Análise da relação entre investimentos socioambientais e a inclusão de empresas no Índice de Sustentabilidade Empresarial - (ISE) da BM&FBovespa

AutorMárcio André Veras Machado, Marcelo Álvaro da Silva Macedo - Márcia Reis Machado - José Ricardo Maia de Siqueira
CargoProfessor do Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal da Paraíba - João Pessoa ? PB, Brasil - Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis, Universidade Federal do Rio de Janeiro ?Rio de Janeiro ? RJ, Brasil - Professora do Programa Multiinstitucional e Inter-regional de Pós-Graduação em Ciências ...
Páginas141-156
Artigo recebido em: 20/09/2010.
Aceito em: 22/11/2011.
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
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ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE INVESTIMENTOS SOCIOAMBIENTAIS
E A INCLUSÃO DE EMPRESAS NO ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE
EMPRESARIAL (ISE) DA BM&FBOVESPA
Analysis of the Relationship between Social and Environmental
Investment and Inclusion of Companies in Corporate
Sustainability Index of BM&FBOVESPA
Márcio André Veras Machado
Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal da Paraíba - João Pessoa – PB, Brasil. E-mail:
mavmachado@hotmail.com.
Marcelo Álvaro da Silva Macedo
Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis, Universidade Federal do Rio de Janeiro –Rio de Janeiro – RJ,
Brasil. E-mail: malvaro.facc.ufrj@gmail.com.
Márcia Reis Machado
Professora do Programa Multiinstitucional e Inter-regional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis, Universidade Federal da Paraíba
- João Pessoa – PB, Brasil. E-mail: marciareism@hotmail.com.
José Ricardo Maia de Siqueira
Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis, Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – RJ,
Brasil. E-mail: jrms@facc.ufrj.br.
FQK
Resumo
Este artigo objetiva verificar a relação entre
investimentos socioambientais e a inclusão das
empresas no Índice de Sustentabilidade Empresarial
(ISE) da BM&FBOVESPA, por meio da aplicação
de regressão logística. Para tanto, foram analisadas
informações relativas aos investimentos ambientais
e sociais internos e externos, retirados dos balanços
sociais das empresas sob análise. A amostra foi
formada por empresas elegíveis para compor a carteira
ISE, no período de dezembro de 2009 a dezembro de
2010. De acordo com os resultados obtidos, pode-se
concluir que existe relação entre os investimentos
socioambientais e o ingresso das empresas na
carteira ISE da BM&FBOVESPA. Isso demonstrou
que os investimentos das empresas realizados e
evidenciados em questões socioambientais são
entendidos como indício de comprometimento real
com a responsabilidade social e sustentabilidade
Abstract
This paper aims to investigate the relationship
between social and environmental investments
and the inclusion of companies in the Corporate
Sustainability Index of BM&FBOVESPA, by
applying logistic regression. For this, we analyzed
information relating to internal and external social
and environmental investments, from the social
balance of companies.The sample consisted of
companies eligible for inclusion in the portfolio
ISE in the period of December 2009 to December
2010. According to the results, we can conclude
that there is a relationship between environmental
investments and entry of firms in the portfolio
ISE of BM&FBOVESPA, showing that investment
made and evidenced in social and environmental
issues is a sign of real commitment to social
responsibility and sustainability and not simply a
form of accountability of the funds invested. As
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Oƒtekq"Cpftf‌i"Xgtcu"Ocejcfq"̋"Octegnq"énxctq"fc"Uknxc"Ocegfq"̋"Oƒtekc"Tgku"Ocejcfq"̋"Lquf‌i"Tkectfq"Ockc"fg"Ukswgktc
e não simplesmente uma forma de prestação de
contas dos recursos aplicados. Quanto às variáveis
utilizadas, investimentos sociais internos (II), externos
(IE) e ambientais (IA), observou-se que IE é a melhor
proxy para explicar essa relação, ou seja, os resultados
sugerem que empresas que investem recursos em prol
da comunidade, seja voluntariamente ou por meio
dos tributos, o que é ou pelo menos deveria ser um
recurso aplicado na sociedade, tem mais chances de
entrar na composição da carteira ISE.
Palavras-chave: Investimentos Socioambientais.
Índice de Sustentabilidade Empresarial. Regressão
Logística.
1 INTRODUÇÃO
O cenário de negócios está mudando radicalmen-
te. Com a consolidação do processo de globalização da
economia, a informação trafega com uma grande ve-
locidade em diversas mídias. Assim, as externalidades
das empresas, sejam positivas ou negativas, tornam-se
disponíveis a todos.
Em épocas passadas, ressaltam Macedo et al.
(2007), um acidente que causasse danos ao ambiente
poderia passar despercebido. O trabalho infantil ou
demissões em massa ocupavam pouco espaço na mídia
ou no ideário popular. Porém, hoje, a sociedade civil
organizada cobra sistematicamente uma postura ética
e coerente por parte das empresas e de seus gestores.
Cobradas pela sociedade, as organizações hoje estão
diante de um dilema: maximizar lucros a quaisquer
esforços vale a pena?
Isso tudo vem se revelando num maior questio-
namento por parte da sociedade. Em outras palavras,
os lucros cada vez mais altos aferidos pelas empresas
geram um comportamento de atenção, fiscalização e,
em alguns casos, de contestação por parte da sociedade
organizada.
Para Dias e Siqueira (2006), durante muitos anos,
diversas organizações apenas se preocupavam com
a obtenção de lucros cada vez maiores, sugando da
sociedade na qual estavam inseridas tudo o que fosse
necessário para o alcance desse objetivo, deixando,
frequentemente, nada ou quase nada em troca.
Com o passar do tempo, foi possível perceber o
surgimento e o incremento dos movimentos sociais
no seio da população, cobrando melhores condições
de trabalho, respeito ao meio ambiente, redução das
desigualdades sociais e raciais, dentre outras mudan-
ças. Isso fez com que as organizações passassem a dar
maior importância para esses fatores que, até pouco
tempo, eram menosprezados. (DIAS; SIQUEIRA, 2006)
De uma maneira geral, percebe-se que a socie-
dade não espera apenas lucros das empresas, mas que
invistam em preservação e reparo dos danos causados
ao meio ambiente, assegurem saúde e segurança aos
empregados, consumidores e a comunidade local.
(DEEGAN; RANKIN, 1997).
Especificamente com relação ao meio ambien-
te, nota-se que a sociedade parece demandar maior
accountability por parte das empresas. De acordo
com Labatt e White (2002), a atenção acerca da
gestão ambiental tem crescido vertiginosamente em
todos os segmentos do mercado. Nesse sentido, as
empresas são cada vez mais exigidas a contribuir para
o desenvolvimento econômico sustentável. (PINTO;
RIBEIRO, 2004)
Inúmeros são os motivos que levam as empresas
a aderir ao movimento pelo social, razões essas que
nem sempre são assumidas publicamente. Diante dessa
preocupação com a responsabilidade social e a susten-
tabilidade empresarial, medidas foram desenvolvidas
para avaliar a valorização das ações de empresas que
investem em responsabilidade social e ambiental, pois
os investidores consideram que essas empresas gerem
valor para os acionistas no longo prazo, tendo em
vista que estão mais preparadas para enfrentar riscos
econômicos, sociais e ambientais.
