Os Intolerantes Do Senhor

AutorAlexandre Vitorino Silva
CargoAdvogado em Brasília, graduado pela UnB.

Uma espécie de moda arrogante tem crescido ultimamente na sociedade brasiliense. Cuida-se da inserção nos vidros de veículos de frases do tipo "Sou católico, graças a Deus" ou "Sou evangélico, graças a Deus".

De fato, muito antes de encerrarem uma simples manifestação de orgulho de um determinado grupo religioso, esses adesivos contêm, em verdade, uma proposta de visão excludente e discriminatória, devido à ambigüidade propositada do enunciado que propagam.

Não se trata, ao que tudo indica, de exaltar a liberdade de culto, que é garantida constitucionalmente, mas de tentar demonstrar, infrutiferamente, uma certa posição de superioridade, ou pretensão de hegemonia.

Na realidade, parece haver faltado coragem ao interlocutor para articular o restante da frase: "Sou católico (ou evangélico), graças a Deus, e pouco me importa a sua crença, que não tem valor algum". Ou então, para vociferar o seu verdadeiro desprezo pela divergência, ou pela pluralidade: "Não professo a sua religião, graças a Deus", ou "Não sou ateu, Graças a Deus".

O mais interessante, no entanto, é que essas afirmações parecem ter-se convertido em uma espécie de febre, como se os fiéis de determinada religião passassem a trocar alfinetadas fundamentalistas, sem precisarem explicar exatamente o que querem dizer. Só pode ser esse o significado simbólico da proliferação, pois não se compreende por que, se estavam tão satisfeitos com o credo que professam, só recentemente tenham se dado conta dessa alegria inebriante que deve ser compartilhada com terceiros ostensivamente.

Eis, assim, o verdadeiro embate dos intolerantes do Senhor. Alheios não só aos valores democráticos, como também aos próprios valores cristãos...

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