Interações coloniais no mediterrâneo global da idade do ferro

AutorTamar Hodosa
CargoUniversity of Bristol, School of Arts, Department of Anthropology and Archaeology, Bristol, United Kingdom
Páginas597-635
Esboços, Florianópolis, v. 26, n. 43, p. 597-635, set./dez. 2019.
ISSN 2175-7976 DOI https://doi.org/10.5007/2175-7976.2019.e67631
tradução
597/648
INTERAÇÕES COLONIAIS NO
MEDITERRÂNEO GLOBAL DA
IDADE DO FERRO
Colonial Engagements in the Global Mediterranean Iron Age
Tamar Hodosa
https://orcid.org/0000-0003-4640-6877
E-mail: t.hodos@bristol.ac.uk
a University of Bristol, School of Arts, Department of Anthropology and Archaeology,
Bristol, United Kingdom
histórias em contextos globais
Esboços, Florianópolis, v. 26, n. 43, p. 597-635, set./dez. 2019.
ISSN 2175-7976 DOI https://doi.org/10.5007/2175-7976.2019.e67631 598/648
RESUMO
A aplicação da teoria da globalização em contextos coloniais enfatizou, nos últimos anos, articulações
entre colonizados e colonizadores. Para o Mediterrâneo na Idade do Ferro, o foco tem sido as
expressões de identidades locais (colonizadas) e as variabilidades regionais de gregos e fenícios do
além-mar. Qualquer atenção às interações que gregos e fenícios tiveram entre si durante esse tempo
tem sido usada apenas para contrapor o enquadramento dos argumentos. O presente estudo examina
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globais em escala mediterrânica durante o período de suas fundações ultramarinas. Vistos de um
enquadramento global, os conjuntos de práticas em comum e de corpos de saberes compartilhados
revelam uma profunda complexidade de contato intercultural durante a Idade do Ferro, lembrando-nos
que as culturas nunca devem ser consideradas isoladamente.
PALAVRAS-CHAVE
Colonização grega. Colonização fenícia. Globalização mediterrânica.
ABSTRACT
The application of the globalization theory to colonial contexts in recent years has emphasized the
articulations between colonized and colonizers. For the Mediterranean Iron Age, the focus has been
upon the expressions of local (colonized) identities, and of regional variabilities of the overseas Greeks
and Phoenicians; any attention to the engagements that Greeks and Phoenicians had among them
during this time has been solely contrapositive in the framing of arguments. The present study analyzes
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cultures on a Mediterranean-wide scale during the period of their overseas foundations. Regarded
from the perspective of a globalization framework, the common sets of practices and shared bodies
of knowledge reveal a deep complexity of intercultural contact during the Iron Age, reminding us that
cultures should never be individually considered.
KEYWORDS
Greek colonization. Phoenician colonization. Mediterranean globalization.
Esboços, Florianópolis, v. 26, n. 43, p. 597-635, set./dez. 2019.
ISSN 2175-7976 DOI https://doi.org/10.5007/2175-7976.2019.e67631
Interações coloniais no Mediterrâneo global da Idade do Ferro
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Uma das mais recentes mudanças na pesquisa acadêmica tem sido a análise
da construção e do impacto da globalização em grupos socioculturais
que participam de sistemas mundiais (FEATHERSTONE, 1991; 1995;
HOLTON, 1998; HOOGVELT, 2001; ROBERTSON, 1992). Globalização, no contexto
contemporâneo, se refere ao atual sentimento de compressão global em que o mundo,
cada vez mais, é visto como um lugar coerentemente limitado. Da mesma forma, pode
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lugar único e nos tornarmos conscientes desse processo (FEATHERSTONE, 1995, p.
81; cf. também ROBERTSON, 1992).
Ao contrário de metanarrativas anteriores, entretanto, mais do que sugerir uma

de práticas ou corpos de saberes que transgridem limites nacionais ou culturais e
são compartilhados por aqueles que interagem no nível global. Ao mesmo tempo,
esses traços globais compartilhados também servem para ressaltar diferenças entre
aquelas culturas que se envolvem com eles, pois os pontos globais em comum
simultaneamente provocam a delineação mais nítida das fronteiras entre os grupos
envolvidos. O destaque e o reforço das heterogeneidades culturais é, de fato, um dos
paradoxos do processo de globalização (FEATHERSTONE, 1995, p. 114).
Entender o equilíbrio entre construtos localizados de uma cultura, por um lado,
e os traços compartilhados entre grupos que permitem sua interação, por outro, tem
fascinado estudiosos do passado, em particular aqueles que lidam com o impacto das
     
limitada e interação diária resultaram em desenvolvimentos culturais rápidos para
todas as comunidades envolvidas. O Mediterrâneo, sobretudo, é um local ideal
para escrutinar tais aspectos, pois, ao longo de sua história, populações migraram,
           
HORDEN; PURCELL, 2000).
A Idade do Ferro mediterrânica serve como um exemplo clássico. Nessa época,
dois grupos culturais, gregos e fenícios, construíram numerosos assentamentos ao
longo de outros litorais mediterrânicos consideravelmente distantes de suas terras
natais enquanto mantiveram ligações comerciais e culturais bastante próximas com
elas e uns com os outros. A despeito da evidência de contato íntimo e de práticas
compartilhadas que contribuíram para um pan-mediterranismo durante o período, os
movimentos de colonização de gregos e fenícios são normalmente articulados em
contraste um ao outro.
A inter-relação teórica entre diversidade e similaridade, em que assentamentos
podem ser vistos como comunidades individuais com práticas locais diversas e,
simultaneamente, como representantes culturais em interação um com o outro,
explica muito da tensão entre os estudos sobre os movimentos de colonização
fenícia e grega. A muito recente desconstrução pós-colonial de metanarrativas tem
destacado a variabilidade regional em cada uma dessas amplas culturas coloniais,
sobretudo em relação à localização particular, bem como o impacto sobre as
populações cujos territórios foram colonizados (para os gregos, p. ex. DOUGHERTY;
KURKE, 2003; LOMAS, 2004; TSETSKHLADZE, 1999; 2006a; para os fenícios,
AUBET, 2001; BIERLING, 2002).
Em estudos sobre tais contatos culturais, conceitos como hibridização e arenas
de interação neutra, como território intermediário (middle ground), estão na linha
de frente da interpretação (p. ex. ANTONACCIO, 2003; GOSDEN, 2004; HODOS,

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