Jovens autonomistas do Centro de Mídia Independente e o velho travestido de novo

AutorCarlos André dos Santos
CargoEscola de Ensino Básico Cecília Rosa Lopes, São José/SC, Brasil
Páginas50-66
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SANTOS, Carlos A. Os jovens autonomistas do Centro de Mídia Independente e o velho vestido de novo.
Jovens Autonomistas do Centro de Mídia Independente e o Velho
Vestido de Novo
Youngsters Autonomists of the Independent Media Center and the Old
Dressed in New
http://dx.doi.org/10.5007/2178-4582.2013v47n1p50
Carlos André dos Santos
Escola de Ensino Básico Cecília Rosa Lopes, São José/SC, Brasil
Eu estava sobre uma colina e vi o Velho se
aproxmando, mas ele vinha como se fosse o Novo.
Ele se arrastava em novas muletas, que ninguém
antes havia visto, e exalava novos odores de
putrefação, que ninguém antes havia cheirado. (...)
E em torno estavam aqueles que instilavam
horror e gritavam: Aí vem o Novo, tudo é novo,
saúdem o Novo, sejam novos como nós!
Trechos de Parada do Velho Novo - Bertold Brecht
Esse artigo trata a participação política dos
jovens em ações coletivas de contestação ao es-
tabelecido na mídia radical alternativa, tendo sido
desenvolvido por meio de um estudo de caso das
atividades do Centro de Mídia Independente no
Brasil. Nosso objetivo foi expor as interações e
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lidades e também limites, dado que a contestação
ao estabelecido está submetida aos percalços dos
mecanismos onde o “velho”, se apresenta como
“novo”, mantendo o objetivo de manutenção e
adaptação dos jovens ao sistema de produção ca-
pitalista.
Palavras chave: Jovens - Mídia radical alternati-
va - Participação política.
This paper is about the youngsters’ political
participation in collective actions that challen-
ge the establishment by the radical alternative
media. It was developed through a case study on
the activities of the Independent Media Center in
Brazil. Our goal is to present the interactions and
   
its possibilities and limits, once the challenge of
the established is subject to the mishaps of me-
chanisms where the “old” is presented as “new”,
whereas its purpose of maintaining and adapt the
youth to the capitalist system of production is kept
unchanged.
Keywords: Youngsters - Radical alternative media
- Political participation.
Este artigo, desenvolvido a partir de um longo estudo qualitativo mate-
rializado na dissertação Os Olhos por trás das Lentes (SANTOS, 2010), tem
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possibilidades e também limites, dado que a contestação ao estabelecido está
submetida aos percalços de mecanismos onde o “velho” se apresenta como
“novo”, mantendo inalterado o de objetivo de manter e adaptar os jovens ao
sistema de produção capitalista.
Os estudos foram realizados no Núcleo de Pesquisa sobre a Juventude
Contemporânea (NEJUC/UFSC) e tiveram como sujeitos de pesquisa jovens
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Revista de Ciências HUMANAS, Florianópolis, v. 47, n. 1, p. 50-66, abr. 2013
ativistas do Centro de Mídia Independente no Brasil (CMI), um dos enlaces
da rede mundial Indymedia de coletivos de produtores e produtoras de mídia
radical alternativa (DOWNING, 2003). Essa mídia alternativa utiliza tecno-
logias de informação como parte de seu ativismo e forma de organização, a
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soluções frente ao monopólio dos meios de comunicação de massa.
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quisa (entrevistas semiestruturadas, análise de documentos e produções áu-
dios-visuais) nos permitiu visualizar não só a existência de uma política difusa
não institucionalizada na juventude, como também, as trajetórias de sujeitos
políticos em diferentes situações e conjunturas ao longo dos últimos 13 anos.
Na última década, conforme Sousa (2003, p.3), os estudos sobre a ju-
ventude “vêm se atualizando na compreensão das novas sociabilidades his-
tóricas inter-relacionadas com categorias sociais, culturais e políticas”, o que
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contestadores. Isto porque o comportamento juvenil atual evidencia que as
instituições contam com os jovens para seus projetos, integrando-os em gru-
pos controlados por adultos, o que não anula nem neutraliza a sua capacidade
de autonomia, de questionar o “velho” e de organizar-se politicamente.
O debate proposto por Sousa (Ibid.) sugere ser interessante distinguir o
conceito de política, na dimensão da esfera institucional, daquelas políticas
que frequentam os espaços de experiência social, gerando novas sociabilida-
des. Ainda que vago e impreciso, este conceito de política ajuda a compreen-
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cias indicadas em ações contra instituintes.
Nesse sentido, para analisar de forma crítica as possibilidades e limites
de contestação ao estabelecido, protagonizado pela juventude, levamos em
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interior de suas linhas de força; e se posiciona através de uma perspectiva ge-
racional particular, situação em que se vivencia a experiência social de formas
distintas. Mais do que comparar gerações, há de se comparar sociedades onde
convivem diferentes gerações (URRESTI, 2000).
As revoltas dos jovens nas ruas de Seattle, Gênova, Praga, Argentina,
Chile, México, nos subúrbios de Paris, Londres e na Grécia são expressões
do fazer e do poder político juvenil hoje. Como demonstram os trabalhos de
Feixa (2006), Groppo (2005) e Sousa (2003), tais movimentos não podem ser
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realidades, experiências e aos imaginários políticos de sua época.
Para Sousa (2003), existe a presença dessa política difusa e não institu-
cionalizada: nas periferias do Brasil, se referindo aos jovens contestadores do

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