Introdução

AutorVera Lucia de Campos Corrêa Shebalj
Páginas29-42

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1.1. Cenário

A poluição sonora é o mal que causa a deterioração da qualidade de vida, principalmente quando está acima dos limites suportáveis pelo ouvido humano ou quando prejudica o repouso noturno (MACHADO, 2004).

Consta que, na Roma antiga, em 44 a.C., Júlio César proibiu a circulação de carruagens durante à noite devido ao ruído emitido pelas rodas de ferro que batiam nas pedras do pavimento das ruas, inter-rompendo o sono dos romanos. Na Europa Medieval, o transporte a cavalo, com e sem carruagem, não era permitido durante a noite em certas cidades, para assegurar o sono tranquilo dos seus habitantes (BERGLUND, LINDVALL e SCHWELLA, 1999).

Essa moléstia atinge toda a população, principalmente nos grandes centros urbanos. O ruído já foi reconhecido pela Organização Mun-dial da Saúde (OMS) como um dos maiores problemas ambientais em toda a União Europeia, e o segundo, em termos de impactos na saúde, só suplantado pela poluição atmosférica.

Na Norma de acústica (ABNT-NBR 10151:2000) aplicam-se as seguintes definições:

- Nível de pressão sonora equivalente: nível obtido a partir do valor médio quadrático da pressão sonora.

- Ruído de caráter impulsivo: ruído que contém impulsos, que são picos de energia acústica com duração menor do que 1 segundo e que se repetem em intervalos maiores do que 1 segun-§do. Exemplo: bate-estacas, tiros.

- Ruído com componentes tonais: ruído que contém tons puros como o som de apitos ou zumbidos.

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- Nível de ruído ambiente: nível de pressão sonora equivalente, na ausência do ruído gerado pela fonte sonora em questão.

O som é uma onda longitudinal, que só se propaga em meios materiais sólidos, líquidos ou gasosos. A física explica que é como a sensação que se produz em nosso ouvido, logo após a chegada das ondas sonoras, ao passo que do latim,
rug?tus

, o ruído é um som inarticulado que é desagradável ou que causa a perturbação (PRADO, 1971). O ruído pode ser definido também como um som sem harmonia (BISTAFA, 2011).

Segundo Zajarkiewicch (2010), o ruído é capaz de produzir incômodo ao bem-estar, independentemente de haver uma particularidade quanto ao sentir de um indivíduo para o outro, porque o agente perturbador de desconforto acústico envolve fatores psicológicos de tolerância de cada pessoa.

Uma perturbação sonora atrapalha o sono, que faz parte da vida do ser humano. A falta de sono propicia um envelhecimento precoce e transforma o sistema imunológico, o que permite uma vulnerabilidade maior a doenças, alterações no humor, no equilíbrio corporal e stress

(HALPERN, 2012).

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, tem como atos a execução de resoluções, quando se tratar de deliberação vinculada a diretrizes e normas técnicas, critérios e padrões relativos à proteção ambiental e ao uso sustentável dos recursos ambientais; entre estes estabelece regras que remetem a tranquilidade, a segurança, ao sossego e a saúde.

O que se coloca é que a poluição sonora não é um problema de saúde pública e sim um dano para a saúde.

Qualquer som que altere a condição normal de audição provoca efeitos negativos para o sistema auditivo, e em casos extremos pode chegar a lesões corporais e até a homicídios. É evidente que esta nocividade está relacionada à repetição do ruído, a sua duração e à sua intensidade, medida em decibel (dB). O nível de intensidade sonora “sound pressure level”
– SPL, em decibéis, é medido com referência à

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pressão de 0,00002 microbars, que é a pressão sonora no “limiar da audição”1, que se define através da intensidade mínima do som para ser ouvido, apresentado na Figura 1. O valor é médio, pois esse limite varia de indivíduo para indivíduo2.

FIGURA 1 – Curvas de Weber-Fechner

As curvas de Weber-Fechner relacionam o nível sonoro à faixa de audibilidade. Observa-se na Figura 1 que essa percepção humana, ou sensação auditiva, depende da intensidade e frequência do som, que na faixa audível está entre 20Hz e 15kHz, aproximadamente. Embora o

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limite da dor seja observado em elevadas intensidades, os níveis acima de 90 dB são extremamente perigosos no caso de exposição constante, que são definidos em tabelas do Ministério do Trabalho através das Normas Regulamentadoras, entretanto o dano à saúde pode ocorrer com intensidades bem menores3.

Na tabela 1 são apresentados alguns exemplos aproximados de níveis de intensidade sonora, com destaque para a intensidade do tráfego nas cidades, que é o principal responsável pelo ruído urbano.

TABELA 1 – Níveis sonoros do cotidiano4

O grau de afetação resultante do ruído depende das características da própria fonte, frequência e de sua intensidade, além da sensibilidade do indivíduo e da duração da exposição. Porém, alguns problemas podem ocorrer em curto prazo, outros levam anos para serem notados, como a perda auditiva5.

Segundo a OMS, o nível máximo que o ouvido humano pode suportar o ruído sem que haja maiores prejuízos é de 65 dB. A partir daí, a perda da capacidade auditiva relacionado à intensidade sonora é irreversível. Na Tabela 2 está exemplificado o impacto de ruídos na saúde humana.

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TABELA 2 – Impacto de ruídos na saúde Fonte: Adaptado de ACITAL6

Os sons indesejáveis são perturbações muitas vezes provenientes do meio externo e conhecer os ruídos externos a um empreendimento habitacional é uma das medidas cabíveis para a execução de um bom projeto acústico de uma edificação. Além disto, é fundamental compreender a interferência sonora interna das construções e as vibrações sonoras transmitidas pelas estruturas (MAIA, 2001).

O ruído do tráfego urbano é um dos tipos de ruídos externos mais comuns. A crescente frota urbana de veículos só tem agravado o problema, com o passar dos anos. Existem pesquisas, principalmente na Europa, com o objetivo de reduzir o ruído urbano que vão desde a implantação de frotas de carros elétricos ou até mesmo estudos para a implantação de um tipo de asfalto mais poroso que permita a dis-

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sipação do ruído com baixa intensidade (LÁO, 2014). Apesar desses esforços, os trabalhos de aprimoramento do desempenho acústico de sistemas habitacionais ainda parece ser a melhor alternativa para se garantir ambientes saudáveis.

No entanto, os fornecedores ainda não estão preparados para abastecer o mercado com informações de desempenho acústico de seus produtos. As janelas e mesmo...

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