Em 1999, foi criado nos EUA o Dow Jones Sustai-
nability (DSJI) – Índice de Sustentabilidade Dow Jones
the variables used, internal social investment (II),
External (IE) and environmental (IA), we found
that IE is the best proxy to explain this relationship.
In other words, the results suggest that companies
that invest resources in favor of community, either
voluntarily or through taxes, which is or should be
a resource applied in society, has more chances of
entering the ISE portfolio composition.
Key words: Environmental Investments. Corporate
Sustainability Index. Logistic Regression.
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Cpƒnkug"fc"Tgnc›«q"gpvtg"Kpxguvkogpvqu"Uqekqcodkgpvcku"g"c"Kpenwu«q"fg"Gortgucu"pq"ìpfkeg"fg"Uwuvgpvcdknkfcfg"Gortguctkcn"*KUG+"fc"DO(HDQXGURC
– primeiro índice a avaliar o desempenho financeiro
das empresas líderes em sustentabilidade.
No Brasil, o primeiro fundo de investimento com-
posto por empresas reconhecidas por desenvolverem
boas práticas de responsabilidade social, ambiental e
corporativa foi o Fundo Ethical, criado em 2001 pelo
Banco ABN AMRO. Em 2005, a BOVESPA, hoje
BM&FBOVESPA, lançou o Índice de Sustentabilida-
de Empresarial (ISE), indicador composto de ações
emitidas por empresas rentáveis que apresentam alto
grau de comprometimento com sustentabilidade e
responsabilidade social.
Com base no exposto, questiona-se: qual arelação
entre investimentos socioambientais e o ingresso das
empresas no Índice de Sustentabilidade Empresarial
(ISE) da BM&FBOVESPA?
Sendo assim, o objetivo deste estudo é verificar
seexiste relação entre os investimentos socioambientais
e a inclusão das empresas no Índice de Sustentabilida-
de Empresarial (ISE) da Bovespa, por meio da aplica-
ção de regressão logística às informações de empresas
elegíveis para compor a carteira ISE, no período de
dezembro de 2009 a dezembro de 2010.
Este artigo está estruturado em cinco partes, in-
cluindo a introdução. A seguir, apresenta-se a revisão
da literatura, a qual contempla o processo de cons-
trução da carteira teórica do ISE e os investimentos
socioambientais. Na terceira parte, define-se o proce-
der metodológico. Na quarta parte, apresentam-se os
resultados da pesquisa. Na quinta parte, a conclusão.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Teorias com a dos stakeholders, da legitimidade
e institucional têm sido utilizadas para fundamentar
estudos que buscam averiguar as práticas de disclosure
social e ambiental (AZIZUL; DEEGAN, 2008). Embo-
ra o presente artigo trate dos investimentos sociais e
ambientais, tais teorias não podem ser consideradas
para a fundamentação teórica do estudo, pois essas
teorias não explicam e não dizem respeito à inclusão
de empresas na carteira ISE. Por tanto, este estudo está
alicerçado no objetivo da carteira ISE, que consiste em
refletir uma carteira composta de ações de empresas
com reconhecido comprometimento com a respon-
sabilidade social e a sustentabilidade, e a suposição
que os investimentos sociais e ambientais refletem o
comprometimento da empresa com a responsabilidade
social e a sustentabilidade.
Assim, a revisão da literatura é dividida em duas
seções. A primeira trata da Responsabilidade Sociam-
biental, como ponto de partida para as discussões deste
trabalho. A segunda apresenta o índice de Sustentabi-
lidade Empresarial (ISE).
2.1 Responsabilidade Socioambiental
A partir dos anos de 1950, observou-se uma
mudança significativa na forma como as pessoas enxer-
gavam a relação entre negócios e sociedade (LANTOS,
2001). Diversos fatores, como por exemplo, os desas-
tres ambientais, as guerras e as mudanças ocorridas
na sociedade, afetaram o ambiente de negócios e tor-
naram os problemas socioambientais mais aparentes.
Conforme descrito por Monzoni, Biderman e Bri-
to (2006), a preocupação com a ética e a transparência
não é nova. Nos anos de 1960, conceitos como res-
ponsabilidade socioambiental corporativa e prestação
de contas nasceram embaladas nas discussões sobre
a Guerra do Vietnã, o Apartheid, a luta pelos direitos
civis nos Estados Unidos, dentre outros. Nos anos de
1980 e de 1990, multiplicaram-se essas iniciativas com
discussões na temática ambiental, fomentadas pelo
crescimento do movimento ambientalista.
Ainda segundo os autores, no século XXI, surge
a agenda da sustentabilidade, reconhecendo os vários
problemas sociais e ambientais não tratados pelos
sistemas econômicos, com o incremento das pressões
da sociedade, exigindo mais responsabilidades das
empresas em lidar com os problemas mundiais, muitos
deles causados pelas externalidades dessas.
Segundo Oliveira (2008), não existe uma defi-
nição consensual sobre o que seja responsabilidade
socioambiental. Não obstante, Daft (1997) apresenta
um bom conceito, no qual essa responsabilidade é
entendida como a obrigação da gerência organizacio-
nal de decidir e empreender ações que melhorem o
bem-estar social e vão ao encontro dos interesses da
sociedade e da organização.
Para autores como Melo Neto e Froes (1999), Te-
nório (2004), Ashley (2002), Parente e Gelman (2006)
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Oƒtekq"Cpftf‌i"Xgtcu"Ocejcfq"̋"Octegnq"énxctq"fc"Uknxc"Ocegfq"̋"Oƒtekc"Tgku"Ocejcfq"̋"Lquf‌i"Tkectfq"Ockc"fg"Ukswgktc
e Oliveira (2005), além do Instituto Ethos (2006), a
responsabilidade social pode ser conceituada como
um compromisso da empresa em relação à sociedade,
cuja participação das empresas não se limita somente
a gerar lucros, empregos e ao pagamento de impostos.
Essa é uma forma de gestão definida pela relação ética
e transparente que a empresa tem com todos os públi-
cos com os quais ela se relaciona, sendo vista, portanto,
como uma forma de accountability do desempenho
empresarial, no que tange a sua maneira de agir, de
impactar e de se relacionar com seus stakeholders. Em
outras palavras, a responsabilidade social tem como
principal característica a coerência ética nas práticas e
relações com seus diversos públicos.
Há grande controvérsia sobre o desenvolvimen-
to de ações de responsabilidade socioambiental por
parte das organizações e sua aceitação pelos gesto-
res. O conflito existente encontra-se nas teorias dos
stockholders e dos stakeholders, em que cada grupo
possui uma lógica negando e incentivando as práticas
de responsabilidade socioambiental.
Segundo Friedman (1970), na teoria dos sto-
ckholders (ou shareholders), a única responsabilidade
socioambiental de uma organização é a geração de
lucros e a riqueza para seus acionistas, sendo sua
responsabilidade máxima, portanto, o aumento do de-
sempenho econômico. Quaisquer ações diferentes des-
sa podem colocar em risco a sobrevivência da empresa,
além de dar origem a um problema de agência entre
os acionistas e os gestores. Nesse sentido, ressaltam
Brealey e Myers (2000), o administrador deve nortear
suas ações no sentido de agir segundo os interesses
dos proprietários – os acionistas.
Nessa linha, essa teoria mostra uma relação
negativa entre responsabilidade socioambiental e
performance financeira, em que as responsabilidades
adicionais que não sejam relacionadas ao incremento
dos resultados financeiros colocam as empresas em
desvantagem em relação a organizações que possuam
menores, ou mesmo inexistentes, ações e práticas de
responsabilidade socioambiental.
Já na teoria dos stakeholders, Freeman (1994)
afirma que a gestão com base nesse público envolve
a alocação de recursos organizacionais e considera os
impactos dessa alocação em vários grupos de interesse
dentro e fora da organização. Essa teoria pode ser vista,
segundo Lea (1999), como uma resposta à visão da
maximização única da riqueza dos acionistas (teoria
dos stockholders), pois sugere que haja atenção por
parte da empresa a uma multiplicidade de grupos
relacionados com ela.
Esse ideário relaciona o desempenho financeiro
com os stakeholders, afirmando que nesse cenário há
uma relação positiva, não existindo qualquer desvio
na função da empresa. Assim sendo, mesmo que seja
difícil agregar o econômico e o social, de forma a medir
os efeitos para stakeholders e stockholders de forma
integrada, o resultado final da atividade empresarial
precisa levar em consideração retornos que agradem
não somente aos acionistas, mas também às demais
partes interessadas.
Contudo, Jensen (2001) contesta esse pensamen-
to afirmando que as organizações que adotam a teoria
dos stakeholders acabarão passando por problemas
de ordem gerencial, conflitos internos, ineficiência e,
possivelmente, acabarão fracassando. Algumas em-
presas, segundo Rezende e Santos (2006), entretanto,
perceberam que suas atuações não se restringem me-
ramente ao campo econômico. Segundo os autores,
isso acontece porque essas atuações se relacionam e
interagem com vários segmentos que podem interferir
na condução de seus negócios.
Portanto, a visualização do ambiente em que a
empresa opera, no tocante aos agentes que a influen-
cia e que são influenciados por suas ações (tendo
tais influências uma relação custo-benefício), faz com
que ela atue com parâmetros relacionados aos vários
stakeholders. Para isso, é importante definir, medir e
monitorar os interesses deles, além de associá-los aos
indicadores de desempenho da empresa.
A teoria dos stakeholders pode ser vista como
aquela que preconiza a congruência entre os objetivos
empresariais e socioambientais, já que elesestariam
interligados ou, nas palavras de Drucker (2001), uma
vez que as instituições somentepodem existir dentro de
um ambiente socioambiental e são, de fato, órgãos da
sociedade, tais problemas socioambientais as afetam.
Drucker (2001) afirma, assim, que é difícil a existência
de uma organização saudável em uma sociedade que
não seja também sã.
Além disso, na teoria dos stakeholders, é assu-
mida implicitamente a necessidade da existência de
um equilíbrio nas ações de cunho socioambiental no
cerne da empresa. Se uma empresa vai assumir uma
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postura socioambientalmente responsável, ela não
pode se descuidar de sua atividade-fim; não pode se
esquecer de que necessita alcançar um nível mínimo
de lucratividade, para assegurar a continuidade das
operações; não pode se descuidar de ser uma empresa
inovadora, lançando novos produtos que estejam em
conformidade com os anseios do mercado; não pode
deixar de recrutar as melhores mentes disponíveis,
para manter ou aumentar o nível de competitividade
da organização; e não pode se esquecer que a socie-
dade não tem nada a ganhar e tudo a perder, se a
capacidade da instituição de desempenhar sua tarefa
específica for reduzida ou prejudicada. Isso exige que
os gestores aliem dois conceitos: sustentabilidade e
valor ao acionista. (DRUCKER, 2001)
Nesse ponto, cabe destacar que o debate atual
centra-se na sustentabilidade dos negócios. Segundo
Brundtland et al. (1991, p. 46), “[...] o desenvolvimen-
to sustentável é aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer a possibilidade de as
gerações futuras atenderem às suas próprias neces-
sidades”. No contexto dos negócios, para Vellani e
Ribeiro (2006), a sustentabilidade tem três dimensões:
a econômica, a social e a ambiental. Essas dimensões
são conhecidas como Triple BottomLine (TBL) da
sustentabilidade de um negócio.
O TBL reflete a necessidade das empresas serem
gerenciadas com foco na sustentabilidade econômica,
ao gerenciar empresas lucrativas e geradoras de valor;
na sustentabilidade social, ao estimular a educação,
cultura, lazer e justiça social à comunidade; e na sus-
tentabilidade ecológica, ao manter ecossistemas vivos,
com diversidade e vida. (VELLANI; RIBEIRO, 2006)
De acordo com Oliveira (2008) e Siqueira (2009),
é possível observar diferentes abordagens de respon-
sabilidade socioambiental, desde a ampla perspectiva
fundamentada na teoria dos stakeholders até a limitada
abordagem cristalizada na visão da teoria dos stockhol-
ders. A diferença básica entre as duas é uma questão de
amplitude de visão, no que se refere às possibilidades
das empresas terem benefícios financeiros com seus
investimentos socioambientais. Enquanto a teoria dos
stockholders parece ter uma visão de sistema fechado
de empresa, voltado para racionalização de operações,
maximização de eficiência e redução de custo, a teoria
dos stakeholders tem uma visão de empresa como siste-
ma aberto que afeta e é afetado pelo meio que o cerca.
Cada vez mais a imagem que as empresas gosta-
riam de passar a seus clientes seria a de uma empresa
ética. Segundo Oliveira, Daher e Oliveira (2006), as
organizações querem, na verdade, demonstrar que
são inatacáveis; alinhadas com a moral do tempo; e
sintonizadas com os costumes vigentes.
Em síntese, o que se espera, de acordo com
Macedo et al. (2009), é que ao adicionar às suas
competências básicas a conduta ética e socioam-
bientalmente responsável, as empresas conquistem o
respeito das pessoas e das comunidades atingidas por
suas atividades, o engajamento de seus colaboradores
e a preferência dos consumidores.
Oliveira (2005) ressalta que muitas empresas
estão cada vez mais se empenhando em ações na
área socioambiental dentro e fora de suas instalações
e tentando se mostrar mais transparentes e receptivas
ao diálogo com a sociedade. Ainda, segundo Oliveira
(2005), além de maior interesse dos acionistas em
informações socioambientais de suas empresas, a
relação com as partes legitimamente interessadas, os
stakeholders, tem mudado, passando a envolver uma
maior transparência e a prestação de contas a diversos
atores sociais, que até então não eram tão importantes
no processo decisório.
Porém, um ponto crucial deve ser levantado nessa
discussão de comportamento ético e socioambiental-
mente responsável, segundo Oliveira (2008). As ques-
tões sociais podem ser enfrentadas como resultado de
motivações egoístas ou altruísticas. A decisão com base
egoísta é aquela em queo autor da ação é motivado
por algum interesse individual, percebido ou não. Já
as preocupações com motivação altruística são aquelas
que surgem em função de uma percepção de que um
desequilíbrio social precisa ser corrigido, por ser injusto.
Não há nenhum interesse subliminar, trata-se de fazer
o certo por ser certo.
Tais motivações, apesar de serem conceitual-
mente fáceis de serem diferenciadas, são difíceis de
serem detectadas na prática, ao se analisar as decisões
organizacionais envolvendo o tema social. Paula, Pinto
e Paiva (2002) afirmam que tanto o comprometimento
ético com a sociedade, quanto o discurso ideológico
que viabiliza sua permanência no mercado estão pre-
sentes nas políticas e práticas de gestão socialmente
responsáveis desenvolvidas pelas empresas. Muito
provavelmente, as motivações egoístas ou altruísticas
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Oƒtekq"Cpftf‌i"Xgtcu"Ocejcfq"̋"Octegnq"énxctq"fc"Uknxc"Ocegfq"̋"Oƒtekc"Tgku"Ocejcfq"̋"Lquf‌i"Tkectfq"Ockc"fg"Ukswgktc
devam ser consideradas como pontos extremos dentro
de um continuum e as decisões empresariais seriam
uma combinação de ambas, ora pendendo para uma
extremidade ora pendendo para outra.
Para Dias e Siqueira (2006), a comunicação entre
os gestores de uma organização e os stakeholders é
frequentemente a chave dos dilemas da responsabili-
dade socioambiental. Um dos papéis fundamentais dos
primeiros seria informar a estratégia da empresa, bem
como os objetivos do empreendimento para o longo
prazo, sendo que essas informações devem ser claras, a
fim de que não proporcionem dúvidas sobre seu enten-
dimento. Em síntese, os autores afirmam que, por meio
dessas informações, os stakeholders poderiam concluir
se a empresa é ou não socioambientalmente responsá-
vel e, conhecendo melhor o negócio, poderiam tomar
mais conscientemente decisões do tipo “onde investir
seu dinheiro” ou “que produtos comprar”.
Segundo Adams (2004), foi em meados dos anos
de 1980 que houve um incremento significativo da
evidenciação socioambiental por parte das empresas
e daí deu-se início, na academia, a uma linha de pes-
quisa que tem como principal foco o estudo do que e
de como as empresas fazem essa evidenciação.
Nos últimos tempos, com a crescente internacio-
nalização dos negócios, as organizações perceberam
a importância da responsabilidade socioambiental dos
negócios agora incorporar-se às práticas contábeis e
financeiras. Projetos, práticas, estatísticas são informa-
ções que precisam de forma específica de compilação e
divulgação; torna-se imprescindível, então, o conceito
de balanço social.
De acordo com Mattila (2009), o que trouxe essa
maior atenção à responsabilidade socioambiental nos
últimos tempos foi um melhor entendimento de seus
benefícios potenciais para a competitividade das em-
presas, através, principalmente, da promoção da ima-
gem corporativa. Nesse contexto, acrescentam Brown e
Deegan (1998) e Deegan, Rankin e Tobin (2002), não
se pode deixar de ressaltar o que mostra a Teoria da
Legitimidade, no que diz respeito à motivação e aos
incentivos que as empresas têm para fazer disclosure
socioambiental.
Nesse sentido, surge, então, o conceito de balanço
social. Para Tinoco (1984, p. 10),
[...] balanço social é um instrumento de gestão
e de informação que visa reportar informações
de cunho econômico e social do que aconteceu
e acontece numa entidade, aos mais diferentes
usuários, dentre estes os assalariados.
Segundo Melo Neto e Froes (1999), não é de
agora que as empresas estão desenvolvendo uma
consciência social corporativa. O aspecto social do
setor empresarial teve início na década de 1970, com
o aumento da contestação da expansão econômica
quantitativa, cuja expressão máxima foi o primeiro
relatório do Clube de Roma, também denominado
Relatório Meadows, sobre os limites dos crescimentos.
A França foi o primeiro país a implantar uma lei
sobre o balanço social, sendo essa lei posta em prá-
tica, pela primeira vez, no ano de 1979, submetendo
as empresas que possuíam 300 ou mais funcionários
a divulgar o mesmo. Essa lei é a denominada Lei n.
77.769, de 12 de julho de 1977, mais conhecida como
rapport, ou relatório, Sudreau. No Brasil, a ideia de
balanço social surgiu no início da década de 1980 e
teve o sociólogo Betinho como seu grande defensor.
Por meio do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas(IBASE), entidade a qual presidia, Betinho
iniciou uma verdadeira cruzada em prol do balanço
social.
Tenório (2004) ilustra que o balanço social surgiu
com a crescente demanda, por parte da sociedade,
de informações a respeito dos impactos que as ativi-
dades empresariais exercem sobre os trabalhadores, a
sociedade, a comunidade e o meio ambiente. Ainda,
segundo Tenório (2004), os relatórios tradicionais prio-
rizam informações de ordem financeira, econômica e
patrimonial e não abordam elementos qualitativos ou
o fazem superficialmente, sendo, portanto, insuficientes
para a avaliação do desempenho empresarial.
De acordo com Melo Neto e Froes (1999), o ba-
lanço social representa o nível de compromisso com a
busca de soluções para os problemas sociais do país. O
balanço compreende dois tipos de ações: ações sociais
direcionadas para os empregados e seus familiares, em
especial no campo da educação, saúde, segurança do
trabalho, remuneração e benefícios; e ações sociais
voltadas para a sociedade, como educação, cultura,
esporte, lazer, meio ambiente, dentre outras.
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Tinoco (2001) afirma que o balanço social é um
documento importante, espelho da situação social na
empresa, ele testemunha o clima que a rege. Platafor-
ma de cooperação ou de reivindicação, ele inaugura de
maneira implícita uma nova era nos relatórios entre a
direção e os assalariados. Já segundo Tenório (2004),
o balanço social é um instrumento de informação da
empresa para a sociedade, por meio do qual a justi-
ficativa para sua existência deve ser explicitada. Em
síntese, essa justificativa deve provar que o seu custo/
benefício é positivo, porque agrega valor à economia
e à sociedade, porque respeita os direitos humanos de
seus colaboradores e, ainda, porque desenvolve todo o
seu processo operacional sem agredir o meio ambiente.
Tenório (2004) destaca, ainda, os benefícios
proporcionados pela implantação do balanço social:
a identificação do grau de comprometimento social da
empresa com a sociedade, os empregados e o meio
ambiente; a evidenciação, por meio de indicadores,
das contribuições à qualidade de vida na sociedade;
a avaliação da administração através de resultados
sociais, e não somente financeiros.
Porém, dois grandes problemas vêm sendo
apresentados nos estudos realizados por diversos au-
tores, como Deegan, Rankin e Tobin (2002) e Jones,
Comfort e Hillier (2005). O primeiro é a ausência de
evidenciação dos aspectos negativos em diversos ba-
lanços sociais publicados atualmente, o que pode ser
considerado um viés na utilização de suas informações.
O segundo diz respeito à existência de uma diferença
substancial na natureza e nos conteúdos dos relatórios
sociais, gerando, dentre outros problemas, dificuldade
de comparação.
2.2 Índice de Sustentabilidade Empresarial
(ISE)
Seguindo uma tendência das principais bolsas
do mundo, em dezembro de 2005, a Bolsa de Valores
de São Paulo (BOVESPA), hoje BM&FBOVESPA, em
conjunto com outras instituições – Associação Brasileira
das Entidades Fechadas de Previdência Complemen-
tar (ABRAPP); Associação Nacional dos Bancos de
Investimento (ANBID); Associação dos Analistas e
Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais
(APIMEC); Instituto Brasileiro de Governança Corpora-
tiva (IBGC);InternationalFinance Corporation (IFC); e
Instituto Ethos e Ministério do Meio Ambiente – lançou
o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) com o
objetivo de
[...] refletir o retorno de uma carteira composta
por ações de empresas com reconhecido com-
prometimento com a responsabilidade social
e a sustentabilidade empresarial, e também
atuar como promotor das boas práticas no meio
empresarial brasileiro. (ISE – METODOLOGIA
COMPLETA, 2010, p. 3)
O ISE foi desenvolvido com base no conceito
de “Triple Bottom Line”, que envolve a avaliação de
elementos ambientais, sociais e econômico-financeiros
de forma integrada, além de indicadores de gover-
nança corporativa, características gerais e natureza do
produto. (ISE – METODOLOGIA COMPLETA, 2010)
Para fazer parte desse índice, as ações devem
atender cumulativamente os seguintes critérios: ser uma
das 150 ações com maior índice de negociação nos
12 meses anteriores à avaliação;ter sido negociada em
pelo menos 50% dos pregões ocorridos nos doze meses
anteriores à formação da carteira;atender aos critérios
de sustentabilidade estabelecidos pelo Conselho do
ISE. (ISE – METODOLOGIA COMPLETA, 2010)
São excluídas da carteira as ações que:a empresa
emissora entrar em regime de recuperação judicial
ou falência;no caso de oferta pública que resultar
em retirada de parcelas significativas de suas ações
do mercado;se durante a vigência da carteira ocorrer
evento que venha a afetar significativamente seus
níveis de sustentabilidade e responsabilidade social.
(ISE – METODOLOGIA COMPLETA, 2010)
O ISE medirá o retorno de uma carteira teórica
composta pelos papéis que atenderem atodos os crité-
rios discriminados anteriormente, com vigência de um
ano, ponderados pelo respectivo valor demercado de
suas ações disponíveis para negociação, ou seja, serão
excluídas as ações de propriedade do controlador.
Destaca-se que, a partir de 2009, a participação de
uma empresa no ISE não poderá ser superior a 15%.
(ISE – METODOLOGIA COMPLETA, 2010)
A primeira carteira ISE teve vigência de dezembro
de 2005 a novembro de 2006 e era composta por 28
empresas de 12 setores. O setor predominante nessa
carteira era o de Energia Elétrica, correspondendo a
mais de 32% da carteira (Quadro 1), seguido do setor
148 Tgxkuvc"fg"Ek‒pekcu"fc"Cfokpkuvtc›«q"̋"x0"36."p0"54."r0"363/378."cdt"4234
Oƒtekq"Cpftf‌i"Xgtcu"Ocejcfq"̋"Octegnq"énxctq"fc"Uknxc"Ocegfq"̋"Oƒtekc"Tgku"Ocejcfq"̋"Lquf‌i"Tkectfq"Ockc"fg"Ukswgktc
Financeiro (17,86%), Papel e Celulose (10,71%) e Ma-
terial de Transporte (7,14%). Conforme o FTSE4Good
(apud BARBOSA, 2007), quanto ao critério ambiental,
o setor de Geração de Energia é classificado como de
alto impacto sobre o meio ambiente. Assim, observa-se
que a primeira carteira, bem como as demais apresen-
tadas a seguir, é constituída predominantemente por
empresas que apresentam um maior risco ambiental.
SETOR
CARTEIRA – ISE
2005/2006 2006/2007 2007/2008 2008/2009 2009/2010
NÚMERO DE
EMPRESAS
%
NÚMERO DE
EMPRESAS
%
NÚMERO DE
EMPRESAS
%
NÚMERO DE
EMPRESAS
%
NÚMERO DE
EMPRESAS
%
Energia 9 32,14 8 23,53 11 34,38 11 36,67 11 32,35
Financeiro 5 17,86 5 14,71 3 9,38 4 13,33 5 14,71
Siderurgia e
metalurgia 1 3,57 3 8,82 3 9,38 2 6,67 2 5,88
Construção e
transporte 1 3,57 1 2,94 0 0,00 0 0,00 1 2,94
Alimentos 1 3,57 1 2,94 2 6,25 2 6,67 1 2,94
Papel e celulose 3 10,71 3 8,82 3 9,38 2 6,67 1 2,94
Produtos de
uso pessoal 1 3,57 1 2,94 1 3,13 1 3,33 1 2,94
Máquinas e
equipamentos 1 3,57 0 0,00 1 3,13 0 0,00 1 2,94
Petroquímico 1 3,57 4 11,76 3 9,38 1 3,33 1 2,94
Saúde 1 3,57 1 2,94 1 3,13 2 6,67 1 2,94
Madeira e papel 0 0,00 0 0,00 0 0,00 1 3,33 2 5,88
Telecomunicações 0 0,00 0 0,00 0 0,00 2 6,67 3 8,82
Água e
saneamento 0 0,00 0 0,00 1 3,13 1 3,33 1 2,94
Material de
transporte 2 7,14 2 5,88 2 6,25 1 3,33 1 2,94
Mineração 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 1 2,94
Transporte 2 7,14 4 11,76 1 3,13 0 0,00 0 0,00
Consumo cíclico 0 0,00 1 2,94 0 0,00 0 0,00 0 0,00
Previdência
e seguros 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 1 2,94
Total 28 100 34 100 32 100 30 100 34 100
Quadro 1: Composição das carteiras ISE por setor
Fonte: Dados da pesquisa
149
Tgxkuvc"fg"Ek‒pekcu"fc"Cfokpkuvtc›«q"̋"x0"36."p0"54."r0"363/378."cdt"4234
Cpƒnkug"fc"Tgnc›«q"gpvtg"Kpxguvkogpvqu"Uqekqcodkgpvcku"g"c"Kpenwu«q"fg"Gortgucu"pq"ìpfkeg"fg"Uwuvgpvcdknkfcfg"Gortguctkcn"*KUG+"fc"DO(HDQXGURC
A segunda carteira ISE, renovada em 2006 e
com vigência até novembro de 2007, era composta
de 43 papéis de 34 empresas, correspondendo a 12
setores. Como já relatado, o setor de Energia Elétrica
foi o mais representativo desta carteira, participando
com aproximadamente 23% do total. O setor finan-
ceiro passou a representar 14%. O setor de Siderurgia
e Metalurgia, que na primeira carteira representava
aproximadamente 3,5%, passou a ter uma representa-
tividade de 8,82% no índice. Vale salientar que, assim
como o setor energético, o setor de siderurgia e me-
talurgia também é considerado como de alto impacto
ambiental. (Quadro 1).
A terceira carteira ISE, com vigência de dezembro
de 2007 a novembro de 2008, foi composta de 40
ações de 32 empresas, representando 12 setores da
econômica. Nessa carteira, assim como nas anterio-
res, apresentou como setor mais representativo o de
energia, com aproximadamente 36%, seguido pelos
setores Financeiro, Papel e Celulose e Siderurgia e
Metalurgia, ambos com uma participação em torno
de 6%. (Quadro 1).
Em 2008, a carteira foi novamente renovada.
Dessa vez, com vigência de dezembro de 2008 a no-
vembro de 2009, sendo composta de 38 ações de 30
empresas, representando 12 setores da econômica.
Nessa carteira, também foi predominante a partici-
pação do setor de energia (36,67%), seguido pelos
setores Financeiro (13,33%) e Telecomunicações
(6,67%) (Quadro 1).
Por fim, a última carteira compreendida no estu-
do, formada em 2009, com vigência até dezembro de
2010, era composta por 34 empresas, representando
16 setores da economia. Observa-se que, mesmo com
o limite de 15% da participação de uma empresa no
índice, conforme a metodologia do ISE, o setor elétrico
manteve elevada participação (32,35%).
Teorias com a dos stakeholders, da legitimidade
e institucional têm sido utilizadas para fundamentar
estudos que buscam averiguar as práticas de disclosure
social e ambiental (AZIZUL; DEEGAN, 2008). Embo-
ra o presente artigo trate dos investimentos sociais e
ambientais, tais teorias não podem ser consideradas
para a fundamentação teórica do estudo, pois essas
teorias não explicam e não dizem respeitoà inclusão
de empresas na carteira ISE. Por tanto, este estudo está
alicerçado no objetivo da carteira ISE, que consiste em
refletir uma carteira composta de ações de empresas
com reconhecido comprometimento com a respon-
sabilidade sociale a sustentabilidade, e a suposição
que os investimentos sociais e ambientais refletem o
comprometimento da empresa com a responsabilidade
social e a sustentabilidade.
3 PROCEDER METODOLÓGICO
A descrição dos aspectos metodológicos desse
trabalho está dividida em quatro partes: tipo de pes-
quisa, coleta de dados e amostra, variáveis e modelo
econométrico.
3.1 Tipo de Pesquisa
Quanto à caracterização da pesquisa, optou-
-se por um estudo empírico-analítico, que, segundo
Martins (2002, p. 34), “[...] são abordagens que
apresentam em comum a utilização de técnicas de
coleta, tratamento e análise de dados marcadamente
quantitativos [...]. Tais abordagens têm forte preocupa-
ção com a relação causal entre variáveis. A validação
da prova científica é buscada por meio de testes dos
instrumentos, graus de significância e sistematização
das definições operacionais”.
3.2 Coleta de Dados e Amostra
Como o objetivo do estudo é averiguar a relação
dos investimentos sociais e ambientais das empresas
e seu ingresso no índice ISE, tomou-se o cuidado de
incluir no estudo apenas empresas com potencial de
ingresso no referido índice.
Conforme estabelece a BM&FBOVESPA, so-
mente empresas socialmente responsáveis, susten-
táveis e rentáveis podem ingressar no índice ISE.
Para tanto, existe uma seleção entre as empresas
detentoras dos 150 papéis mais líquidos negociados
na BM&FBOVESPA, as quais são denominadas de
empresas elegíveis.
Visto que a metodologia utilizada para selecionar
as empresas sofreu alterações no último ano, 2009,
optou-se por considerar, neste estudo, apenas as
empresas elegíveis para compor a carteira do ISE, no
período de dezembro de 2009 a novembro de 2010.
150 Tgxkuvc"fg"Ek‒pekcu"fc"Cfokpkuvtc›«q"̋"x0"36."p0"54."r0"363/378."cdt"4234
Oƒtekq"Cpftf‌i"Xgtcu"Ocejcfq"̋"Octegnq"énxctq"fc"Uknxc"Ocegfq"̋"Oƒtekc"Tgku"Ocejcfq"̋"Lquf‌i"Tkectfq"Ockc"fg"Ukswgktc
Devido à escolha desse período, as variáveis utiliza-
das, conforme apresentado a seguir, são referentes ao
exercício anterior, 2008, o qual serviu de base para a
seleção final da carteira. Assim, utilizou-se a listagem
das empresas elegíveis, contendo 135 empresas, dispo-
nibilizado pela BM&FBOVESPA, como, inicialmente,
o universo da pesquisa.
Com base na listagem das empresas elegíveis,
consultou-se o banco de dados do Ibase, a fim de
coletar as informações referentes aos investimentos
socioambientais. No entanto, no referido banco de
dados, somente estava disponível o balanço social de
duas empresas. Para viabilizar o estudo, foi realizada
pesquisa no site de todas as empresas elegíveis, em
busca do balanço social modelo Ibase, bem como
consultados os relatórios anuais, relatórios de sus-
tentabilidade, demonstrações financeiras publicadas
e balanços sociais, resultando na coleta de dados de
45 empresas.
3.3 Variáveis
As variáveis estudadas consistem nos investimen-
tos socioambientais efetuados pelas empresas. Como
não há a obrigatoriedade de divulgação de tais infor-
mações, bem como um modelo padrão seguido por
todas as empresas, definiu-se, para fins deste trabalho,
o modelo de balanço social sugerido pelo Ibase, como
fonte da obtenção de tais informações.
A escolha do modelo de balanço social Ibase
justifica-se pelo fato de ser simples e utilizado por
muitas empresas, bem como já ter sido utilizado em
diversos estudos. Assim, os investimentos socioambien-
tais serão classificados em: Investimentos Internos (II),
Investimentos Externos (IE) e Investimentos Ambientais
(IA), conforme estabelece o balanço social Ibase.
Uma vez que o estudo compreende empresas de
diversos setores e tamanhos, optou-se por não utilizar
os investimentos pelo seu valor bruto, mas como um
índice, calculado com base na receita líquida das em-
presas. Dessa forma, a métrica utilizada corresponde
à parcela média da receita líquida destinada a tais
investimentos:
RL
II
PII =
(Eq. 1)
RL
IE
PIE =
(Eq. 2)
RL
IA
PIA =
(Eq. 3)
onde: PII = parcela da receita líquida de 2008 desti-
nada a investimentos sociais internos; PIE = parcela
da receita líquida de 2008 destinada a investimentos
sociais externos; PIA = parcela da receita líquida de
2008 destinada a investimentos ambientais; RL =
receita líquida de 2008.
Destaca-se que a utilização da receita líquida
como denominador deve-se a dois fatos: (1) disponi-
bilidade dos dados e (2) utilização dessa variável como
base de referência nos balanços sociais.
3.4 Modelo Econométrico
Analisou-se se há uma relação logística entre in-
vestimentos socioambientais e a inclusão das empresas
no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da
BM&FBOVESPA. Em função de a variável dependente
ser dicotômica, fez-se uso da estatística multivariada
regressão logística, por meio do modelo representado
na Equação 4:
()
()
xg
e
CISEP
-
+
=1
1
em que, (Eq. 4)
()
itititi
PIAPIEPIIxg
mbbbb
++++=
--- 1,31,21,10
(Eq. 5)
onde: CISE – Ingresso na carteira ISE da Bovespa, Va-
riável dependente, representada na presente pesquisa
por uma variável dicotômica, recebendo 0 (Zero) se a
empresa não entrou na carteira e 1 (Um) se a empresa
entrou na carteira. b0 a b3– representam os coeficientes
a estimar; PIIi,t–1 – parcela da receita líquida destinada
a investimentos sociais internos; da empresa i, no perí-
odo t-1. PIEi,t–1 – parcela da receita líquida destinada a
investimentos sociais externos da empresa i, no período
t-1 e PIAi,t–1 – parcela da receita líquida destinada a
investimentos ambientais da empresa i, no período t-1.
A Regressão Logística é uma técnica estatística em
que, com base nos dados de uma amostra específica,
uma ou mais variáveis independentes são matemati-
camente combinadas para criar expectativas acerca da
151
Tgxkuvc"fg"Ek‒pekcu"fc"Cfokpkuvtc›«q"̋"x0"36."p0"54."r0"363/378."cdt"4234
Cpƒnkug"fc"Tgnc›«q"gpvtg"Kpxguvkogpvqu"Uqekqcodkgpvcku"g"c"Kpenwu«q"fg"Gortgucu"pq"ìpfkeg"fg"Uwuvgpvcdknkfcfg"Gortguctkcn"*KUG+"fc"DO(HDQXGURC
ocorrência ou não de um determinado evento incerto,
o qual é expresso sob a forma de uma variável de-
pendente dicotômica (ou seja, com valor “0” ou “1”).
Tecnicamente, utiliza-se uma função logística para se
determinar o logaritmo neperiano da razão de chances
do evento em questão. (HAIR et al., 1998)
A regressão logística difere da regressão múltipla,
no sentido de prevê diretamente a probabilidade de
um evento ocorrer e da análise discriminante por
envolver apenas duas categorias. Apesar de o valor
da probabilidade ser uma medida métrica, podendo
assumir quaisquer valores entre zero e um, seu valor
previsto deve ser limitado, de modo a recair sempre
dentro do referido intervalo.
Ao contrário da regressão múltipla, que faz uso
do método dos mínimos quadrados ordinários, como
método de estimação dos parâmetros, a regressão logís-
tica utiliza-se do método da máxima verossimilhança,
quando se calcula a medida de ajuste geral do modelo,
ou seja, utiliza-se uma forma iterativa para encontrar
as estimativas mais prováveis para os parâmetros.
(GUJARATI, 2000)
A regressão logística tem com vantagens: lidar
com praticamente qualquer quantidade de variáveis
independentes; não requer que as variáveis envol-
vidas apresentem propriedades especiais como ter
distribuição normal e variâncias homocedásticas ou
ser intervalar/razão; poder trabalhar com praticamente
qualquer tipo de variável independente (dicotômica,
ordinal ou contínua), incluindo combinações de tipos
diferentes; como ocorre com qualquer tipo de análise
de regressão com múltiplas variáveis, os efeitos de
interação entre as variáveis são matematicamente
eliminados. (HAIR et al., 1998)
4 ANÁLISE DOS DADOS
A análise de regressão logística foi efetuada,
considerando as seguintes opções: Classificationplots;
Hosmer-Lemeshowgoodness-of-fit; Include constant
in model;Classificationcutoff: 0,5; Maximuminteration:
20; CI ofexp (B): 95%.
Conforme Quadro 2, seis empresas que com-
põem a amostra foram exluídas do modelo, por não
conter informações de II, IE ou IA. O Quadro 1 eviden-
cia como as empresas seriam classificadas sem consi-
derar as variáveis independentes. A priori, o modelo
está sendo guiado apenas pelo status predominante.
vinte empresas ingressaram na carteira ISE, sendo
classificadas na categoria “sim”, e 19 não ingressaram,
sendo classificadas na categoria “não”. Desse modo,
a classificação estaria correta em aproximadamente
51,3% dos casos. Inicialmente, o modelo inclui apenas
a constante, conforme Tabela 1.
STEP 0
OBSERVADO PREDITO
INGRESSO
NA CARTEI-
RA ISE
PERCENTUAL
CORRETO
Não Sim Não
Ingresso
na carteira
ISE
Não 0 19 0
Sim 0 20 100
Percentual Geral 51,3
a: Constante é incluída no modelo
b: Valor de corte é 5,0
Quadro 2: Quadro de Classificação a priori a, b
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 1: Variáveis Consideradas a priori
B S.E. Wald df Sig. Exp(B)
Step
0Constant 0,051 0,320 0,026 1 0,873 1,053
Fonte: Dados da pesquisa
O objetivo da análise é fornecer parâmetros para
verificar se a inclusão das variáveis independentes
fornece uma classificação mais próxima da realidade,
ao tempo que permite analisar quais variáveis expli-
cam o ingresso das empresas no índice ISE. Conforme
Quadro 1, classificando as observações apenas em
função do status predominante na amostra, pode-se
acertar aproximadamente 51,3% das vezes. É possível
observar então que, se, ao incluir as variáveis indepen-
dentes do nosso modelo, observa-se uma melhora na
acurácia da classificação.
152 Tgxkuvc"fg"Ek‒pekcu"fc"Cfokpkuvtc›«q"̋"x0"36."p0"54."r0"363/378."cdt"4234
Oƒtekq"Cpftf‌i"Xgtcu"Ocejcfq"̋"Octegnq"énxctq"fc"Uknxc"Ocegfq"̋"Oƒtekc"Tgku"Ocejcfq"̋"Lquf‌i"Tkectfq"Ockc"fg"Ukswgktc
A validação estatística do modelo é feita por meio
dos testes e indicadores evidenciados nas tabelas 2, 3
e 4. Os Testes Step, Block e Model são utilizados para
avaliar a hipótese de nulidade de todos os coeficientes.
Os resultados indicam rejeição da hipótese nula a um
nível de significância de 1%, ou seja, pelo menos uma
variável tem coeficiente significativamente diferente
de zero, e comprovam a adequação do modelo, con-
forme Tabela 2. Portanto, o modelo pode ser utilizado
para verificar se os investimentos socioambientais
explicam o ingresso das empresas no índice ISE da
BM&FBOVESPA.
Tabela 2: Teste Omnibus Para os Coeficientes do Modelo
Chi-square df Sig.
Step 1 Step 13,216 3 0,004
Block 13,216 3 0,004
Model 13,216 3 0,004
Fonte: Dados da pesquisa
O teste –2 log likelihood (-2LL) indica o grau
de ajustamento do modelo. Esse número não é in-
terpretado diretamente, mas participa do cálculo do
Model, Black e Step. Contudo, alguns autores, como
Hair et. al. (1998), consideram que, quanto menor o
-2LL, maior a capacidade preditiva do modelo. No
modelo em análise, encontrou-se um valor de 40,823,
conforme Tabela 3.
Tabela 3: Sumário do Modelo
Step -2 Log
likelihood Cox & Snell
R Square Nagelkerke
R Square
1 40,823(a) 0,287 0,383
a Estimation terminated at iteration number 5 because parameter estimates
changed by less than ,001
Fonte: Dados da pesquisa
O poder explicativo do modelo é dado pelo indi-
cador Nagelkerke R2, que representa uma adaptação
do Cox & Snell, fornecendo resultados compreendidos
no intervalo de 0 a 1. No presente estudo, tem-se o
valor de 0,383, indicando que 38,3% das variações
registradas na variável dependente são explicadas
pelo conjunto das variáveis independentes utilizadas.
