021.
DOI: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2021.n254.p627-645
Resumo
Este artigo trata do processo de formação de territórios
produtivos, analisando o desenvolvimento da comunidade de
Morada Velha (BA) no período de 2000 a 2018. A despeito dos
dados socioeconômicos demonstrarem baixos índices de
desenvolvimento regional, a produção artesanal apresenta-se
como a principal atividade produtiva e fonte de renda, o que
possibilita tanto uma evolução econômica como a melhoria da
qualidade de vida daquela população, atuando como agente de
integração regional através das trocas de saberes. Com o
questionamento sobre a mobilização democrática e produtiva
de um território através de seus ativos culturais, observou-se
que tais ativos fomentadores do processo de transformação
social, tendem a apoiar o desenvolvimento local e a fortalecer
sua territorialidade, quando u tilizados de forma autônoma e
articulada com os agentes institucionais presentes.
Palavras-chave: Território. Cultura. Artesanato. Design.
Desenvolvimento local.
Abstract
This article deals with the formation of productive territories,
analyzing the development of the community of Morada Velha
(BA) in the period from 2000 to 2018. Despite the socioeconomic
data showing low rates of regional development, artisanal
production presents itself as the main productive activity and
source of income, which makes possible both an economic
evolution and an improvement in the quality of life of that
population, acting as an agent of regional integration through
the exchange of knowledge. With the questioning of the
democratic and productive mobilization of a territory through its
cultural assets being a way of social transformation, it was
observed that such assets tend to support local development
and to strengthen its territoriality, when used autonomously and
articulated with the institutional agents present.
Keywords: Territory. Culture. Crafts. Design. Local
development.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 46, n. 254, p. 627-645, set./dez. 2021.
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Inovação territorial em contextos produtivos do Semiárido baiano... | Mario Bestetti Costa e Laila Nazem Mourad
Introdução
A vestimenta branca com detalhes em azul-claro já nos indica que estamos entrando
em uma região onde a religiosidade predomina, já que se trata da vestimenta tradicional dos
romeiros, habitantes daquele local, e muito presente nas manifestações de expressã o
religiosa, conforme pesquisa r ealizada pela antropóloga Maria Isaura Pereira de Queiroz
(1998). A esta característica, de uma região a qual o historiador Nilton Freixinho (2003)
descreve como “sertão arcaico”, onde sua população ainda mantém modos de pensar e agir
não muito distantes da época dos colonizadores, e onde a necessidade por soluções aos
problemas naturais faz com que se busquem respostas na religiosidade (e em seus agentes)
e no misticismo religioso, soma-se o fato de estarmos à margem do Raso da Catarina, no
estado da Bahia, região esta marcada pela adversidade climática da seca e, sobretudo, pela
pobreza de suas populações com consequente pressão sobre a natureza.
Tal contexto nos apresenta uma diversidade de elementos que, soltos, já mostram a
riqueza identitária das manifestações populares brasileiras, pois ali temos representações de
matrizes sertanejas tradicionais, como a religiosidade, através das suas romarias e dos seus
“clérigos-místicos” (FREIXINHO, 2003), como também a produção artesanal tradicional, base
para a produção de itens de uso cotidiano como as vassouras e o característico chapéu de
palha. Necessário se torna perceber, então, que tal riqueza de diversidade e patrimônio, tanto
material como imaterial, encontra-se em uma região com índices sociais entre os mais baixos
do estado.
Da mesma forma que é possível perceber a presença da institucionalidade como
instrumento para redução da desigualdade social, é necessário compr eender como esses
agentes exógenos dialogam com aqueles sujeitos “assistidos”, como define Serge Paugam
(2003), ao distinguir os tipos de beneficiários da ação social, os quais o autor denomina de
“clientela institucional”.
Provocado pela busca de novas alternativas capazes de atender às demandas
socioeconômicas de populações situadas em regiões com características similares ao local
pesquisado, através de um processo de desenvolvimento local e endógeno que permita a
autonomia dos indivíduos que dele fazem parte, objetiva-se, neste artigo, em uma leitura
interdisciplinar, a descrição e análise crítica de um processo de inovação terr itorial em
contextos produtivos através do deslocamento do papel da cultura local: esta, de um agente

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