INTERFACES ENTRE GÊNERO E SAÚDE MENTAL ABORDADAS POR ESTUDOS QUALITATIVOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS: FOCO NAS EXPERIÊNCIAS SUBJETIVAS

AutorTahiana Meneses Alves
Páginas155-177
GÊNERO|Niterói|v.18|n.2| 155|1. sem.2018
INTERFACES ENTRE GÊNERO E SAÚDE MENTAL
ABORDADAS POR ESTUDOS QUALITATIVOS DAS
CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS: FOCO NAS
EXPERIÊNCIAS SUBJETIVAS
Tahiana Meneses Alves1
Resumo: O presente trabalho consiste em uma revisão de literatura do tipo
narrativa que tem por objetivo destacar produções brasileiras de cunho empírico
que englobam o gênero enquanto categoria analítica no campo da saúde mental.
Possui como recorte estudos qualitativos que focalizam as experiências subjetivas
face a própria saúde mental. Os estudos foram identificados através de base de
dados como a Scielo e a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. A
revisão evidencia a necessidade de mais estudos que considerem as perspectivas
das pessoas face a própria saúde mental levando em conta uma abordagem
de gênero; constata a escassez de estudos sobre a saúde mental masculina;
demonstra que condições desiguais de gênero diferenciam as formas de adoecer
entre homens e mulheres, bem como produzem impactos distintos para eles
e elas em diversas esferas da vida. Aponta para a importância do registro e da
análise sobre como as pessoas elaboram diferentes sentidos em torno de suas
experiências de saúde mental para além de perspectivas biologicistas.
Palavras-chave: gênero; saúde mental; estudos qualitativos.
Abstract: This study realizes a literature review of the narrative type about
Brazilian empirical productions that encompass the gender as analytical category
in the field of mental health. It covers qualitative studies about subjective
experiences with psychic suering. The studies were identified through a database
as Scielo and Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. The review
evidences the need for more studies that consider the perspectives of people
towards their own mental health encompassing a gender approach. Even more,
research investigating the masculine condition. It shows that unequal gender
conditions dierentiate forms of illness between men and women and produce
1 Mestre em Sociologia pela Universidade do Minho. E-mail: menesesthaiana@gmail.com
p.155-177
GÊNERO|Niterói|v.18|n.2|156 |1. sem.2018
distinct impacts for them in various spheres of life. It points to the importance
of analyzing and recording how people construct dierent meanings around their
mental health experiences beyond biologicist perspectives.
Keywords: gender; mental health; qualitative studies.
Introdução
Desde a década de 1970, está em curso no Brasil a chamada Reforma
Psiquiátrica, processo que visa a construção de um novo estatuto social para as
pessoas com transtornos mentais. Junto ao movimento da Luta Antimanicomial,
a Reforma vem produzindo mudanças em diversas esferas (aparatos jurídico-
politicos, qualidade dos serviços prestados, transformações socioculturais) e
promovendo a chamada desinstitucionalização.
No interior desse contexto, a Política Nacional de Saúde Mental brasileira
(materializada especialmente pela lei 10.216/2001) objetiva humanizar os
serviços de saúde mental no Brasil e tem como proposta geral promover uma
mudança sociocultural no relacionamento entre sociedade e loucura. Tudo isso
pode causar alterações nas vidas das pessoas que dela usufruem. Mas, como
atentam Andrade e Maluf (2016), as experiências dos sujeitos nestes serviços
estão impregnadas dos lugares relacionais e hierárquicos e também por processos
de (des)subjetivação nos quais se geram estratégias micropolíticas de sujeição e
resistência. Entre os fatores que rondam estas experiências está o gênero. Este
conceito, que passou a ser utilizado entre as décadas de 1970 e 80, diz respeito
à construção social entre os sexos, dá significado a relações de poder (SCOTT,
1990) e se articula a outros sistemas de classificação social e produtores de
desigualdade como a raça/etnia, classe social etc.
Como sustenta Maluf (2010), as transformações decorrentes da Reforma
são altamente marcadas por questões de gênero, seja nas políticas públicas, nas
práticas assistenciais e até mesmo no ativismo político. Também atenta Andrade
(2014) que a intersecção do gênero com outras categorias como raça/etnia
e classe acaba marcando relações de poder que se reproduzem nos serviços
substitutivos como os CAPS tal e qual nos hospitais psiquiátricos que ainda
existem. Acontece que nem sempre estes aspectos são observados.
p.155-177

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT