Knowledge sharing in the context of social enterprises/O compartilhamento do conhecimento no contexto dos empreendimentos sociais/El uso compartido del conocimiento en el contexto de los emprendimientos sociales.

AutorGodoi-de-Sousa, Edileusa
CargoArtigo--Gestao de Pessoas nas Organizacoes
  1. INTRODUCAO

    Um dos consensos entre alguns autores que discutem os arranjos intraorganizacionais (ELSBACH, 2005; FIOL, 2005; OPHIR; ARGOTE, 2005; WARGLIEN, 2005) e o reconhecimento da importancia do ato de transferir e compartilhar conhecimento como recurso fundamental na concretizacao dos objetivos individuais e organizacionais. De modo geral, a gestao do conhecimento tem sido considerada, em seus diversos niveis e aplicacoes, tanto na pratica quanto na teoria, um mecanismo de compartilhamento entre as pessoas capaz de potencializar a transferencia de informacao entre organizacoes e individuos e de contribuir para a geracao de produtos e processos inovadores no contexto das redes colaborativas de aprendizagem.

    Particularmente, este trabalho interessou-se pela epistemologia subjacente a gestao do conhecimento e ao desenvolvimento da aprendizagem organizacional em Empreendimentos Economicos Solidarios (EES), que visa a promocao do bem-estar social.

    A tipologia que abrange esses empreendimentos pode ser muito ampla e diversa, seja em virtude da imprecisao conceitual, seja em funcao da criatividade inovadora dos empreendedores. Podem-se encontrar, nesse leque, desde as empresas autogestionarias ate os grupos informais de pessoas precariamente associadas, que realizam um esforco comum para gerar renda e sobreviver as condicoes adversas da miseria e da exclusao. Nesse ambito, despontam as organizacoes formais, as cooperativas e as associacoes dedicadas aos assim chamados negocios inclusivos (GODOI-DE-SOUSA; FISCHER, 2012).

    Dentre tais tipos de iniciativas, optou-se por um recorte com enfoque em um desses conjuntos, as associacoes, e, entre essas, aquelas voltadas para a producao e venda de bens e servicos de forma coletiva e solidaria.

    A escolha por essas associacoes considerou o fato de elas comporem um campo que diz respeito a geracao de dinamismo e de inovacao nas formas de organizacao do trabalho. Ainda, considerou-se o papel que elas podem desempenhar no aumento do emprego e da renda e na elevacao do nivel da qualidade de vida das comunidades por meio de processos de interacao, aprendizado e inovacao (ALBAGLI; MACIEL, 2002; OLIVEIRA, 2005; GODOI-DE-SOUSA; FISCHER, 2012), e, tambem, o fato de essas associacoes terem uma constituicao formal que permite sua identificacao em bancos de dados. Nos 21.859 EES (Empreendimentos Economicos Solidarios) mapeados ate 2007 no Brasil pela SENAES/MTE (Secretaria Nacional de Economia Solidaria), as associacoes representam 51% das organizacoes, apresentando tendencia de crescimento quando comparadas a outras formas de empreendimento de participantes desse levantamento.

    Nesse sentido, sera ampliado o debate realizado ate entao sobre esse tipo de iniciativa, considerando-se que a abordagem sobre os empreendimentos sociais ainda nao conta, no Brasil, com o necessario suporte de fatos documentados, o que justifica a necessidade de pesquisas nessa direcao.

    A contribuicao deste estudo reside em ampliar os conhecimentos sobre tais empreendimentos sociais: suas caracteristicas e a necessidade de estabelecer uma relacao entre a geracao de conhecimento e os modos de incorpora-los, cada vez mais, no contexto das organizacoes do terceiro setor. Com isso, poderao ser encontrados novos caminhos em direcao a perenidade e ao desenvolvimento sustentavel dessas organizacoes. Dessa forma, espera-se que este estudo sirva como ponto de partida para uma reflexao por parte dos gestores dos empreendimentos sociais acerca da importancia da geracao e do compartilhamento do conhecimento no terceiro setor, com vistas no desenvolvimento de melhores praticas de gestao.

    Portanto, o objetivo deste trabalho foi analisar se e como os EES no Brasil compartilham o conhecimento socialmente produzido; especificamente, procurou-se estabelecer uma relacao entre a geracao de conhecimento e os modos de aplicacao desse conhecimento na gestao desses empreendimentos. Para alcancar tal objetivo, considerou-se adequado conduzir um estudo exploratorio a partir de uma base de dados secundarios complementada com pesquisas qualitativas. Foram realizadas entrevistas em 32 empreendimentos, cujas caracteristicas gerais foram analisadas a partir de dados fornecidos pela SENAES/MTE, e cujo processo de geracao de conhecimentos foi compreendido por meio de questoes-chave apresentadas aos principais gestores desses empreendimentos.

  2. REFERENCIAL TEORICO

    2.1. Gestao do Conhecimento e Aprendizagem

    As organizacoes tem buscado, cada vez mais, novas solucoes para a gestao de produtos, servicos e tecnologia. Isso ocorre porque elas estao inseridas em ambientes de elevada volatilidade, nos quais buscam competitividade para lidar com as imprevisoes e manter sua perpetuidade. Esses ambientes exigem gerenciar a inovacao e, por decorrencia, a producao, transferencia e compartilhamento do conhecimento.

    As pessoas, por seu lado, segundo Nakata (2010), percebem a importancia do conhecimento como fator alavancador de seu desenvolvimento e de sua realizacao pessoal e profissional. Ambas as partes--organizacoes e pessoas--podem ter o objetivo comum de buscar a aprendizagem como referencia para as relacoes que estabelecem no campo do trabalho. Nesse sentido, e importante que se discuta a necessidade de as organizacoes deixarem de ser baseadas em comando e controle, e buscarem praticas que facilitem a gestao do conhecimento e a aprendizagem (DRUCKER, 1988).

    Para Nonaka, Toyama e Byosiere (2001), a gestao do conhecimento trata daquilo em que as pessoas acreditam, sendo mais importante a crenca no conhecimento do que a comprovacao racional da veracidade deste. Esses autores afirmam, ainda, que o conhecimento e especifico e relacionado a um contexto, visto que se apresenta dinamico nas interacoes entre os individuos, no meio e entre as organizacoes. Contudo, ainda que a organizacao esteja baseada no conhecimento, em pouco tempo estara obsoleta caso nao tenha a capacidade de aprender a inovar.

    No Quadro 1 sao destacados alguns dos principais autores do campo da teoria organizacional que produziram definicoes sobre o conceito de conhecimento:

    Quadro 1--Principais autores que abordaram o conceito de conhecimento Autores Conceito de conhecimento Drucker (1988) Conhecimento deve ser organizado e alocado onde for mais necessario e critico; conhecimento e um ativo dinamico. Stewart (1998) Conhecimento e um ativo intangivel, que representa o capital intelectual da organizacao. Davenport e Conhecimento proporciona uma estrutura para avaliar Prusak (1998) e incorporar novas experiencias e informacoes; e aplicado na mente dos conhecedores. Von Krogh, Conhecimento e crenca verdadeira e justificada, Ichijo e e explicito e tacito, e sua eficacia e criacao Nonaka (2000) dependem de contexto capacitante; e mutavel. Nonaka (2001) Conhecimento sempre se origina na pessoa; a conversao do conhecimento individual em recurso disponivel e a atividade-chave da empresa que cria conhecimento. Probst, Raub e Conhecimento e integrado, sendo individual e Romhardt (2002) coletivo ao mesmo tempo, pois as pessoas constroem-no juntas e adquirem novo conhecimento do proprio grupo. Fonte: Nakata (2009). Davenport e Prusak (1998) ainda esclarecem que o conhecimento movimenta-se pelas organizacoes, pois ele e comercializado, descoberto, gerado e aplicado aos processos de trabalho. De acordo com os autores, o conhecimento organizacional e dinamico, movido por uma variedade de forcas e inserido no mercado do conhecimento, onde e intercambiado a todo momento. Os mesmos autores afirmam que ele esta contido nao apenas em documentos ou repositorios da organizacao, mas tambem em suas praticas, processos e normas.

    Por sua vez, Nonaka (2001), um dos maiores disseminadores do assunto, afirma que a maioria das organizacoes nao compreende adequadamente o que e conhecimento e o modo de explora-lo. A criacao de conhecimento na organizacao deve ser entendida como um processo que amplia, nela mesma, o conhecimento criado pelos empregados e sua cristalizacao no nivel coletivo por meio de dialogo, discussoes, compartilhamento de experiencias ou mesmo observacao (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). As organizacoes, quando dependentes de conhecimento, devem estimular os processos de aprendizagem. Existe, entao, por parte das organizacoes, a necessidade de criar, manter e estimular ambientes sociais condizentes com a aprendizagem organizacional.

    Argyris (2000) complementa que, apesar de as organizacoes dependerem cada vez mais do conhecimento para obterem sucesso, a maioria das pessoas nao sabe aprender. Segundo ele, as organizacoes compreendem mal o que e aprendizado e como promove-lo em seu ambiente. Alguns dos principais conceitos de aprendizagem organizacional estao relacionados de forma sintetica no Quadro 2, a seguir:

    Quadro 2--Principais autores que trabalham o conceito de aprendizagem organizacional Autores Conceito de aprendizagem organizacional Argyris e Schon (1978) Membros organizacionais detectam erros e os corrigem ao reestruturar a estrategia, permitindo que a organizacao alcance seus resultados. Fiol e Lyles (1985) Desenvolvimento de insights, conhecimentos e associacoes entre acoes passadas, a efetividade dessas acoes e Wiig (1994) Aquisicao de novos conhecimentos, que sao organizados, validados e integrados; conhecimentos relevantes sao distribuidos ao usuario final, para atingir a melhor vantagem. Prange (2001) A Aprendizagem organizacional busca identificar como as coisas funcionam, encontrando a maneira certa para lidar com os problemas. Elkjaer (2001) Processos de aprendizagem situada abordada como ferramenta gerencial, ou variavel que pode ser usada para estruturar organizacoes. Garvin (2002) Habilidade na criacao, interpretacao, transferencia e retencao de conhecimento, e, tambem, na modificacao real de seu comportamento para refletir novos insights. Senge (2002) Solucao de problemas organizacionais baseada no pensamento sistemico, pois resolver questoes localizadas apenas...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT