Internal and external determinants of innovation capability in Portuguese services firms: a logit approach/Determinantes internos e externos da capacidade inovadora das empresas de servicos Portuguesas: modelo logit/Determinantes internos y externos de la capacidad de innovar de las empresas de servicios Portuguesas: modelo logit.

AutorSilva, Maria Jose
CargoArtigo--Administracao Geral
  1. INTRODUCAO

    A crescente tendencia de globalizacao e interdependencia das economias traduz-se para as empresas num contexto altamente turbulento e competitivo. Nesse sentido, assume a maior relevancia a analise dos factores determinantes da capacidade de inovacao das empresas na generalidade e das empresas de servicos em particular, pela importancia crescente que essas empresas apresentam na economia dos paises. De facto, nas ultimas decadas tem-se registrado uma evolucao do papel do sector dos servicos na economia, pela relevancia que o sector assume nao so na inovacao, mas tambem na competitividade, no emprego e no crescimento economico (HAUKNES, 1998; DE JONG et al., 2003; HOWELLS; TETHER, 2004; TETHER, 2005). Um estudo efectuado na Uniao Europeia, em 25 paises, vem corroborar esses factos, dado que, em 2004, as empresas do sector dos servicos contribuiram, em media, para 39,9% do emprego total e para 46,2% do valor acrescentado (ARUNDEL et al., 2007).

    O presente trabalho tem como objectivo analisar o grau de importancia dos factores internos e externos determinantes da capacidade inovadora das empresas de servicos. Esses factores, ja analisados em outros estudos (SILVA, 2003; SILVA; LEITAO, 2009), apresentam um impacto significativo na capacidade de inovacao do sector das empresas industriais; no entanto, no sector dos servicos identifica-se a necessidade de verificar e analisar quais factores estimulam e quais restringem a capacidade inovadora empresarial.

    Este trabalho toma como referencia as abordagens da inovacao nos servicos e as abordagens de referencia sobre a tematica da inovacao, em que se destacam a abordagem sistemica da inovacao e a abordagem das redes e relacoes interorganizacionais. Tendo em conta esse quadro conceptual, formulou-se um conjunto de hipoteses com o objectivo de testar e analisar os factores que condicionam a actividade e o desempenho inovador das empresas de servicos portuguesas.

    Para testar empiricamente as hipoteses formuladas, utilizam-se dados secundarios facultados pelo Observatorio da Ciencia e do Ensino Superior (OCES), pertencentes ao 4 Inquerito Comunitario a Inovacao--Community Innovation Survey (CIS 4). Este questionario foi implementado sob a supervisao do EUROSTAT. Aos dados obtidos aplica-se o modelo de regressao linear generalizado, designadamente o modelo de regressao logistica.

    O trabalho estrutura-se da seguinte forma: no ponto dois, tendo por base a literatura relevante sobre a tematica da inovacao nos servicos, propoe-se um modelo conceptual e formulam-se as hipoteses que se pretende testar empiricamente no modelo estatistico. No ponto tres define-se a amostra, descrevem-se e caracterizam-se as variaveis utilizadas no estudo empirico e apresenta-se o modelo de regressao logistica. No ponto quatro discutem-se os resultados obtidos a luz da literatura considerada relevante. No ponto cinco apresentam-se as consideracoes finais e sugerem-se futuras investigacoes sobre esta tematica.

  2. INOVACAO NOS SERVICOS

    Segundo Miles (2001), a literatura sobre servicos tem registado uma intensa evolucao desde os anos 60. Em especial, assiste-se a um crescente interesse pelo estudo da inovacao nos servicos. Isso se deve ao facto de o sector de servicos apresentar crescimentos acima da media (SEGAL-HORN, 2006; SUNDBO, 2009), quer nas empresas criadas, quer na geracao de emprego e, ainda, no nivel da contribuicao dessas empresas para a geracao de riqueza das regioes e dos paises. O sector dos servicos abrange uma vasta gama de actividades com caracteristicas muito diferenciadas (HAUKNES, 1998; DREJER, 2004; HIPP; GRUPP, 2005; MILES, 2005; VRIES, 2006). Sectores como tecnologia da informacao, financas, transportes e comunicacoes tem registrado uma importancia acrescida no produto interno das nacoes, tanto em paises desenvolvidos quanto em paises em desenvolvimento (CAMACHO; RODRIGUEZ, 2005).

    Segundo o Manual de Oslo (OCDE, 2005), a inovacao nos servicos e organizada de forma menos formal, e menos tecnologica e possui natureza mais incremental. Sundbo e Gallouj (1998, 2000) dividiram as inovacoes nos servicos em cinco categorias: inovacao de produto (um novo servico ou um novo produto cuja venda implica a prestacao de servicos); inovacao de processo (mudanca em um ou mais procedimentos para produzir ou prestar um servico); inovacao organizacional (nova forma de gestao e organizacao); inovacao de mercado (alteracoes no mercado, como a descoberta de um segmento antes inexistente); inovacao ad hoc (procura de uma solucao para um determinado problema apresentado por um cliente).

    Gallouj e Weinstein (1997) observaram que analisar a inovacao no sector de servicos e dificil por dois motivos: por um lado, as teorias de inovacao desenvolveram-se sob o estudo de inovacoes tecnologicas em actividades industriais; por outro lado, nao e facil medir e detectar mudancas nos servicos em razao das caracteristicas especificas de suas actividades.

    A revisao da literatura no ambito da inovacao nos servicos abarca tres abordagens: assimilacao, demarcacao e, posteriormente, a abordagem de sintese (HAUKENS, 1998; GALLOUJ, 1998; SUNDBO; GALLOUJ, 1998; FREEMAN; LOUCA, 2001; COOMBS; MILES, 2000; HOWELLS, 2000, 2001; GALLOUJ, 2002; HOWELLS, 2003; HOWELLS; TETHER, 2004; DREJER, 2004; MILES, 2005; VRIES, 2006). Essas abordagens revelam que a inovacao nos servicos difere da inovacao nos produtos. De acordo com Sundbo (1997) e Tether e Hipp (2002), as caracteristicas proprias dos servicos (intangibilidade, heterogeneidade, perecibilidade e simultaneidade da producao e consumo), que os distinguem dos produtos fisicos, trazem dificuldades e restricoes a importacao dos programas e modelos de gestao voltados para a inovacao no sector da industria. Os servicos possuem particularidades tais que exigem modelos de inovacao especificos para o sector, algo ainda escasso na literatura (BARRAS, 1986, 1990; EDGETT, 1993; GALLOUJ, 1998, 2002; PIRES; SARKAR; CARVALHO, 2008).

    Apesar dessa falta sentida pelos investigadores, durante os ultimos anos alguns estudos tem revelado que as inovacoes nos servicos conduzem a um maior nivel de crescimento e dinamismo da actividade economica (SUNDBO, 1997; De BRENTANI, 2001). Isso se deve a barreiras de entrada relativamente baixas, a maior possibilidade de imitabilidade e a dificuldade de se alcancarem vantagens competitivas sustentaveis, como acontece com os bens fisicos (DE JONG; VERMEULEN, 2003; OKE, 2007; TOIONEN; TUOMINEN, 2009).

    Durante as duas ultimas decadas, a desregulamentacao e a globalizacao dos mercados, assim como a internacionalizacao das empresas de servicos, fizeram com que a competicao entre estas empresas se tornasse extremamente severa (ELCHE; GONZALEZ, 2008). Essas tendencias colocam a inovacao nos servicos no coracao da competitividade da empresa, como meio de adaptacao constante a um ambiente turbulento, que requer um fluxo continuo de novas ofertas ao mercado (STEVENS; DIMITRIADIS, 2005; DJELLAL; GALLOUJ, 2007).

    A competencia em inovar, neste caso nos servicos, denomina-se capacidade inovadora empresarial. Assim, adoptou-se nesta investigacao o termo "capacidade inovadora empresarial" para integrar as diversas componentes resultantes do processo de inovacao de uma empresa de servicos, designadamente inovacao no servico, inovacao no processo, inovacao organizacional e inovacao de marketing (OCDE, 2005). Neste trabalho, restringe-se o estudo da capacidade inovadora empresarial ao nivel do servico. Desse modo, considera-se que a empresa e inovadora se durante o periodo de 2002-2004 "introduziu algum servico novo ou tecnologicamente melhorado" (CIS 4, 2005:3).

    E importante realcar que a capacidade inovadora varia de empresa para empresa e e determinada por um vasto e complexo numero de factores, tanto impulsionadores como limitadores do processo de inovacao empresarial. Os factores explicativos da inovacao nao se esgotam nos factores aqui referidos. Contudo, pretendendo-se analisar o processo de inovacao no nivel empresarial e considerando-se a revisao da literatura efectuada, neste trabalho analisam-se os seguintes factores: investimentos em inovacao, dimensao empresarial, sector de actividade, abrangencia de actuacao no mercado, fontes externas de informacao para as actividades de inovacao, apoio financeiro as actividades de inovacao e os relacionamentos com os parceiros externos no ambito da inovacao empresarial. Relativamente a esses factores, seguidamente discute-se a formulacao de hipoteses de investigacao.

    A importancia dos "investimentos em inovacao" na empresa, como edificios e equipamentos, softwares e conhecimentos externos, e demonstrada nos trabalhos de Mansfield (1988), Shields e Young (1994), Archibugi, Evangelista e Simonetti (1995), Weiss (2003), Camacho e Rodriguez (2005), Canepa e Stoneman (2008) e Elche e Gonzalez (2008). Segundo esses autores, as empresas que mais investem em investigacao, desenvolvimento e em melhoria das estruturas e competencias dos colaboradores adquirem maior capacidade tecnologica; consequentemente, tem a capacidade de produzir mais inovacoes. Esses autores defendem que as empresas que investem em melhores estruturas, tecnologias e pessoal qualificado evidenciam maior capacidade inovadora. Assim, estabelece-se a seguinte relacao entre investimentos em inovacao e capacidade inovadora empresarial:

    Hipotese1: A realizacao de investimentos em inovacao esta positivamente relacionada com a propensao da empresa de servicos para inovar nos servicos.

    Os resultados obtidos da relacao existente entre o factor "dimensao empresarial" e a capacidade inovadora empresarial sao muito contraditorios, pelo que e necessario clarificar essa relacao. Por um lado, ja Schumpeter (1942) e as abordagens da inovacao technology-push e market-pull que se seguiram relacionam positivamente a dimensao da empresa e a capacidade inovadora empresarial. Por outro lado, estudos realizados por Sengenberger e Pyke (1992), Rothwell e Dodgson...

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