A precisão do modelo é avaliada pelo Teste
Hosmer e Lemeshow. Ele testa a hipótese nula de que
não existem diferenças significativas entre os resulta-
dos preditos pelo modelo e os observados. Conforme
Tabela 4, o nível de significância obtido é superior ao
nível de 5%, não se podendo rejeitar a hipótese nula,
concluindo-se que inexistem diferenças significativas
entre os resultados observados e os previstos pelo
modelo. A Tabela 5 evidencia os dados utilizados para
o cálculo do referido teste.
Tabela 4: Teste de Hosmer e Lemeshow
Step Chi-square df Sig.
1 4,318 8 0,827
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 5: Tabela de Contigência Para o de Hosmer e
Lemeshow
Ingresso na
Carteira ISE
= Não
Ingresso
na Carteira
ISE= Sim
Tot a l
Observed
Expected
Observed
Expected
Observed
Step 1 1 4 3,577 0 0,423 4
2 3 2,962 1 1,038 4
3 3 2,757 1 1,243 4
4 2 2,514 2 1,586 4
5 2 2,357 2 1,643 4
6 2 1,917 2 2,083 4
7 1 1,563 3 2,437 4
8 2 0,779 2 3,221 4
9 0 0,480 4 3,520 4
10 0 0,095 3 2,905 3
Fonte: Dados da pesquisa
O Quadro 3 evidencia que, com a inclusão das
variáveis independentes, 69,2% das observações são
classificadas corretamente, melhorando consideravel-
mente em relação ao modelo a priori (51,3%). O passo
seguinte foi averiguar quais variáveis apresentaram
significância estatística, segundo o teste de Wald.
153
Tgxkuvc"fg"Ek‒pekcu"fc"Cfokpkuvtc›«q"̋"x0"36."p0"54."r0"363/378."cdt"4234
Cpƒnkug"fc"Tgnc›«q"gpvtg"Kpxguvkogpvqu"Uqekqcodkgpvcku"g"c"Kpenwu«q"fg"Gortgucu"pq"ìpfkeg"fg"Uwuvgpvcdknkfcfg"Gortguctkcn"*KUG+"fc"DO(HDQXGURC
STEP 0
OBSERVADO PREDITO
INGRESSO
NA CARTEI-
RA ISE
PERCENTUAL
CORRETO
Não Sim Não
Ingresso
na carteira
ISE
Não 14 5 73,76
Sim 7 13 65,0
Percentual Geral 69,2
a The cut value is ,500
Quadro 3: Classificação Final
Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com a Tabela 6, a variável IE apresen-
tou significância estatística ao nível de 5%, enquanto
as variáveis II e IA não se mostraram significativas,
conforme teste de Wald.
Tabela 6: Significância das Variáveis do Modelo
B S.E. Wald df Sig. Exp(B)
Step
1(a) II -1,728 9,862 0,031 1 0,861 0,178
IE 7,898 3,104 6,475 1 0,011 2692,075
IA -,69,349 57,200 1,470 1 0,225 0,000
Cons-
tante -0,828 0,795 1,805 1 0,298 0,437
Fonte: Dados da pesquisa
Portanto, de acordo com os resultados obtidos,
pode-se concluir que existe relação entre investimentos
socioambientais e o ingresso das empresas na carteira
ISE da Bovespa, sendo a variável IE a melhor proxy
para explicar essa relação.
5 CONCLUSÃO
Diante da tendência mundial de investidores pro-
curarem aplicações socialmente responsáveis, seja por
uma questão de modismo ou porque consideram que
empresas sustentáveis geram valor ao longo do tempo
por estarem mais preparadas para enfrentar riscos
econômicos, sociais e ambientais, índices constituídos
por empresas com alto grau de comprometimento com
questões socioambientais foram criados, a exemplo
do índice ISE da BM&FBOVESPA, que seleciona
para compor essa carteira teórica empresas com alta
liquidez e com reconhecido comprometimento com a
responsabilidade social e sustentabilidade.
As empresas que compõem o ISE passam por
processo seletivo que inclui várias etapas e fornecimen-
to de informações adicionais, além das comumente
evidenciadas nos relatório anuais e de sustentabilidade.
Como as informações socioambientais são
voluntárias e não seguem um padrão, é muito difícil
para o investidor, com base apenas nas informações
fornecidas pelas empresas, avaliar e comparar o nível
de comprometimento das empresas com questões
socioambientais, muito embora já existam alguns mo-
delos padronizados e bastante usado pelas empresas.
Diante disso, este estudo se propôs a verificar se
os investimentos socioambientais evidenciados pelas
empresas têm relação com a inclusão das empresas
no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da
BM&FBOVESPA, por meio da aplicação de regressão
logística às informações de empresas elegíveis para
compor a carteira ISE, no período de dezembro de
2009 a dezembro de 2010.
De acordo com os resultados obtidos, pode-se
concluir que existe relação entre os investimentos
socioambientais e o ingresso das empresas na carteira
ISE da BM&FBOVESPA, demonstrando que os inves-
timentos das empresas, realizados e evidenciados em
questões socioambientais, são entendido como indício
de comprometimento real com a responsabilidade so-
cial e com a sustentabilidade e não simplesmente uma
forma de prestação de contas dos recursos aplicados.
Nos resultados, tais considerações podem ser
observadas pela qualidade do modelo proposto, tanto
no que diz respeito aos testes executados, quanto na
melhoria do poder explicativo a priori, já que o modelo
apresentou um incremento de capacidade explicativa
na ordem de quase 20%, indo de 51,3% para 69,2%
de observações classificadas corretamente.
Quanto as variáveis utilizadas, investimentos
sociais internos (II), externos (IE) e ambientais (IA),
observou-se que IE é a melhor proxy para explicar essa
relação, ou seja, os resultados sugerem que empresas
que investem recursos em prol da comunidade, seja
voluntariamente ou por meio dos tributos, o que é
ou pelo menos deveria ser um recurso aplicado na
sociedade, tem mais chances de entrar na composição
da carteira ISE.
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Cabe se destacar, contudo, que a efetiva mensu-
ração da responsabilidade social se dá de forma mais
ampla, não se limitando às três variáveis utilizadas
neste estudo. Modelos de relatórios de sustentabilidade,
como o proposto pela Global ReportingInitiative (GRI),
têm trabalhado com uma ampla gama de indicadores,
visando tornar claro o perfil social das organizações
por meio da evidenciação não apenas dos impactos
positivos das organizações, como feito neste artigo, mas
também de suas externalidades negativas.
Sugere-se, portanto, estudos futuros que en-
volvam um conjunto mais amplo de indicadores de
sustentabilidade, englobando inclusive aqueles que se
relacionem às externalidades negativas da atividade
econômica. Um estudo possível, seguindo essa linha,
seria uma análise comparativa do grau de responsabi-
lidade social de diferentes empresas utilizando a DEA
e indicadores propostos pela GRI. Outra possibilidade
seria verificar a existência de diferenças significativas
no grau de responsabilidade social, também mensu-
rado por meio de indicadores da GRI, entre empresas
participantes e não participantes de índices de ações
com viés socioambiental.
Tais estudos, apesar de potencialmente envolve-
rem uma massa de dados maior se aproximariam de
um conceito mais rigoroso de responsabilidade social,
indo, consequentemente, ao encontro de anseios que
emanam de segmentos organizados da sociedade rela-
cionados à identificação de esforços de desenvolvimen-
to sustentável sob uma ótica não apenas econômica,
mas também social e ambiental.
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